Maioria da bancada do RN votou a favor do arcabouço fiscal. Foto: Câmara dos Deputados
Maioria da bancada do RN votou a favor do arcabouço fiscal. Foto: Câmara dos Deputados

Na votação que resultou na aprovação do projeto do arcabouço fiscal (PLP 93/23), dos 8 deputados que compõem a bancada do RN, seis votaram a favor, um não votou e outro votou contra. Ao todo, o arcabouço fiscal foi aprovado com 379 votos a 64 contra.

Da bancada do RN, votaram a favor do arcabouço fiscal os deputados Fernando Mineiro (PT-RN), General Girão (PL-RN), João Maia (PL-RN), Natália Bonavides (PT-RN), Paulinho Freire (União-RN) e  Robinson Faria (PL-RN)

O deputado Benes Leocádio (União-RN) não teve voto registrado e o Sgt. Gonçalves (PL-RN) foi o único da bancada do RN que votou contra o arcabouço fiscal, novo regime fiscal para as contas da União, que vai substituir o atual teto de gastos públicos.

As surpresa da votação, dessa vez, ficou pelo posicionamento do deputado General Girão, que é do PL, partido do presidente Bolsonaro e também opositor ferrenho ao governo Lula. Além dele, outro integrante do PL, Robinson Faria, também votou a favor do projeto do governo.

Como a bancada potiguar votou o arcabouço fiscal. Foto: Reprodução/Câmara dos Deputados
Como a bancada potiguar votou o arcabouço fiscal. Foto: Reprodução/Câmara dos Deputados

Os parlamentares seguiram o parecer do relator, deputado Claudio Cajado (PP-BA), e deixaram de fora do limite de despesas do Poder Executivo os gastos com o Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF) e com o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

Esses itens constam de duas emendas, aprovadas por 379 votos a 64. Outra emenda aprovada na noite desta terça apenas fez ajustes de redação no projeto. De acordo com o texto, as regras procuram manter as despesas abaixo das receitas a cada ano e, se houver sobras, elas deverão ser usadas apenas em investimentos, buscando trajetória de sustentabilidade da dívida pública.

Assim, a cada ano haverá limites da despesa primária reajustados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e também por um percentual do quanto cresceu a receita primária descontada a inflação.

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Se o patamar mínimo para a meta de resultado primário, a ser fixado pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), não for atingido, o governo deverá, obrigatoriamente, adotar medidas de contenção de despesas.

A variação real dos limites de despesa primária a partir de 2024 será cumulativa da seguinte forma:

  • 70% da variação real da receita, caso seja cumprida a meta de resultado primário do ano anterior ao de elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA); ou
  • 50% do crescimento da despesa, se houver descumprimento da meta de resultado primário nesse mesmo ano de referência.

O resultado primário obtido poderá variar dentro de uma faixa de tolerância de 0,25 pontos percentuais (p.p.) do Produto Interno Bruto (PIB) previsto no projeto da LDO, seja para baixo ou para cima. Essa regra foi incluída na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Assim, será considerada meta descumprida se o resultado primário nominal ficar abaixo da banda inferior dessa faixa.

Por exemplo, para 2024 o projeto da LDO fixa meta de resultado primário igual a zero. O intervalo de tolerância calculado em valores nominais é de R$ 28,7 bilhões a menos (negativo) ou a mais, o que perfaz um PIB projetado de cerca de R$ 11,5 trilhões em 2024 (PLDO-2024).

Se o governo tiver déficit de R$ 30 bilhões em 2024, para 2026 poderá contar com 50% da variação real da receita, pois vale o resultado do ano anterior ao da elaboração da Lei Orçamentária: a de 2026 é feita em 2025.

Entretanto, nesse exemplo, já em 2025 o governo terá de aplicar medidas de contenção de gastos e contingenciamento do Orçamento.

Para evitar o engessamento da despesa, todo ano ela crescerá ao menos 0,6%, com base na variação da receita. Já o máximo de aumento será equivalente a 2,5%, mesmo que a aplicação dos 70% da variação da receita resulte em valor maior.

Para cada poder da União (Executivo, Legislativo e Judiciário), mais o Ministério Público e a Defensoria Pública, o projeto determina o uso de limites globais de despesa a partir de 2024.

Especificamente em 2024, o limite será igual às dotações constantes da Lei Orçamentária de 2023 mais os créditos adicionais vigentes antes da publicação da futura lei oriunda do projeto, tudo corrigido pela variação do IPCA e pelo crescimento real da despesa segundo a regra padrão.

Dessas dotações deverão ser excluídos vários tipos de despesas, a maior parte delas já de fora do teto de gastos atual.

Depois dos primeiros quatro meses de 2024, ao estimar a receita primária do ano e compará-la em relação àquela realizada em 2023, o governo poderá usar a diferença, em reais, de 70% do crescimento real da receita apurado dessa forma menos o valor estipulado na LOA 2024 para o crescimento real da despesa.

De qualquer modo, o valor será limitado a 2,5% de crescimento real da despesa.

No entanto, se o montante ampliado da despesa calculado dessa maneira for maior que 70% do crescimento real da receita primária efetivamente realizada no ano de 2024, a diferença será debitada do limite para o exercício de 2025.

De 2025 em diante, os limites de cada ano serão encontrados usando o limite do ano anterior corrigido pela inflação mais a variação real da receita, sempre obedecendo os limites inferior (0,6%) e superior (2,5%).

O texto aprovado estipula ainda que, respeitado o somatório dos limites individualizados, exceto o do Poder Executivo, a Lei de Diretrizes Orçamentárias poderá prever uma compensação entre os limites dos demais poderes, aumentando um e diminuindo outro.

Os limites individualizados de 2023, que servirão de referência para 2024, serão aqueles da Lei Orçamentária já publicada e não poderão ser ultrapassados por meio da abertura de crédito suplementar ou especial.

Seu cumprimento deverá considerar as despesas primárias pagas, incluídos os restos a pagar pagos (despesas pendentes vindas de outros Orçamentos) e demais operações que afetem o resultado primário do exercício.

Quanto aos investimentos, a cada ano eles deverão ser, no mínimo, equivalentes a 0,6% do PIB estimado no respectivo projeto da Lei Orçamentária Anual (LOA).

Para 2024, o PLDO já estima um PIB de R$ 11,5 trilhões, que, se mantido no projeto de Orçamento, daria cerca de R$ 69 bilhões em investimentos, os quais incluem aqueles usados a título de subsídio ou financiamento de unidades habitacionais novas ou usadas em áreas urbanas ou rurais.

Para os orçamentos de 2024 em diante, o projeto aprovado prevê mecanismo semelhante ao usado atualmente de correção pelo IPCA.

Arcabouço aprovado no Congresso prevê exceções à regra

Em razão de serem consideradas receitas imprevisíveis ou incertas, o texto deixa de fora do conceito de receitas primárias aquelas obtidas com concessões e permissões, de dividendos e participações, de exploração de recursos naturais e de transferências legais e constitucionais por repartição.

Nesse ponto, o relator incluiu ainda as receitas primárias obtidas com saldos de contas inativas do PIS/Pasep declarados abandonados por força da Emenda Constitucional 126, de 2022, e as receitas obtidas com programas de recuperação fiscal (Refis) criados após a publicação da futura lei complementar.

Para se encontrar a variação real da receita primária, o projeto prevê o uso dos valores acumulados nos 12 meses encerrados em junho (inclusive) do ano em que começou a tramitação da Lei Orçamentária.

Assim, por exemplo, para o Orçamento de 2024 a variação real de sua receita deve ser calculada em comparação aos valores de receita acumulados de julho de 2022 a junho de 2023, sempre descontados da inflação no mesmo período.

Despesas extrateto
Em relação às exceções vigentes ou propostas pelo projeto original, que deixam algumas despesas de fora para o cálculo dos limites, o texto aprovado recoloca dentro desses limites gastos como o complemento do piso da enfermagem e o aporte de capital para estatais.

Claudio Cajado manteve fora do limite as transferências legais a estados e municípios de parte da outorga pela concessão de florestas federais ou venda de imóveis federais em ocupação localizados em seus territórios, mas recusou a exceção para as despesas com a cobrança pela gestão de recursos hídricos a cargo da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).

Também ficarão de fora do limite as despesas com a quitação de precatórios usados pelo credor para quitar débitos ou pagar outorgas de serviços públicos licitados, por exemplo. Isso se aplica ainda aos precatórios devidos a outros entes federativos usados para abater dívida e outros haveres com a União.

Confira as demais exceções já vigentes:

  • transferências constitucionais e legais a estados e municípios e ao Distrito Federal, como as de tributos;
  • créditos extraordinários para despesas urgentes, como calamidade pública;
  • despesas bancadas por doações, como as do Fundo Amazônia ou obtidas por universidades, e por recursos obtidos em razão de acordos judiciais ou extrajudiciais relativos a desastres de qualquer tipo (por exemplo, Brumadinho);
  • despesas custeadas com receitas próprias ou convênios obtidas pelas universidades públicas federais, empresas públicas da União que administram hospitais universitários, pelas instituições federais de educação, ciência e tecnologia, vinculadas ao Ministério da Educação, estabelecimentos militares federais e demais instituições científicas, tecnológicas e de inovação;
  • despesas da União com obras e serviços de engenharia custeadas com recursos transferidos por estados e municípios, a exemplo de obras realizadas pelo batalhão de engenharia do Exército em rodovias administradas por esses governos;
  • pagamento de precatórios com deságio aceito pelo credor;
  • parcelamento de precatórios obtidos por estados e municípios relativos a repasses do antigo Fundef; e despesas não recorrentes da Justiça Eleitoral com a realização de eleições.

General Girão envia nota para explicar voto

Após as informações dadas pela Câmara dos Deputados sobre o voto do deputado General Girão, ele enviou uma nota para falar sobre o assunto. Confira a íntegra da explicação:

“O Deputado General Girão informa que, em relação ao PLP nº 93/2023 (Arcabouço Fiscal), votou de forma contrária à proposição.

A votação do Projeto de Lei Complementar na Câmara dos Deputados, que é a Casa Iniciadora do processo legislativo, ocorreu no mês de maio de 2023, e o voto do Dep. General Girão foi “NÃO”, isto é, pela rejeição do projeto.

Essa informação pode ser conferida no site da Câmara dos Deputados, ao se pesquisar pela lista de votação nominal iniciada às 23h12 do dia 23/05/2023. Na mesma circunstância, posicionou-se no mesmo sentido em diversas votações de emendas e destaques.

Aprovado na Câmara dos Deputados, o PLP nº 93/2023 foi remetido ao Senado Federal, Casa Revisora, onde seu texto também foi aprovado em 21/06/2023, com algumas emendas.

Como houve modificações pontuais, o projeto retornou à Câmara dos Deputados para apreciação dessas emendas. Assim, na data de ontem, o Deputado General Girão votou “NÃO” pela rejeição de algumas emendas e “SIM” pela aprovação de outras.

A Emenda n. 4 do Senado Federal, que trata de excluir dos limites de despesas primárias as complementações ao Fundeb (art. 212-A, IV e V da Constituição Federal), contou com o voto “SIM” do Deputado General Girão, inclusive em consonância com a “liberação da bancada” pelo Partido Liberal.

O voto de Dep. General Girão se somou ao voto de outras dezenas de deputados federais que, como ele, também fazem oposição ao Arcabouço Fiscal.

Em relação à questão do Fundeb, o Dep. General adotou o posicionamento que entende ser mais salutar ao financiamento e à promoção da educação básica no Brasil, especialmente no que diz respeito à defesa dos interesses dos Municípios nessa missão constitucional.”