Moradores do Bom Parto, um dos bairros de Maceió sob risco de tragédia devido à extração de sal-gema pela Braskem. Foto: Guido Jr./FotoArena/Estadão Conteúdo
Moradores do Bom Parto, um dos bairros de Maceió sob risco de tragédia devido à extração de sal-gema pela Braskem. Foto: Guido Jr./FotoArena/Estadão Conteúdo

Os moradores de Maceió estão se preparando para uma possível tragédia: o colapso iminente de uma mina de sal-gema da Braskem. A Defesa Civil emitiu na quinta-feira (30) um alerta máximo para moradores do bairro Mutange, que os obrigou a deixar suas casas às pressas – mesmo que sob força policial.

O órgão informou que um colapso da mina 18 pode ocorrer a qualquer momento, e que esse episódio poderia provocar a abertura de uma cratera. Moradores da região protestaram pela remoção ter sido determinada em cima da hora e com falta de clareza sobre quais serão os próximos passos e se eles receberão indenização da empresa.

Um hospital no bairro Pinheiro, vizinho ao Mutange, também foi evacuado na noite de quinta-feira como precaução. A cidade decretou na quarta-feira situação de emergência. Nesta sexta, o governo federal chancelou a medida. Com isso, a cidade deverá receber repasses federais de forma simplificada.

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Os ministros do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, e dos Transportes, Renan Filho, também visitaram Maceió com uma equipe de técnicos para monitorar a situação. Em uma rede social, Renan Filho disse que a empresa precisa ser responsabilizada pela situação.

“Não é hora de atribuir responsabilidade a quem não deve. A Braskem precisa ser responsabilizada civil e criminalmente pelo crime ambiental cometido em Maceió, garantindo a reparação aos danos materiais e ambientais causados aos maceioenses”, disse.

Dias também se manifestou sobre a gravidade da situação. “O cenário é grave, estamos falando de abalos sísmicos, bairros afundando, consequências de um possível crime socioambiental. O MDS está atento para acompanhar de perto a situação e prestarmos a assistência necessária para ajudar no que for preciso”, escreveu.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) vai acompanhar a situação emergencial decretada em Maceió pelo afundamento de uma mina de exploração de sal-gema da Braskem.

De acordo com o CNJ, o agravamento da situação será analisado pelo Observatório de Causas de Grande Repercussão, órgão que tem a função de monitorar processos sobre desastres e demais questões com grande repercussão.

Veja abaixo um vídeo feito por moradora da área que está impedida de entrar em casa:

Como o problema em Alagoas começou

O risco apresentado pelas minas de sal-gema em Maceió já é conhecido há vários anos. O minério, utilizado para a produção de soda cáustica e PVC, começou a ser extraído da região no final da década de 1970, pela então Salgema Indústrias Químicas S/A, em minas localizadas a cerca de 1.200 metros abaixo da superfície. Para retirar o minério, a empresa injetava água na camada de sal e extraía a salmoura resultante.

Depois, reinjetava líquidos no local para estabilizar o solo. Porém, as minas apresentaram vazamentos. Em 2018, grandes rachaduras começaram a aparecer no bairro do Pinheiro e tremores de terra foram registrados. No ano seguinte, um órgão do governo federal, o Serviço Geológico do Brasil, confirmou que as minas de sal-gema estavam provocando a instabilidade.

Há, no total, 35 minas na capital alagoana, que foram desativadas em 2019. Desde junho de 2019, mais de 14 mil imóveis de cinco bairros de Maceió tiveram que ser desocupados devido à instabilidade do solo, criando ruas fantasmas onde antes moravam 55 mil pessoas. A Braskem vem realizando intervenções para tentar estabilizar as cavernas criadas para extração do minério, mas, em novembro, cinco tremores de terra foram registrados na região.

Qual é o risco no momento

Autoridades locais avaliam que há grande chance de a mina 18, no bairro do Mutange, colapsar a qualquer momento. O prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, afirmou à emissora CNN Brasil que, na manhã da sexta-feira, a região estava afundando cerca de 5 centímetros por hora. Ele falou que a cidade está próxima de viver “a maior tragédia urbana do mundo em curso”.

A mina 18 fica parte sob a lagoa Mundaú e parte sob o bairro do Mutange. A Defesa Civil estima que, no momento em que a mina ceder, uma cratera deverá ser criada e preenchida com águas da lagoa. É possível também que toda a cidade de Alagoas sinta um tremor de terra no momento do colapso.

Mas, segundo o órgão, a magnitude do tremor não deve afetar prédios com estruturas saudáveis. Como a Braskem se posiciona A Braskem afirmou em nota que reconhece o crescente risco no local e afirma estar tomando todas as medidas cabíveis para reduzir seu impacto, e que segue monitorando e compartilhando os dados com as autoridades.

Segundo a empresa, os dados atuais de monitoramento demonstram que a acomodação do solo segue concentrada na área dessa mina e que essa acomodação poderá ocorrer de forma gradual até a estabilização ou de maneira abrupta. A empresa vem indenizando os moradores obrigados a se realocar, nos termos de um acordo assinado em janeiro de 2020 com Ministério Público Federal, Ministério Público do Estado de Alagoas, Defensoria Pública da União e Defensoria Pública do Estado de Alagoas.

Segundo a Braskem, em outubro, 17.828 indenizações já haviam sido pagas, e o montante desembolsado em indenizações e auxílios financeiros somava R$ 3,85 bilhões.

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