A aposentada Maria de Fátima Dias, de 64 anos, e o oftalmologista Anderson Martins – Foto: Juliana Manzano

Nos últimos meses, alguns influenciadores brasileiros viralizaram nas redes sociais ao publicar fotos após cirurgia para mudança na cor dos olhos. Os procedimentos divulgados foram realizados em outros países, pois no Brasil esta técnica não é permitida para esta finalidade. A legislação brasileira autoriza o procedimento da ceratopigmentação, também conhecida como tatuagem corneana, apenas em pessoas com cegueira permanente, com o objetivo de recuperar a aparência ‘normal’ do olho.

A técnica é realizada a partir da pigmentação da córnea, que é a parte anterior do olho. Essa pigmentação pode ser feita com uma caneta de tatuador específica para o olho, ou com outras técnicas cirúrgicas em que se adiciona tinta de tatuagem liberada pela Anvisa para uso ocular. Os cuidados são os mesmos de outras cirurgias oftalmológicas e envolvem o uso de colírios pós-operatórios e recomendações como não se expor ao sol, não tomar banho de mar ou piscina por 30 dias e não ter contato com sujeira em zonas contaminadas.

A técnica é realizada a partir da pigmentação da córnea, que é a parte anterior do olho

A ceratopigmentação já é feita na Grande Natal e tem mudado a vida de pacientes que querem se sentir melhor com a aparência dos olhos. A técnica é realizada pelo oftalmologista Anderson Martins, que conta como ela tem impactado na vida dos pacientes. “Nos casos de olho cego, o leucoma (olho branco) traz um estigma social muito forte para essas pessoas. Elas ficam taxadas como deficientes, têm dificuldade em construir relações sociais, conseguir emprego, algumas pessoas não têm conhecimento e ficam com medo que seja uma doença contagiosa.

Então, com esse procedimento, o paciente passa a ter um olho esteticamente normal, o que ajuda não só a reconstruir a imagem e a autoestima, mas, principalmente, a resgatar a convivência social, melhorando a confiança e o psicológico desses pacientes”, explica o médico.

A aposentada Maria de Fátima Dias, de 64 anos, enfrentou durante anos o desconforto e a vergonha decorrentes da opacidade em seus olhos. Antes de se submeter à cirurgia de ceratopigmentação, ela descreveu sua condição como algo comparável a ter constantemente um cisco no olho. A aparência esbranquiçada de seus olhos não apenas a incomodava fisicamente, mas também afetava sua autoestima.

A decisão de fazer a cirurgia foi impulsionada pela necessidade. Maria foi retirada da lista de transplantes de córnea, devido à mudança de sua condição médicas.

“Eu passei um tempo na fila do transplante, mas quando fui chamada para fazer, já não tinha mais jeito. Então, foi quando tomei conhecimento sobre este procedimento que era realizado no Hospital de Olhos de Parnamirim e que poderia me trazer de volta, pelo menos, a autoestima”, conta Maria de Fátima.

Em dezembro do ano passado, a aposentada realizou o procedimento. E, agora, meses depois da operação, Maria de Fátima relata uma transformação em sua qualidade de vida. Sentindo-se muito bem, ela destaca uma melhora significativa em sua autoestima. “Hoje me sinto uma outra pessoa, com a autoestima renovada, tenho mais vontade de me arrumar e não tenho vergonha de falar com as pessoas. Resolvi não dizer nada a ninguém e esperar as pessoas notarem, o resultado foi muito satisfatório”, conclui Dona Fátima.

Estudo mostra baixas taxas de complicações

No Brasil, a ceratopigmentação é utilizada em casos de reparação estética em olhos cegos e sem possibilidade de reversão ou em pacientes que tiveram por algum motivo perda do conteúdo colorido do olho, que é a íris. Então, a técnica pode ser usada para fazer uma pessoa cega parecer ter olho “normal” ou para disfarçar essa amputação de íris ou traumatismo. Por isso, vários influenciadores brasileiros têm ido fazer o procedimento para a troca da cor dos olhos na Europa, uma vez que no Brasil ele ainda não é permitido pela Anvisa em olhos saudáveis.

A técnica vem sendo acompanhada por um grupo de estudo espanhol e, até o momento, tudo leva a crer que a técnica é segura e possui baixas taxas de complicações. O referido estudo incluiu 79 olhos de 40 pacientes, com idade média de 34 anos. A ceratopigmentação intraestromal assistida por laser de femtosegundo foi realizada em 39 pacientes (97,5%) e a ceratopigmentação automatizada superficial em 1 paciente. O acompanhamento médio foi de 29 meses (variação de 6 a 69). A avaliação do observador foi excelente em 90% dos casos e a satisfação do paciente foi excelente em 92,5% dos casos. Vinte e oito olhos (35,4%) foram reoperados. Deles, sete olhos (8,9%) tiveram dois retoques de cores e quatro olhos (5,1%) tiveram três retoques de cores.

Após os ‘retratamento’s, todos os pacientes ficaram satisfeitos com o aspecto cosmético. A sensibilidade à luz no primeiro mês foi a complicação mais comum (30%), seguida pela alteração da cor (7,5%), desbotamento da cor (5%) e limitações do campo visual em um caso com pupila de 4,5 mm (2,5%). Apenas um paciente que já havia realizado uma cirurgia lasik a laser (para corrigir erros de refração) anterior desenvolveu deformidade corneana.

“Este estudo mostra que a ceratopigmentação cosmética tem alcançado bons resultados e está associado à alta satisfação do paciente, uma vez que a maioria das complicações poderia ser tratada adequadamente. Mas, ainda não é recomendada pela Agência Nacional de Vigilância em Saúde (Anvisa) nem pela Sociedade Brasileira de Oftalmologia, pois ainda não existem estudos a longo prazo para determinar a segurança do procedimento em olhos saudáveis”, informa o Dr. Anderson Martins.

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