O nascimento de Ravi, em 2020, tornou Kleyton realizado como pai, esposo e profissional – Foto: Bruno Souza

“Sou realizado. Ser pai foi a melhor coisa que me aconteceu. O fato de cuidar deles e tentar ser um exemplo, uma referência para eles é uma responsabilidade muito grande. E é isso o que eu quero ser”. A frase poderia ser dita por um ‘simples’ pai que ama seus filhos. Mas ela é dita por um pai especial de todas as formas. Um pai que, através da fé, juntamente com sua esposa, entendeu que diagnóstico não significa destino. Que ora todos os dias pela saúde do seu primogênito. Que transformou uma vida ‘comum’ em um dia a dia repleto de desafios, renúncias, superação e muita gratidão. Que se emociona e que se dedica integralmente.

Apaixonado por crianças, Kleyton Nascimento sempre teve o sonho de ser pai. Quando ele e a esposa Raquel começaram a planejar ter um filho, ela parou de usar métodos contraceptivos e passaram a idealizar a família que estavam formando. A gravidez, porém, demorou. Foram quatro anos de espera para, enfim, chegar o dia do tão sonhado ‘positivo’.

Quando a gestação completou 19 semanas, o casal levou um ‘baque’. Eles receberam a notícia de que o pequeno e sonhado Ravi tinha o diagnóstico de anencefalia, microcefalia e encefalocele. Kleyton e Raquel foram a três médicos diferentes para confirmar o diagnóstico, mas apenas um levou em conta a vida humana que estava ali sendo gerada. “Os outros dois usaram o termo ‘não compatível com a vida’ para nos aconselhar sobre o aborto. Disseram que, se ele chegasse a nascer, não ia durar mais do que uma hora. E que se passasse disso, o tratamento seria muito difícil. Diziam que minha esposa era jovem e que logo iria engravidar de novo. Mas nós nem cogitamos essa hipótese. Aceitamos ele da forma que Deus preparou para nós. Dr. Rômulo foi o único que falou para não interromper, que falou como ser humano mesmo. Ele foi um anjo em nossas vidas. Tirou todas as nossas dúvidas e nos orientou sobre tudo em relação ao diagnóstico dele”, afirmou Kleyton.

Com tantas incertezas, mas com a única decisão de manter a gestação, o casal desafiou a ciência. “Não compramos nada. Mas depois que ele nasceu, as horas foram passando, os dias, os meses e, desde então, ele tem sido a luz das nossas vidas”, disse o pai. No último dia três de agosto, o Ravi completou dois anos. E embora nunca tenha sido uma criança que adoece facilmente, ele teve pneumonia, seguida de covid, e está internado há mais de 70 dias.

Após Ravi, Raquel engravidou novamente e eles tiveram Rafael, que está com apenas três meses. Com o nascimento do bebê e a recente internação do Ravi, o casal precisou se ‘separar’ fisicamente. A mãe cuida do Rafael e precisa estar próximo a ele por conta da amamentação. Já o pai fica 24h ao lado do Ravi no hospital. “Ele nunca ficou doente antes, só teve uma vez uma infecção urinária. Mas essa pneumonia de agora realmente foi bem complicada. Logo quando ele melhorou, infelizmente, ele contraiu a covid. Mas graças a Deus, ele é forte e também a venceu. Entramos aqui [no hospital] dia 24 de maio e nesse tempo todo, eu só fui em casa durante uma manhã e uma noite. Mas estamos bem próximos de ir para casa, se Deus quiser”, afirma Kleyton.

O nascimento de Ravi não tornou Kleyton realizado apenas como pai, mas também como esposo e como profissional. No relacionamento com a esposa, a cumplicidade e o respeito se tornaram ainda maiores. “Nosso relacionamento melhorou muito. Ficamos bem mais próximos”, ressaltou.

Kleyton também ‘brinca’ que Ravi também foi o responsável pelo seu emprego. “ Gosto de falar que quem arrumou emprego pra mim foi ele porque, quando ele nasceu, eu estava desempregado. Aí eu fui solicitar o seguro dele no CRAS de São Gonçalo [do Amarante] e a assistente social fez uma entrevista pra saber sobre a situação que a gente se encontrava na época. Ela viu que nós não tínhamos nenhuma renda, só o auxílio emergencial mesmo. Ela se comoveu e passou minha história para a secretária, que me chamou para conversar. Mais tarde, ela me ligou e disse que tinha um emprego para mim lá. Desde então, eu trabalho na Secretaria de Assistência Social de São Gonçalo do Amarante”, conta Kleyton.

Agora, após mais de dois meses longe de casa, Kleyton tem apenas dois pedidos de presentes para o Dia dos Pais: “A pronta recuperação dele e passar o Dia dos Pais em casa ao lado dos dois”, finaliza o papai do Ravi e do Rafael.