Professores, coragem. É hora de trabalhar!

Desde o início da pandemia, travou-se uma guerra na educação. Professores se adaptando, aprendendo a reconhecer os alunos pelas letras iniciais dos seus nomes, abreviadas em um avatar, nas salas de reunião virtual. A missão era amenizar a perda quase irreparável de uma geração de estudantes.

É indiscutível, afinal, que os ambientes escolares estão entre os mais vulneráveis ao contágio descontrolado, mas os prejuízos pedagógicos, cognitivos e emocionais de um possível adoecimento massivo de estudantes e professores são tão ou mais danosos do que os prejuízos decorrentes da suspensão das aulas presenciais.

Tão indiscutível quanto a afirmação acima é também o reconhecimento do quanto o estado demorou a preparar as escolas para o retorno. Agora está tudo pronto. Hora de voltar ao trabalho. Os índices que medem a força da pandemia do coronavírus já nos dão um alento: estamos vencendo.

“Verás que o filho teu não foge à luta”. Será? Foge sim, é o que quer a categoria dos trabalhadores em educação, encabeçada pelo sindicato que os representa. “Volta às aulas, só depois da imunização total”, diz o Sinte.

Os profissionais querem privilégio, querem uma vantagem sobre todas as outras categorias. A pandemia assustou todo o mundo, afastou as pessoas, obrigou muitas empresas a demitir ou a adaptar-se a uma nova forma de trabalho. Categorias profissionais tiveram que vencer o medo, enfrentar as incertezas da doença, viver o dia sem saber se o vírus estava prestes a tomar suas vidas, por necessidade ou por obrigação. Alguns foram elevados a categoria de heróis.

Foram esses, que fazem essa exigência pelo privilégio de uma imunização total da categoria, os primeiros a parar, e querem ser os últimos a voltar efetivamente ao trabalho. O ano letivo das escolas estaduais do Rio Grande do Norte ainda não havia nem começado quando o Brasil parou. A última vez em que os alunos de escolas públicas frequentaram as salas de aula foi em dezembro de 2019.

Não há quem discuta a importância do professor na vida de cada cidadão. Não há quem duvide de que a construção da sociedade passa pelas mãos de tão bravos profissionais. Nem quem não se compadeça das lutas da classe pela valorização que tanto tem demorado para a mais nobre, relevante e marcante profissão de educador.

Fugir à responsabilidade que tanto fez com que a sociedade admirasse os profissionais da educação é marcar com uma mancha a história tão bem escrita dos mestres. Tudo no entorno do lúdico ensinar vai ao chão quando se impõe um privilégio que nenhuma outra categoria ousou impor – a imunização total – para que o mundo acadêmico possa voltar ao início de uma vida de relativa normalidade. Não se trata apenas de heroísmo. É responsabilidade.

Movidos por interesses de um sindicato, toda a categoria se dobra ao que lhes falta, coragem. “A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem”. A frase entre aspas é de Paulo Freire.

A sociedade já convive – ou engole – privilégios injustificáveis de políticos, do judiciário e de algumas castas do funcionalismo público. Aceitar que os educadores se tornem mais um dos espúrios privilegiados, antes de ser revoltante, é decepcionante.

Coragem senhores educadores, vocês são sim melhores que muitos. Coragem!