Reportagem publicada pelo portal Metrópoles mostra que a disputa eleitoral em cidades de médio e pequeno porte do Brasil virou uma “guerra de números”, com base em supostas pesquisas que apresentam resultados para todos os gostos. “Em determinados locais, a quantidade de levantamentos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) chega a ser maior do que a de capitais e outros municípios maiores”.
A presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel), Mara Telles, é quem aborda na matéria a proliferação descontrolada de sondagens eleitorais, os números questionáveis obtidos por institutos que não estariam utilizando metodologias seguras nas amostragens e a desinformação promovida por campanhas que divulgam gráficos manipulados e enganosos de pesquisas.
A especialista cita como exemplo disso a disputa em Parnamirim, no RN.
“Em Parnamirim (RN), a disputa entre Professora Nilda (Solidariedade) e Salatiel (PL) não para de gerar novos números e publicações na internet. A cidade é a 17ª do Brasil com mais pesquisas registradas, até então. Ao todo, são 33 levantamentos, mais do que capitais como Curitiba, Recife, Salvador e Porto Alegre”, diz o portal.
“Nilda aparece na frente na maioria das pesquisas. Só nas últimas semanas, o perfil dela no Instagram fez sete publicações com vários percentuais, de 38,7% a 58,3%, conforme levantamentos de diferentes institutos. ‘Nilda segue crescendo, e o candidato do prefeito está ficando cada vez mais para trás’, diz o texto provocativo de uma das postagens. O tal ‘candidato do prefeito’ é o jornalista e redator Salatiel. Para reagir e contra-atacar a investida numérica da adversária, ele fez duas publicações recentes, nas quais os gráficos dão a entender, visualmente, que ele está na frente. Os números das pesquisas utilizadas pelo candidato, no entanto, indicam o oposto: ou ele está atrás ou empatado”, explica a reportagem.
É o “vale tudo” numérico das eleições de 2024, segundo a presidente da Abrapel.
“Com o status de peças de marketing, principalmente numa eleição que já resultou em mais de R$ 120,4 milhões gastos em impulsionamento de conteúdos digitais, as pesquisas viraram armas estratégicas das campanhas em todo o país”, diz o site.
“Não é exatamente uma guerra numérica. É uma guerra baseada em desinformação. A desinformação virou um grande negócio e tem muita gente lucrando com isso. Existem vários pequenos institutos que estão por aí, que as pessoas não conhecem e que têm vendido fantasias para os candidatos. São institutos que fazem negócios em troca de resultados, muitos surgidos às vésperas das eleições”, aponta Mara.