COLUNA VINHO E GASTRONOMIA – POR RODRIGO LIMA

Mudanças climáticas: Mais gelo, menos vinho!

A produção vinícola francesa já viu dias melhores. Graças às mais fortes geadas dos últimos 40 anos, produtores Franceses estão enfrentando enormes prejuízos. Estima-se que as perdas iniciais sejam de 30% da produção em Bordeaux, 40% no Languedoc e que chegue a 50% na Borgonha. Os produtores locais já contabilizam prejuízos na casa dos 2,5 bilhões de Euros e pelo menos 2 bilhões de garrafas a menos este ano. A Safra de 2021 deve ser a menor da última década: em vez dos mais de 5 bilhões de litros de vinho produzidos por ano, a França deve chegar a pouco mais de 3 bilhões de litros com as perdas nos parreirais. O gelo das chamadas “Geadas de Primavera” na Europa queima as videiras e os bagos (caso estes já tenham eclodido nas parreiras), congela os brotos e atrasa a maturação da uva. O país declarou situação de desastre agrícola, que abre a possibilidade de os produtores pagarem menos impostos e receberem ajuda financeira, contudo, diante de tal situação os vinhos das grandes apelações, bem como os grandes Chateaux devem ficar mais caros e raros.

Top 10 – Os maiores consumidores de vinho

Levantamento da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), que tem sede em Paris, revelou que os países que mais beberam vinho em 2020. De acordo com o órgão, o consumo mundial no ano passado foi de 234 milhões de hectolitros. Em termos de valor real de mercado, a OIV estima que as exportações totais dos países produtores de vinho chegaram a 29,6 bilhões de Euros. Os EUA encabeçam a lista dos países que mais degustaram a bebida no ano passado, com 33 milhões de hectolitros consumidos, seguido pela França, com 24,7, e da Italia, com 24,5. Alemanha, Grã-Bretanha, China, Rússia, Espanha, Argentina e Austrália completam o top dez dos maiores consumidores. O Brasil ficou com a 13ª posição, com 4,3 milhões de hectolitros, um crescimento de mais de 18% em comparação a 2019.

Vinho da Semana

Loma Gorda Garnacha Tempranillo D.O.P 2015 750 ML

Natural de Calatayud – Espanha – este pontuado vinho é de extrema elegância! Com seis anos da safra, o vinho apresenta bom potencial de envelhecimento, demonstrando aromas acentuados de frutas vermelhas frescas, e notas de cedro e chocolate. No paladar apresenta grande estrutura, com boa persistência gustativa que confirma o olfato. Os taninos são aveludados e o final longo. 77% Garnacha e 23% Tempranilho – Bodegas San Gregorio – Grand Cru Importadora – R$ 144,90. 

Descolonizando a Cozinha Brasileira

As embarcações Portuguesas que chegaram ao território brasileiro no Descobrimento traziam alguns mantimentos que restaram das viagens, estes vindos diretamente de Portugal, entre eles: biscoitos, peixes salgados (bacalhau, claro), farinha e carnes conservadas em banha. Aqui, comiam majoritariamente os alimentos trazidos da Europa e, à medida que se estabeleceram no país, criaram um fluxo de ingredientes que transformou toda a nossa alimentação e agricultura, tal como conhecemos.

Embora os europeus tenham levado do nosso continente alimentos que se tornaram a base de suas culinárias, como o tomate, a batata e o milho, também trouxeram para a América muitos de seus ingredientes. Ou, como mostra a história, os impuseram, bem como uma dieta que passou a vigorar nas colônias seguindo os hábitos do Velho Continente.

Essa “colonização gastronômica” perdura até os tempos atuais, em parte porque tivemos a nossa cultua alimentar alicerçada nas bases culturais europeias, e por outro lado, por termos rebaixado nossos ingredientes, técnicas de preparo e hábitos alimentares nativos, comportamento que paulatinamente vem sendo mudado com a ajuda de uma legião de chefs de cozinha talentosos.

Muito se fala sobre os efeitos e consequências do processo de colonização do Brasil na nossa história política, econômica e social e porque não pensamos nas consequências que elas tiveram na nossa cultura alimentar, o que inclui o gosto e a forma de comer e preparar os alimentos.

Sofremos com todo esse processo, um profundo e histórico olhar negativo à nossa cultura alimentar, de certa forma nos foi negado o que era nosso, nos foi ensinado que o que vinha de fora era melhor. Agora, a emancipação da gastronomia brasileira passa por mostrar que as tradições nativas constituem um valor alimentar enorme para o nosso povo, no prato e na sociedade.

Expoentes nesses processo não nos faltam, grandes chefes de cozinha tem feito o caminho da descolonização, claro que com o emprego de técnicas gastronômicas, mas com um olhar voltado a valorizar nossos ingredientes, nossa cultura alimentar e  nossa brasilidade.