Presidente Donald Trump - Daniel Torok/Official White House
Estudante potiguar na Universidade de Harvard narra tensões e angústias diante das medidas perpetradas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra os estrangeiros matriculados na instituição de ensino.
Publicado 9 de junho de 2025 às 15:30
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem aumentado as restrições à entrada e permanência de estudantes estrangeiros no país. Na semana passada, mais uma decisão polêmica movimentou o cenário: Trump publicou ordem proibindo a Universidade de Harvard de admitir alunos de outros países. A Casa Branca acusa a instituição de facilitar a entrada de “adversários estrangeiros”. O NOVO Notícias entrevistou um potiguar matriculado no prestigiado campus instalado na cidade de Cambridge, estado de Massachusetts, para falar das angústias e das tensões entre a comunidade acadêmica internacional. O nome dele será preservado devido à série de perseguições e represálias que os estudantes relatam sofrer nas últimas semanas — inclusive com fiscalizações em postagens nas redes sociais.
Momentos de tensão no campus
“A forma como essas medidas impactaram a mim e aos meus colegas é um clima de tensão, porque a gente fica sem saber se pode sair do país correndo risco de não voltar. No meu caso, o problema seria porque ele revogou o privilégio de Harvard de patrocinar os vistos de estudantes estrangeiros e aí, nesse sentido, eu poderia perder o status de imigrante legal, e ninguém quer que aconteça isso, porque a maneira como eles vêm tratando os imigrantes ilegais tem sido bastante violenta. E perder esse status de imigrante legal seria um risco muito grande para mim e para outros colegas também. Colegas desistiram de visitar suas famílias na China, na América Latina, na África, por conta dessas situações, e muitos estão apreensivos, querendo saber se vão enfrentar problemas na migração para voltar ou não”, explicou o universitário.
Vigilância dos estudantes
O aluno de Harvard afirma que as mudanças na regra de vistos dizem respeito a uma política de vigilância em cima dos estudantes internacionais, no sentido de saber quais os que se mobilizaram a favor da Palestina, quais os que publicam coisas contra ou a favor do governo, ou dos próprios Estados Unidos, em suas redes sociais. “Então, eles têm dificultado que as universidades, especialmente Harvard, consigam patrocinar o visto de pessoas, e para isso eles estão olhando tudo, de rede social a publicações acadêmicas”, relatou.
Reação da comunidade estudantil
Sobre como os estudantes têm reagido, o aluno potiguar informou que no início houve vários protestos, mas os estudantes internacionais estão cautelosos, pois não querem correr riscos de deportação. “Nós que somos alunos internacionais não podemos protestar, porque corremos o risco, inclusive, de ser deportados, de sermos considerados ameaças à segurança nacional, porque o departamento que pediu as nossas informações para Harvard foi o departamento de Homeland Security, segurança. E tudo isso começou justamente porque o governo pediu informações que são sigilosas sobre os estudantes, como quem participou de protestos, quem deixou de participar, quem é líder de movimento, quem não é, quem pertence a movimento, quem não é, quem tem ação disciplinar ou algum tipo de processo contra, que são coisas que, de acordo com a própria lei americana, deveriam ser sigilosas. Mas eles solicitaram essas informações, e a universidade não deu todas, e por isso eles revogaram, ou quiseram revogar, o direito de Harvard de patrocinar os vistos”, explicou.
Por esses motivos, o estudante afirma que se fosse aconselhar outros brasileiros que desejam estudar nos Estados Unidos hoje, diria para tomarem cuidado com as redes sociais e entenderem que esse é um problema dos americanos. “Esse é um problema que os americanos precisam resolver, esse é o governo que eles elegeram, é o governo que os representa, então é hora de nós, estudantes internacionais, ficarmos meio fora do radar, porque a gente não pode deixar passar a oportunidade de estudar nessas universidades de elite, porque existe esse governo. Mas sim, a gente tem que tomar precauções como evitar manifestações nas redes sociais, evitar participação em protestos, evitar nos posicionar publicamente”, afirmou.
Terra da liberdade
Toda essa situação parece contraditória quando se pensa nos Estados Unidos considerado como a terra da liberdade. No entanto, segundo quem está vivenciando toda a questão, é o que resta a fazer: ter cautela. “Na verdade, na verdade, as restrições começaram sendo orçamentárias. O governo foi cortando, aos poucos, parte do financiamento de Harvard, que não é 100% federal. Na verdade, a parte do governo federal é uma parte menor do que a universidade recebe, mas ainda assim afeta diretamente programas relacionados à saúde pública, à pesquisa de medicamentos, que muitos foram interrompidos, muitos foram abandonados e estão sendo sucateados com os cortes orçamentários. E aí essa é uma preocupação também, mas essa história dos vistos nos preocupa porque perder o status de imigrante legal pode significar uma deportação violenta, uma deportação coercitiva, e aí não seria nada bacana”, finalizou.
Posicionamento de Harvard
Segundo o potiguar, o posicionamento da universidade tem sido de manutenção do relacionamento com a comunidade acadêmica internacional, segundo os estudantes. “A universidade tem feito reuniões com os alunos estrangeiros, e eu também recebi vários e-mails do Escritório de Relações Internacionais dizendo que nós fazíamos parte da comunidade, que nós somos muito importantes para eles, que Harvard não é nada sem a gente lá, e que os estudantes internacionais são parte fundamental da comunidade. Então nos parece que a universidade está disposta a lutar pela nossa permanência”, ressaltou.
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