Psicóloga Anna Cláudia Abdon, especialista em luto - Foto: Divulgação

Cotidiano

Dia Nacional do Luto Psicóloga alerta sobre efeitos do luto não acolhido para saúde mental

De acordo com especialista, silenciar a dor pode agravar o sofrimento de quem perdeu alguém; respeito, escuta e acolhimento são fundamentais no processo

por: NOVO Notícias

Publicado 17 de junho de 2025 às 16:55

Nesta quinta-feira, 19 de junho, o Dia Nacional do Luto propõe uma reflexão sobre o silêncio que ainda cerca a morte de um ente querido e seus desdobramentos para a saúde emocional. Embora seja uma realidade inevitável, o tema segue sendo um assunto tabu no cotidiano, marcado por resistência e desconforto nas conversas. Esse silêncio, segundo especialistas, não apenas dificulta o enfrentamento da perda, como também aprofunda o sofrimento de quem vive o luto.

“Falar sobre o luto é falar sobre amor, sobre vínculo, sobre ausência. Quando esse espaço de conversa não existe, a dor fica escondida, e, muitas vezes, se transforma em sofrimento silencioso”, explica a psicóloga Anna Cláudia Abdon, especialista em luto da Empresa Vila, administradora do Plano Sempre, referência no setor funerário no Rio Grande do Norte. “O Dia Nacional do Luto é uma oportunidade para quebrar esse tabu e reconhecer que o luto não é fraqueza, nem drama, muito menos doença, mas sim, um processo natural, legítimo e necessário”, reforça a especialista.

De acordo com Anna Cláudia, as manifestações do processo podem ser múltiplas, desde a tristeza profunda, raiva, confusão, culpa, e até o isolamento. Dessa forma, cada pessoa vivencia a dor de forma única, e respeitar o tempo do outro e oferecer apoio empático são atitudes fundamentais nesse processo.

A representante de atendimento bilíngue, Constância Souza, que perdeu o pai, o jornalista Carlos de Souza, há seis anos em decorrência de um câncer, compartilha a própria vivência. “Fiquei arrasada. A doença foi cruel e rápida, e eu sentia uma mistura de dor, raiva, tristeza, desamparo, saudade e negação”, relata.

Segundo ela, o início do processo foi marcado pela dificuldade de aceitar a perda. “Demorei para perceber que precisava de ajuda. Evitava falar sobre o assunto, e só depois de alguns meses consegui começar a conversar com minha mãe. Três anos depois, busquei apoio profissional, quando entendi que precisava aprender a lidar com aquilo”, relembra.

Constância também destaca o valor do acolhimento das pessoas próximas e da memória afetiva. “Alguns amigos evitavam tocar no assunto, mas a maioria me acolheu. O que mais me ajudou foi o tempo e o carinho das pessoas que amavam meu pai, ouvir as histórias sobre ele me trouxe conforto”, explica.

Quando buscar ajuda
Em alguns casos, no entanto, o luto pode evoluir para um sofrimento emocional mais intenso. “Quando a dor não dá trégua, quando há perda de sentido pela vida, isolamento extremo ou pensamentos recorrentes de morte, é sinal de que esse sofrimento está transbordando e precisa de cuidado especializado”, alerta a psicóloga.

Para Anna Cláudia Abdon, buscar ajuda profissional neste momento não deve ser visto como sinal de fraqueza, mas de coragem. “A terapia oferece um espaço seguro para que a pessoa possa entender sua dor, ressignificar a perda e, aos poucos, reconstruir uma nova forma de viver. Mesmo sem a presença física de quem partiu, é possível reencontrar sentido”, explica.

Ela ressalta ainda que o acolhimento também pode vir das pessoas próximas: amigos, familiares, vizinhos e colegas. Estar presente, ouvir sem julgar e evitar frases prontas são atitudes que fazem diferença. “Às vezes, um simples ‘tô aqui com você’ é tudo que alguém precisa para não se sentir sozinho”, finaliza.

Tags