Cidade Alta tem sofrido jnos últimos anos com o fechamento de lojas. Foto: Jaqueilton Gomes/NOVO
Cidade Alta tem sofrido jnos últimos anos com o fechamento de lojas. Foto: Jaqueilton Gomes/NOVO

Um dos bairros mais tradicionais de Natal, a Cidade Alta, sempre foi conhecida pela intensa atividade comercial que se desenvolve nas avenidas, travessas e ruas do bairro histórico da capital potiguar. No entanto, há alguns anos, os comerciantes da região vêm reclamando da constante redução do movimento, o que tem impactado as vendas e resultado no fechamento de diversos empreendimentos.

Gillefrance Matias, conhecido como Gil, mantém um empreendimento no bairro há anos, e até conseguiu expandir as suas vendas de acessórios para celular abrindo outros dois pontos, mas conta que, no geral, a situação não é boa para os empreendedores do bairro.

“O movimento diminuiu, e diminuiu muito. Aqui na Cidade Alta, de uns anos para cá, acho que caiu em torno de 50% das vendas, principalmente no mercado geral”, conta Gil Matias, que tenta justificar: “isso também é devido aos aluguéis cada vez mais altos, e as pessoas não vêm aguentando. E sem a influência do poder público, a impressão que se tem é que a Cidade Alta está sendo abandonada”.

Apesar de constatada por quem vive diariamente na Cidade Alta, essa realidade é contestada pela Junta Comercial do Estado do Rio Grande do Norte (Jucern). De acordo com o presidente do órgão, Carlos Augusto Maia, a situação do bairro atualmente não é de diminuição do movimento, mas de uma mudança de perfil da localidade, o que tem afastado alguns empreendimentos e atraído outros.

“Essa questão de diminuição no movimento não reflete o que nós achamos. Estamos constatando exatamente o contrário na Cidade Alta, que tem sido mais pujante a cada ano. Porém, com uma diferença. A Cidade Alta tem passado por uma mudança de perfil. Tradicionalmente ela tinha um perfil comercial, só que nos últimos anos temos percebido uma mudança para o setor de serviços”, explica Carlos Augusto Maia, presidente da Jucern.

O comerciante Gillefrance Matias chega até a concordar que o perfil esteja mudando, mas ele atribui esse movimento a uma tentativa dos empreendedores locais de fazer sobreviver o seu negócio naquele espaço.

“Isso pode fazer sentido (mudança de perfil), mas eu acho que muita gente está mudando para a prestação de serviços. E isso pode ajudar justamente, porque para ter o público de vendas, precisamos de gente na Cidade Alta, e esse povo que vem em busca do serviço é quem também vai comprar”, explica Gillefrance Matias.

De acordo com o gestor da Jucern, essa percepção não é fruto apenas de achismo. Os dados da Junta mostram números que apontam para essa mudança citada por Carlos Augusto Maia para justificar a aparente diminuição do movimento na localidade.

“Essa mudança a gente sentiu aqui nos números da Junta Comercial de forma gritante”, diz Carlos Augusto que completa: “A Cidade não perdeu a característica empresarial. Ela perdeu a característica comercial, mas ganhou uma característica de oferecimento de serviço”.

Os números aos quais o presidente da Jucern se refere estão em um relatório de análise da movimentação empresarial na Cidade Alta no período entre 2019 e 27 de abril de 2023.

O documento mostra que nesse período foram abertas 1.248 empresas no bairro, sendo 752 do setor de serviços, que representa 60,3% de todos os novos empreendimentos do local.

Já o comércio abriu 368 pontos, representando 29,5%, e a indústria representa 10,2% com 128 abertura. Esses números consideram empresas de todos os portes, inclusive os microempreendedores individuais, os conhecidos MEIs.

Obras públicas na Cidade Alta são esperança para comerciantes

A Junta também registrou a quantidade de fechamentos nesse período. No total, foram 650 portas fechadas desde 2019 até o fim do mês de abril deste ano. O setor de serviços fechou 341, o comércio 256 e a indústria 53.

Se compararmos o número de aberturas e fechamentos, cerca de 55% dos empreendimentos de prestação de serviços abertos seguem funcionando na Cidade Alta, enquanto apenas 31% das empresas de comércio sobreviveram. Já a indústria mantém pouco mais de 58% das empresas abertas funcionando. No geral, o saldo é de 598 novas empresas no bairro, sendo 411 de serviços, 112 de comércio e 75 indústrias.

A esperança de que o comércio na Cidade Alta volte a aquecer reside também no investimento do poder público no bairro. A Prefeitura de Natal está investindo cerca de R$ 25 milhões na recuperação da rua João Pessoa, que corta a avenida Rio Branco, a mais movimentada da região.
Ruas históricas do bairro passaram por obras de recuperação, com o intuito de ajudar a manter qualidade na mobilidade urbana local.

Outro projeto destacado pelo município foi o de construção de novas calçadas na avenida Rio Branco. Os instrumentos de passeio público passaram por reestruturações e adaptações para promover maior segurança aos pedestres, bem como a instalação de ciclovias e novas áreas de estacionamento.