Via Costeira – Foto: Ney Douglas/Arquivo/Novo Jornal

O processo de revisão do Plano Diretor de Natal (PDN) segue sendo aguardado para votação na Câmara Municipal de Natal. Enquanto não chega para a apreciação dos vereadores, o projeto continua sendo alvo de diversos questionamentos com relação às mudanças propostas para a capital potiguar.

Pensando em dar luz a alguns desses pontos, o NOVO conversou com um especialista no assunto para esclarecer alguns pontos que podem ser levados em consideração na revisão do Plano Diretor para melhorar a qualidade de vida dos natalenses. Rubens Ramos, professor titular de Engenharia Civil e Transportes da UFRN, é incisivo ao falar sobre o projeto, que para ele até tem pontos de avanço, mas que o conjunto da obra ainda é ruim para a cidade.

“Eu diria que a minuta do Plano Diretor de Natal produzida até aqui não é um plano, nem dirige para lugar nenhum. Um plano deve ter um objetivo. O que está proposto até aqui é um plano sem objetivo”, diz o professor Rubens Ramos.

Um dos pontos mais controversos da proposta de revisão do Plano Diretor é a que trata da orla marítima. É comum encontrar discursos contrários à verticalização, que na maior parte das vezes são justificados com o possível aumento da temperatura da cidade e com a privação da visualização do cenário paisagístico. Sobre esse assunto, Rubens Ramos falou de pontos específicos, começando por Ponta Negra, que diferente do que muita gente pensa, não deve ter potencial de privar a vista da paisagem formada pela orla, mar e Morro do Careca.

“Não há na minuta nenhuma intenção de verticalizar Ponta Negra na parte abaixo da Roberto Freire. Ela fica como está hoje”, diz Rubens, que continua: “para a parte de cima, aumenta-se o coeficiente de construção para 4,5 e 5,0 e isso é muito bom para Ponta Negra. Para se ter uma ideia, os hotéis e flats que surgiram na parte de cima, e que hoje dão um ar de prosperidade a Ponta Negra, foi com uso de coeficiente 3,5,” O coeficiente de construção citado pelo professor é um número que, aplicadas determinadas regras matemáticas, vão determinar a área máxima a ser construída em cada lote.

Para a área da Via Costeira, dois pontos são considerados de extrema importância: a verticalização dos hotéis e a possibilidade da via se tornar também uma área residencial. “Sem ocupação residencial, a Via Costeira terá muita dificuldade em se desenvolver. Talvez, aqui, a verticalização dos hotéis possa dar outra perspectiva ao modelo atual, o qual fracassou”, pontua Rubens Ramos, que completa dizendo que a verticalização “daria o mesmo impulso à hotelaria que teve Ponta Negra”.

Outro ponto da orla comentado é o da Redinha. Segundo o professor Rubens, a atual minuta condena a localidade à miséria e abandono. Ele critica o projeto que, na prática, permite apenas construções de casas, tornando inviável a chegada de qualquer hotel na Redinha, o que ignora o papel central do turismo, que é fazer de Natal uma cidade próspera. Rubens Ramos classifica o proposto para a Redinha como um “erro estratégico grave”.

A verticalização traz também uma discussão sobre o aquecimento da cidade. O professor Rubens diz que essa hipótese não tem base científica, e justifica que o aumento do gabarito – altura permitida para construção de prédios – pode fazer exatamente o efeito oposto, ajudando a capturar e conduzir o ar mais fresco de cima para baixo, desde que haja um espaçamento adequado entre os prédios.

”O que temos que realmente discutir não é a altura dos prédios, mas o espaçamento entre eles, para permitir uma adequada circulação dos ventos que passam por Natal. Verticalizar melhora a ventilação da cidade. Colar prédios, não. A discussão, a meu ver, seria por definir uma densidade de prédios por região e os recuos necessários calculados cientificamente. A altura é irrelevante”, completa o professor Rubens Ramos.