Em boate da Zona Sul, MC Leozinho do BA já sofreu racismo – Foto: Arquivo Pessoal

Por mais que muitas pessoas tentem ignorar, o racismo ainda é uma realidade enfrentada por milhares de potiguares diariamente. E as ofensas vão desde colocações sutis, reproduzidas pela sociedade ao longo dos anos, até xingamentos e agressões que podem custar vidas. No Rio Grande do Norte já são 20 denúncias sobre o crime em 2022, um aumento de 150% dos casos, no comparativo com os meses de janeiro a julho do ano passado. Todavia, estes números podem ser ainda maiores, pois há casos que não são levados às autoridades.

Pessoas negras que precisam lidar diariamente com o público sabem bem quando são ofendidas. E a situação não passa despercebida. O Mc de Funk e Jornalista, Leozinho do BA, de 30 anos, contou ao NOVO Notícias que já sofreu discriminação em uma boate na Zona Sul de Natal. A situação dolorosa permanece viva todos os dias na memória do artista.

“Há algum tempo passei por isso ao tentar pagar a minha comanda em uma casa noturna de Natal, em Ponta Negra. O dinheiro não estava trocado e ao perguntar para uma das funcionárias se era possível fazer a troca, ouvi: “Se você não tem dinheiro, não frequente esse tipo de lugar”. Ela falou   sem pudor algum e na frente de um monte de gente que simplesmente ignorou tudo aquilo. Me senti impotente”, relatou Leozinho.

Não é sempre que se consegue identificar os casos de racismo, já que o preconceito pode estar escondido nos detalhes das falas e atitudes. Segundo o cantor, “é impossível um jovem negro não ter passado por isso. Sofri e sofro cotidianamente com o racismo”.

“Infelizmente é um mal que está enraizado em nossa sociedade e que precisa ser debatido e combatido com extrema urgência. Sobre já ter denunciado ou procurado por vias legais uma resolução para alguma situação que passei? Nunca. Por incontáveis motivos. O racismo nos ataca muitas vezes de uma forma muito sutil onde a maioria das pessoas não o enxergam (ou não querem mesmo enxergar), então só a gente que passa é quem realmente o sente”, disse o músico.

Denúncias de racismo no RN

O número de crimes raciais aumentou no RN em comparação com o mesmo período de 2021. Em 2022 já são 20 denúncias, contra oito do ano passado. Mas, o número pode ser ainda maior, já que muitas pessoas que recebem as ofensas não buscam seus direitos.

“Como eu levaria isso para uma delegacia? Quais as provas? Quais testemunhas? As que viram tudo e ignoraram como se fosse algo absolutamente normal para elas? É complicado. Na teoria é muito bonito, mas na prática nunca vi efetividade alguma nisso. Apesar de entender e recomendar a todas as vítimas de racismo que o façam, pois sei que ainda sim é necessário. Mesmo o sistema sendo extremamente falho conosco, não é o ignorando que vamos mudá-lo, temos que usar ele a nosso favor”, falou o MC Leozinho do BA sobre o caso de racismo que enfrentou em uma casa noturna na capital potiguar.

Os registros também cresceram no estado potiguar quando comparado com os últimos quatro anos. Em 2019 e 2020, no mesmo período de janeiro a julho, segundo dados da Coordenadoria de Informações Estatísticas e Análise Criminal da Secretaria de Estado de Segurança Pública e da Defesa Social (Coine/Sesed), foram registrados apenas três casos no primeiro semestre de cada ano. Portanto, as denúncias em 2022, representam um aumento de 566% em comparação com o mesmo período dos anos anteriores.

Ainda conforme dados da Sesed, em Natal, entre janeiro e julho deste ano, sete denúncias de racismo foram registradas. No mesmo período de 2021, foram quatro queixas e registros de discriminação racial.

Como identificar?

O crime de racismo é um ato praticado contra um grupo em si, seja ele com palavras de ofensa na questão de etnia ou religiosidade. A previsão de pena referente a crimes de racismo pode chegar até cinco anos além de multa. Em caso de necessidade, a Defensoria Pública oferece suporte às vítimas do crime de racismo.