No Haiti, população se revolta e queima vivos 13 membros de gangues. Foto: Reprodução/Twitter
No Haiti, população se revolta e queima vivos 13 membros de gangues. Foto: Reprodução/Twitter

Uma multidão espancou e queimou vivos treze supostos membros de gangue, depois de tirar os homens da custódia da polícia em Porto Príncipe, capital do Haiti, disseram policiais e testemunhas. O episódio de violência extrema aconteceu na segunda-feira (24). O caso é um reflexo da situação cada vez mais sem lei na capital do Haiti, onde gangues impuseram terror na cidade desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse em julho de 2021.

A polícia não especificou as circunstâncias em que perdeu a custódia dos suspeitos, que posteriormente foram assassinados por moradores do rico bairro de Canapé-Vert, no sul de Porto Príncipe. Mas a violência começou antes do amanhecer, quando integrantes de gangues invadiram vários bairros residenciais da capital, roubando casas e agredindo vizinhos, segundo testemunhas.

Pelo Twitter, o artista Edward Samson divulgou um vídeo que mostra o instante anterior aos assassinatos. Atenção: As imagens são muito fortes.

O Haiti enfrenta uma onda de violência entre gangues rivais, que já deixou mais de 400 mortos em seis meses. Grupos armados controlam 60% da capital haitiana. Em relatório divulgado na segunda-feira (24), a ONU alertou que a insegurança em Porto Príncipe atingiu níveis comparáveis aos de países em guerra. O secretário-geral da ONU, António Guterres, destacou o aumento de assassinatos e sequestros no país caribenho e pediu o envio de uma força internacional para a ilha.

Os homicídios registrados no Haiti aumentaram 21% nos últimos meses, passando de 673 no último trimestre de 2022 para 815 entre 1º de janeiro e 31 de março deste ano. Já o número de sequestros cresceu 63% nesse mesmo período. Grupos armados “continuam a competir para expandir o controle territorial em toda a região metropolitana de Porto Príncipe, espalhando-se por bairros até agora poupados”, alerta o relatório.

Entre os dias 14 e 19 de abril, os confrontos entre gangues rivais deixaram quase 70 mortos, incluindo 18 mulheres e pelo menos duas crianças, e 40 feridos. Nos últimos seis meses, ataques armados deixaram mais de 400 mortos no país, segundo um relatório da Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos do Haiti (RNDDH), que exige explicações das autoridades diante do aumento dos ataques contra a população civil.

A rede de televisão RTVE fez uma reportagem sobre o episódio que resultou na morte dos 13 supostos membros de gangues. As imagens foram borradas em alguns trechos por serem muito fortes. Assista:

Diante desse cenário, o secretário-geral da ONU pediu o envio urgente de uma força armada internacional especializada, em particular para ajudar a polícia a restabelecer a ordem. Embora alguns países tenham indicado vontade de participar, nenhum se apresentou para assumir a liderança da missão. A RNDDH condenou o clima de terror instaurado no país e acusou a coligação política no poder de proteger os criminosos e dar carta branca às gangues para atacar a população civil.

A situação no Haiti é considerada catastrófica pelos habitantes de áreas controladas por grupos armados, em particular na região metropolitana de Porto Príncipe. Ulrika Richardson, coordenadora humanitária da ONU para o Haiti, afirmou que os moradores se sentem sitiados. “Não podem mais sair de casa por medo da violência armada e do terror imposto pelas gangues”, disse.