Vídeo comprova que o potiguar Fábio Faria participou de reunião na qual foi discutida possibildiade de golpe de estado, de acordo com a PF. Foto: Reprodução
Vídeo comprova que o potiguar Fábio Faria participou de reunião na qual foi discutida possibildiade de golpe de estado, de acordo com a PF. Foto: Reprodução

O ex-ministro das Comunicações, o potiguar Fábio Faria, estava presente na reunião que embasa a investigação da Polícia Federal sobre tentativa de golpe de Estado e que foi promovida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro no dia 5 de julho de 2022. A presença do ex-deputado federal pelo RN pôde ser comprovada na manhã desta sexta-feira (9) após o Supremo Tribunal Federal liberar a íntegra do vídeo que mostra tudo o que foi debatido na reunião.

O vídeo, gravado em 5 de julho de 2022, é uma das provas apresentadas ao STF no âmbito da Operação Tempus Veritatis, deflagrada na quinta-feira (8) pela Polícia Federal para investigar uma suposta organização criminosa cuja atuação teria resultado na tentativa malsucedida de golpe de Estado no 8 de janeiro de 2023.

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Até o momento não há informações sobre qualquer investigação envolvendo o ex-ministro na tentativa de golpe de estado. Nem a presença dele na reunião implica cometimento de crime. Apenas revela que desde 5 de julho ele tinha conhecimento do teor das conversas agora reveladas e quem embasam a investigação da PF sobre a tentativa de golpe de Estado no Brasil. O futuro da investigação é que revelará se todas as pessoas presentes serão ou não investigadas por alguma irregularidade.

O NOVO tentou contato com o ex-ministro para saber se ele teria algo a dizer sobre sua participação na reunião que baseia a investigação sobre tentativa de golpe de Estado no Brasil, mas não conseguiu contatá-lo. O espaço segue aberto para que ele fale sobre o assunto e também como vê as recentes denúncias e implicações com relação a um governo do qual participou.

Assista a íntegra do vídeo:

Fábio Faria aparece na parte direita do vídeo. Ele é o 5º sentado na mesa, após os ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira; o ex-ministro da Economia, paulo Guedes; e o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. O vídeo que comprova a participação do ex-ministro do Rn na reunião que discutiu um golpe de Estado no Brasil tem 1 hora e 33 minutos de duração.

Pelo vídeo é possível perceber que Fábio Faria não está na reunião que discutiu o golpe desde o início da gravação. Ele aparece a primeira vez aos 15 minutos e 5 segundos, cumprimenta uma pessoa que parece ser ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga e senta. Nesse momento o ex-presidente Bolsonaro está falando que marcou a reunião com os embaixadores e em sequência afirma: “Não tem como esse cara (Lula) ganhar essa eleição no voto. Não tem como!”

Em seguida é passado para os presentes um vídeo com informações envolvendo o então candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na retomada de sua fala, Bolsonaro reafirma as informações vídeo. “Nós sabemos que se a gente reagir só depois das eleições, vai ter um caos no Brasil. Vai virar uma grande guerrilha. Agora, alguém tem dúvida que a esquerda está indo eles vão ganhar as eleições?”

Um detalhe interessante é que em dado momento — por volta dos 41 minutos das gravação — Jair Bolsonaro cita uma reunião com seus ministros para a qual o STF mandou divulgar as gravações. E diz: “Foi uma reunião reservada, infelizmente nos obrigaram a divulgar a fita porque do contrário diriam que a gente está escondendo provas. Igual aqui. Se for gravado. problema meu se for divulgado ou não”, referindo-se à reunião que estava acontecendo naquele 5 de julho.

Veja o momento (se o vídeo não carregar no momento exato, basta arrastar o cursor para o ponto indicado 41:00:00)

Após o ex-presidente, quem toma a palavra é o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres. A introdução da fala dele resume bem o teor e as intenções da reunião: “Tem alguns que estão participando pela primeira vez aqui e não sei nem se têm estrutura para para ouvir o que estamos dizendo aqui, com todo respeito. Mas queria colocar uma frase aqui do presidente: ‘todos vão se foder’”.

E acrescenta, se dirigindo aos ministros e demais presentes: “Eu quero que cada um pense no que pode fazer previamente. Todos vão se foder.” Quando retoma a palavra, Bolsonaro é mais enfático no que é preciso fazer para conseguir sua reeleição: “Só com papel e caneta a gente não vai ganhar essa guerra. A gente tem de ser mais contundente, como eu vou começar a ser com os embaixadores. Porque se aparece o Lula com 51%, acabou porra. Daqui até a gente reagir vai ser um caos, vai pegar fogo o Brasil”.

E também insiste com teoria de que as urnas foram fraudadas no Brasil, algo que jamais foi comprovado. Nas próprias mensagens do Coronel Mauro Cid reveladas na quinta-feira (8) é dito que o grupo de Jair Bolsonaro jamais conseguiu prova de tais fraudes.

Aos 58 minutos e 15 segundos, quem começa a falar é o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.

Assista (se o vídeo não carregar no momento exato, basta arrastar o cursos para o ponto indicado 58:15:00)

Bolsonaro negou que a reunião estivesse sendo gravada

Outro ponto que se destaca é que com 1 hora e 13 minutos de gravação um dos presentes, defende que era preciso atuar em força tarefa “nesse negócio”. E então pergunta: “A reunião está sendo gravada? Hein presidente, a reunião está sendo gravada?”.  Com as mãos, Bolsonaro e Walter Braga Neto fazem o sinal de negativo. E Bolsonaro afirma: “Não. Eu mandei gravar a minha fala”.

Assista (se o vídeo não carregar no momento exato, basta arrastar o cursor para o ponto indicado 01:13:00)

A partir daí o ex-presidente se irrita ao saber que um relatório sobre a segurança das urnas já havia sido publicado e assinado pelo ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União (TCU). E fala sobre a necessidade de uma nota conjunta contestando a segurança das urnas e faz afirmações sobre ministro do STF.

“Pessoal, perder uma eleição não tem problema nenhum. Nós não podemos é perder a democracia numa eleição fraudada! Olha o Fachin. Os cara não têm limite. Eu não vou falar que o Fachin tá levando 30 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. O que o Barroso tá levando R$ 30 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. Que o Alexandre de Moraes tá levando 50 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. Não vou levar pra esse lado. Não tenho prova, pô! Mas algo esquisito está acontecendo ( … )”.

“Então tem de ser antes. Como nós queremos, dentro de um estado de normalidade”

Em outro trecho, quando o vídeo marca 1 hora e 28 minutos, o então chefe-substituto da Secretaria-Geral da Presidência da República, general General Mário Fernandes, defende que numa próxima reunião eles já deveriam discutir uma alternativa para manter o atual governo no Poder. “O que é que vai acontecer? É 64 de novo? É uma junta militar? É um atraso de tudo que se avançou no País? Porque isso vai acontecer. O País vai ser todo desarticulado. Então tem de ser antes, como nós queremos, dentro de um estado de normalidade”, afirma.

E complementa: “É melhor assumir um pequeno risco e conturbar o País pensando assim, para que aconteça antes do que assumir um risco muito maior da conturbação no the day after. Quando a fotografia foi de quem a fraude determinar”

Assista (se o vídeo não carregar no momento exato, basta arrastar o cursor para o ponto indicado 01:28:13)

A partir daí quem assume a fala é o ex-ministro do gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno Ribeiro Pereira. Ele discorre sobre a necessidade de infiltrar pessoas da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) para “acompanhar o que os dois lados estão fazendo”.

Quando Augusto Heleno começa a explicar o que faria caso a participação da ABIN vazasse, Bolsonaro o interrompe e diz que ele não continue. E que isso pode ser conversado em separado. O chefe do GSI então prossegue: “Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”.

E afirma: “Eu acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro“.

Assista (Assista (se o vídeo não carregar no momento exato, basta arrastar o cursor para o ponto indicado 01:30:39)

De acordo com a decisão que autorizou as operação “Tempus Veritatis”, dada pelo ministro Alexandre de Moraes, “a descrição da reunião de 5 de julho de 2022, nitidamente, revela o arranjo de dinâmica golpista, no âmbito da alta cúpula do governo, manifestando-se todos os investigados que dela tomaram parte no sentido de validar e amplificar a massiva desinformação e as narrativas fraudulentas sobre as eleições e a Justiça eleitoral, entre outras, inclusive lançadas e reiteradas contra o então possível candidato Luiz Inácio Lula da Silva, contra o Tribunal Superior Eleitoral, seus ministros e contra ministros do Supremo Tribunal Federal”.

Fábio Faria pediu revisão das inserções de rádio. Depois arrependeu-se

No dia 24 de outubro de 2022, cerca de 3 meses e meio após a reunião de julho, o então ministro das Comunicações do governo Bolsonaro, o potiguar Fábio Faria, concedeu ao lado do ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten, uma entrevista coletiva na qual afirmou que a campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro estava sendo fraudada.

“De 7 a 21 [de outubro], a campanha do presidente Jair Bolsonaro teve a menos no Brasil 154.085 inserções de rádio. Isso é uma grave violação do sistema eleitoral. Esses dados já estão coletados, já fizemos dupla checagem”, disse na época. Uma denúncia sobre o caso foi apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

No dia 26 de outubro, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, negou o pedido da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) para investigar a alegação de irregularidades em inserções eleitorais por emissoras de rádios.

No dia 28 de outubro, o então ministro das Comunicações concedeu nova entrevista dizendo-se arrependido de ter apresentado a denúncia sobre suposta falha na veiculação de inserções de rádio da campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O arrependimento bateu após o tema passar a ser usado por bolsonaristas para pedir o adiamento da eleição. “Entrei nesse tema para resolver inserção via inserção, para tentar mediar um acordo entre o TSE e a campanha. Quando esse assunto escalou, eu saí. Eu me arrependi porque o assunto escalou”, disse o ministro em entrevista ao jornal O Globo.

Fábio Faria deixou o governo Bolsonaro em 21 de dezembro de 2022. Após o fim do governo Bolsonaro, Fábio Faria deixou a política e foi se dedicar à sua carreira empresarial.

Recentemente, há cerca de uma semana, em uma rede social uma publicação chamando a atenção para a necessidade de saber conviver com as diferenças. “Precisamos saber conviver com as diferenças e com os diferentes e termos cuidado com quem chacoalha o pote!!”.

Esta semana o ex-ministro não fez nenhuma manifestação pessoal sobre a investigação envolvendo ex-companheiros de governo e o ex-presidente Jair Bolsonaro.

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