Geraldo Pinheiro é médico psiquiatra e escreve para o NOVO quinzenalmente.

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Opinião

Artigo Oração por Francisco

Por que será que este homem, latino-americano, argentino, conseguiu encantar povos de todas as nações e até de religiões diferentes do catolicismo?

por: Geraldo Pinheiro, psiquiatra

Publicado 25 de abril de 2025 às 19:37

Muito obrigado. Muitíssimo obrigado por você ter existido, Papa Francisco.

Nós vivemos numa sociedade em que, infelizmente, é considerado normal que as pessoas que tenham certo grau hierárquico em suas respectivas funções sejam portadoras de algum grau de arrogância, empáfia. Não é difícil de verificar isso nos médicos, nos juízes, nos políticos, assim como nos setores eclesiásticos mais superiores; claro que há exceções a essa regra.

Pois Jorge Mario Bergoglio se tornou o homem a ocupar a mais alta hierarquia da igreja católica – a religião católica, juntamente com o islamismo, são as religiões de maior número de seguidores no mundo. Para os católicos, ele ocupou o mais alto “cargo” dessa religião. Dessa forma, seguindo a regra geral de o indivíduo ter arrogância proporcional ao nível da função em que se encontra, esperaríamos que o Papa Francisco fosse um homem de poucos sorrisos. Porém, não foi assim.

Todavia, dizer que ele foi um homem simpático é muito pouco para dizer o que foi o Papa. Acredito que, ao lermos o Sermão da Montanha – uma síntese dos principais ensinamentos de como devemos viver, segundo Jesus Cristo – perceberemos que este papa tentou se aproximar do que o Cristo queria.

Por que será que este homem, latino-americano, argentino, conseguiu encantar povos de todas as nações e até de religiões diferentes do catolicismo? Para responder a essa pergunta, poderíamos escolher vários caminhos: porque ele era simpático, porque ele era atencioso, porque ele pedia a paz, porque ele tentou corrigir problemas que havia na igreja, porque ele se preocupava com os que sofrem por fome e por doença… Claro que todos esses são bons motivos e a lista não está completa. Mas eu diria que ele tinha dois dons que fizeram dele ainda mais carismático e querido: a capacidade de demonstrar misericórdia e compreensão.

Claro que nunca conversei com ele e é claro que quase todos os que estão o aclamando por ocasião do seu falecimento nunca conversaram com ele, nem o conheciam pessoalmente. Então, como perceber esse dom da misericórdia e da compreensão que certamente Francisco tinha? Pelas ações, pelas falas. O próprio Cristo, no Sermão da Montanha já citado, não dizia que “pelos frutos, conhecereis as árvores”? Pois Francisco foi uma árvore que deu belos e vistosos frutos.

Porém, além das ações e das palavras, também havia o olhar. Na Psiquiatria, nos contextos da Saúde Mental, aprendemos a desenvolver mais empatia pelas pessoas, pelos que sofrem; e essa manifestação de empatia costuma ser veiculada, dentre tantos meios, pelo olhar, pela expressão facial que devolvemos para cada um que nos procura.

Pois o Papa Francisco foi esse homem que demonstrou compaixão, misericórdia, compreensão pelas pessoas, pelo mundo e é isso que todos nós queremos; todos queremos ser compreendidos, Francisco. E você, que morreu em um 21 de abril, data tão marcante na História do nosso Brasil, desde Tiradentes e Tancredo Neves (personagens de grande simbolismo para os brasileiros, também falecidos em 21 de abril), nos entregou o que queríamos de um papa. Parabéns pela vida e, mais uma vez, obrigado.

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