Estado de saúde de Bolsonaro segue estável, sem piora do quadro clínico. Foto: Instagra/Bolsonaro

Estado de saúde de Bolsonaro segue estável, sem piora do quadro clínico. Foto: Instagra/Bolsonaro

Cotidiano

Entenda Afinal, qual o real estado de saúde de Bolsonaro? Equipe médica explica em detalhes

No momento não há necessidade de cirurgia, porém isso não está totalmente descartado. De acordo com os médicos, o episódio de suboclusão intestinal atual é mais “exuberante”

por: NOVO Notícias

Publicado 12 de abril de 2025 às 14:00

O estado de saúde do ex-presidente Jair Bolsonaro é considerado estável. Ele está sem dores e segue com tratamento para resolver a suboclusão intestinal (obstrução parcial do intestino) que provocou sua internação no Hospital Rio Grande, em Natal, na sexta-feira (11). Jair Bolsonaro segue sem previsào de alta.

O ex-presidente será transferido para Brasília na tarde deste sábado (12). No momento não há necessidade de cirurgia, porém isso não está totalmente descartado. De acordo com os médicos, o episódio de suboclusão atual é mais “exuberante” porque está demorando um pouco mais para se resolver, na comparação com os anteriores.

Todas essa informações sobre o estado de saúde de Bolsonaro foram dadas pela equipe médica que acompanha o ex-presidente, incluindo o médico Cláudio Birolini, que cuida de Jair Bolsonaro atualmente. Ele é diretor do Serviço de Cirurgia Geral Eletiva do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e chefe do Grupo de Hernias e Parede Abdominal, além de ser doutor em cirurgia pela FMUSP.

Leia abaixo a entrevista completa com a equipe médica:

Nesse momento, a gente poderia dizer que uma cirurgia não está descartada?

Durante a evolução de ontem para hoje, o que a gente consegue dizer é que, no momento, está descartada a necessidade de uma intervenção cirúrgica de urgência e emergência. O que não significa que tenha havido resolução do quadro de suboclusão intestinal. E isso, portanto, demanda a reavaliação periódica ao longo de horas e dias para que seja tomada uma decisão num segundo momento. Embora no momento atual não haja nenhuma necessidade de intervenção cirúrgica de urgência, o que vai acontecer nos próximos dias vai depender da evolução clínica do Presidente Jair Bolsonaro.

A transferência exclusivamente por vontade pessoal dele, com a família, como o senhor falou, não, não teve nenhuma piora do quadro clínico, é isso?

O paciente não teve piora do quadro clínico, o quadro do paciente permanece estável, conforme foi colocado aí na nota. Mas ele tem um médico assistente, Dr. Cláudio, que vai acompanhá-lo doravante. E a necessidade da proximidade dos entes, eh, esse tipo de condução clínica, ela pode demorar um dia, dois, três, cinco, sete. E a família quer apoiá-lo, a família tem as suas atividades, a família quer estar perto. E ele manifestou esse desejo também de estar perto da família. Embora até ontem, até agora pela madrugada, tenha considerado ficar aqui. Mas o desejo da família também é apoiá-lo, foi preponderante, tá certo? Ele estava muito satisfeito com a assistência até agora pela madrugada, externou o desejo de continuar aqui, mas a família tem os seus próprios compromissos, desejam perto. Dr. Cláudio é de São Paulo, então para ele é muito mais fácil apoiar em Brasília do que aqui. Por isso a decisão de de transferir. Então é um desejo da família e do próprio presidente.

Como é que vai ser essa estrutura de transferência dele?

Tem uma equipe da Unimed no ar. Que se disponibilizou. A gente agradece ao presidente da Unimed local e ao Dr. Álvaro Barros que articularam isso com a Unimed Nacional. E essa equipe já vai iniciar o seu deslocamento a partir de Belo Horizonte. E essa equipe virá, composta por médico, enfermeiro, uma equipe completa. E eles serão recebidos em São Gonçalo, na pista do aeroporto. Essa equipe virá ao hospital, discutirá com o Dr. Hélio, comigo, Fernando, com o Dr. Birolini, fará a avaliação do paciente, que ele já tem, nós já mandamos para eles. Ele será colocado na UTI móvel até o aeroporto e depois, aproximadamente 3 horas de voo, 2 horas e meia, aproximadamente até Brasília.

O ex-presidente apresentou alguma queixa específica? Esse episódio se diferencia de outros episódios como esse?

Claudio Birolini: Eu acompanho ele mais recentemente. Não é desde 2018. Nesses últimos anos, ele tem tido esses episódios recorrentes de suboclusão intestinal, que é uma característica de pacientes submetidos a diversas cirurgias. Esse episódio atual parece que é um pouco mais exuberante do que os episódios anteriores. Suboclusão intestinal é uma condição muito comum em pacientes submetidos a diversas cirurgias. E que na grande maioria dos casos acaba revertendo apenas com medidas clínicas. É manutenção de jejum, descompressão gástrica com sonda, hidratação parenteral e aguardar. Então os outros episódios que ele teve reverteram rapidamente. Esse episódio a gente tá aguardando ainda para ver como será a evolução.

É mais exuberante porque é mais duradouro ou porque as sintomas são diferentes?

Claudio Birolini: É mais exuberante no sentido que ele teve mais dor, mais distensão, e nesse aspecto, já vai fazer praticamente 24 horas que foram tomadas as medidas iniciais, embora tenha havido uma melhora, ele mantém algumas características de que ainda isso não está resolvido. E, portanto, demanda reavaliação periódica ao longo de horas e dias para que seja tomada uma decisão num segundo momento. Então, embora no momento atual não haja nenhuma necessidade de intervenção cirúrgica de urgência, o que vai acontecer nos próximos dias vai depender da evolução clínica do presidente Jair Bolsonaro.

Tem expectativa de quando ele vai voltar a se alimentar e consequentemente ter uma alta para atividades normais?

Cláudio Birolini: Ele tá recebendo uma dieta que é dieta parenteral, que a gente chama, que é dieta na veia, não é por sonda. Quando você tem um, qualquer evidência de suboclusão intestinal, você tem que deixar o intestino em repouso e sem receber nada. E além disso, descomprimir o excesso de, de suco gástrico, bílis, enfim, que tem produzido. Isso, se não for drenado, vai ficar parado no intestino, causando dor, distensão, etc. Então, enquanto ele não apresentar algum sinal de desobstrução, ele tem que ser mantido em jejum. Jejum total. Às vezes a gente deixa um pouquinho de água por, para conforto, porque a sonda atrapalha, dói a garganta. Então a gente autoriza que o paciente beba aí até 300, 300 ml de água. Normalmente vomita ou volta pela sonda. Então, os sinais de descompressão ou de resolução do quadro de suboclusão intestinal é cessação da dor, melhora da distensão abdominal e, e retomada das evacuações, eliminando flatulência.

Ele segue sem previsão de alta?

Cláudio Birolini: Sim, sem previsão de alta. Por isso também a decisão de transferi-lo, eh, para Brasília, mais perto da família.

Essas dores que ele se queixou começaram quando?

Hélio Barreto: Ele começou a apresentar esses sintomas na quinta-feira à noite. Na sexta-feira pela manhã, ele teve uma discreta melhora e seguiu para os compromissos que ele tinha agendado. E no decorrer de alguns desses compromissos, ele sentiu uma forte dor, que foi na sexta-feira pela manhã. E foi quando ele foi transferido de Santa Cruz para o Hospital Rio Grande.

O ex-presidente já submeteu a quatro cirurgias depois do episódio de 2018. Uma nova intervenção cirúrgica nesse momento, ela é vista com mais ressalva?

Cláudio Birolini: Em primeiro lugar, não existe operação simples. Toda operação tem eh algum grau de complexidade. Naturalmente, um paciente que já fez várias operações abdominais, que tem um abdômen que a gente chama de abdômen hostil, que tem uma deformidade da parede abdominal por conta de defeitos resultantes das múltiplas operações, é um desafio maior. Mas, enfim, é um perfeitamente factível e, na eventualidade de realização de uma cirurgia, o objetivo seria a reversão tanto desse quadro que vem causando essas oclusões intestinais periódicas, como uma melhora da condição da parede abdominal dele. Mas isso, mais uma vez, no momento, ainda não está sendo cogitado.

Há alguma recomendação de tempo para ele permanecer em repouso fora do hospital, onde é que ele poderá retomar os compromissos públicos do ponto de vista médico? Existe alguma estimativa sobre isso?

Cláudio Birolini: Quando você tem a resolução espontânea de um quadro de suboclusão intestinal, você considera que o quadro tá resolvido. O que não significa que ele não pode recorrer. Então, todo paciente, quando tem uma suboclusão e sai dessa suboclusão, a gente dá orientações, principalmente de dieta, evitar muito resíduo, muita fibra, fazer uma dieta mais pastosa ou mais líquida. Por que que acontece a suboclusão? Geralmente é uma alça intestinal que fica dobrada, acotovelada, e se você comer coisa tipo bagaço de de laranja ou comer casca de jabuticaba, semente de algumas frutas, pipoca, isso pode fazer que nem aquele papel do cabelo no ralo. Você vai juntando o cabelo, vai parando no ralo e acaba entupindo.

Teve um vilão na história, se identificou o que ele comeu que provocou isso?

Cláudio Birolini: Não, nós não conseguimos identificar a ingestão de algum alimento que pudesse causar isso nesse momento. Mas, enfim, às vezes é difícil, às vezes o paciente não associa uma coisa com a outra. A própria distensão pode fazer um tipo de mecanismo de válvula que dificulta a resolução espontânea.

Qual o tempo que o protocolo traz, qual o tempo que de aspas espera para que aconteça essa reversão ou que se decida eventualmente por uma cirurgia?

Hélio Barreto: O tempo é muito relativo, porque depende muito de como o paciente está evoluindo. A partir do momento que o paciente ele melhora os sintomas, laboratorialmente não apresenta agravos, radiologicamente ele apresenta estabilidade ou até melhora, você vai sendo um pouco mais complacente com o tempo, uma vez que o paciente está apresentando melhoras. A partir do momento que o paciente ele passa a ter sinais de agravos laboratoriais, radiológicos ou clínicos, esse tempo de espera, esse tempo de latência até uma decisão de uma eventual intervenção, ele passa a ser encurtado. Então tudo depende de como o paciente está evoluindo no decorrer do tratamento.

Considerando o quadro clínico atual e atrelando com o histórico do paciente, é possível afirmar que esse tipo de ocorrência vai se tornar cada vez mais comum?

Cláudio Birolini: Sim. Sim. Isso também vai ser discutido com o presidente Bolsonaro, porque ele tem uma agenda bastante intensa, frequentemente em locais remotos. Pode sim ocorrer recorrência desse tipo de situação em outros eh momentos.

Em casos como esse, quando não há uma remoção ágil, o que é que pode acontecer?

Cláudio Birolini: O que aconteceu ontem de manhã, foi um quadro agudo, uma dor abdominal súbita, com distensão, com mal-estar. Então naquele momento inicial, você não sabe o que está acontecendo. Você tem que levar pro hospital, fazer exames, investigar e entender a situação. Aí havia algum grau de urgência, de que ele fosse transferido para o hospital para averiguação do que estava acontecendo. Agora a gente já sabe o que está acontecendo, já foram tomadas as medidas iniciais. Ele apresentou uma melhora. No momento ele está sem febre, sem dor, tá bastante confortável. Então agora é uma transferência numa situação mais cômoda. A gente não precisa sair correndo daqui para ir para lá, mesmo porque aqui no hospital ele tem toda a condição, teve toda a condição de um, qualquer tipo de procedimento fosse aplicado.

Há relação do quadro de agora com a facada que ele sofreu em 2018?

Cláudio Birolini: A correlação é absoluta. Quem diz que não tem correlação, não tem noção do que tá falando. Tudo o que ocorreu é decorrente do episódio inicial que foi a facada.

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