O trabalho de conclusão do curso de Arquitetura do egresso Ramon Bezerra Fernandes, do Campus Pau dos Ferros, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), foi um dos projetos selecionados para financiamento, no edital do “Novo PAC: Patrimônio Histórico”. O trabalho “Manifesto face a inércia: restauro alusivo das ruínas da antiga igreja de São Miguel Arcanjo e convento Jesuíta na cidade de Extremoz/RN”, foi desenvolvido em 18 meses, sendo defendido em novembro de 2022, com a orientação da professora Monique Lessa. Atualmente, Ramon Fernandes é mestrando do Programa de Pós-graduação de Arquitetura e Urbanismo da UFRN.

O projeto do arquiteto nasceu de uma inquietação dele diante do cenário de negligência de um bem de valor patrimonial, que apesar de tombado pelo órgão de preservação estadual, necessita de um olhar mais cuidadoso para sua preservação. “Não se tem registros de ações de salvaguarda ou preservação para perpetuação dos valores patrimoniais do bem”, ratifica Ramon Fernandes.

Segundo o arquiteto, o trabalho discute “formas de intervir em bens tão delicados como o caso das ruínas e áreas arqueológicas, e expõe estratégias que vão além da mera discussão de reconstrução, que nesse caso, é impraticável”. A proposta é trazer a temática do restauro arquitetônico e arqueológico, com olhar para a postura contemporânea “crítico-conservativa criativa” muito adotada no contexto italiano.

O projeto conta com o apoio e o apelo da população local de reviver a ambiência antiga e de memória imagética. A estratégia adotada é a do restauro alusivo, que tenta facilitar a leitura dos vestígios sem haver reconstrução literal, de modo reversível e distinto da matéria antiga. Possuindo, desta forma um resultado jamais visto em outras intervenções desse tipo em todo o país, partindo do conceito de transparência e fragmentariedade, baseados na vegetação nativa local que está às margens da lagoa de Extremoz, o Guajiru.

“Esse conceito se aplica à intervenção de modo que de longe seja notável a silhueta da antiga igreja e sua magnitude, e de perto os vestígios históricos sejam evidenciados, uma vez que são os protagonistas da intervenção”, explica Ramon que acrescenta a “fácil leitura do monumento histórico, sem interromper a interpretação livre e criativa, mas também sem determinar estritamente uma mentira ou um falso histórico do que viria a ser essa ambiência”.

O arquiteto conta que durante o último semestre da graduação, quando ele estava produzindo o Trabalho de Conclusão do Curdo (TCC), teve a oportunidade de estagiar na secretaria de obras da Prefeitura Municipal de Extremoz. “Quando o trabalho foi concluído e provado na banca, apresentei o projeto para as pessoas da secretaria e a prefeita, obtendo um ótimo retorno, com muito interesse em executar o projeto”, frisou.

A partir desse incentivo, o recém-graduado em arquitetura começou a procurar meios – emendas, editais ou parcerias – que pudessem custear o projeto que teve uma estimativa de orçamento de cerca de R$ 15 milhões. Esse valor, para todo o processo que vai do estudo arqueológico até a montagem da estrutura, bem como os meios para manter funcionando o parque arqueológico.

“Durante esse processo, decidimos escrever um acordo internacional de cidades-irmãs entre a cidade de Extremoz-Brasil e a cidade de Estremoz-Portugal. Onde pudemos ter apoio do cônsul de Portugal que proporcionou todo contato com as autoridades. Sendo assim, celebrado o acordo com o Projeto de Lei n° 073/2023. Com o qual tem atraído o olhar internacional para as ruínas, possuindo interesse de investir também no projeto de intervenção”, contou Fernandes.

O propósito do Ramon Fernandes com a causa foi mais além. “Diante do cenário de negligência já mencionado, decidi elaborar um dossiê para submeter ao IPHAN solicitando o tombamento pelo órgão federal de preservação, na expectativa de uma melhor gestão das ações”.

O dossiê foi feito e assinado por diversos pesquisadores da área e pelas autoridades do município. Estando esse processo nesse momento em fase de análise técnica.

Nesse contexto de buscar uma solução para viabilizar o projeto, surgiu a oportunidade de submissão ao edital do novo “Novo PAC: Patrimônio Histórico”, que com o auxílio de funcionários da Prefeitura de Extremoz, a proposta foi submetida e selecionada, com a destinação de R$ 350 mil para início do processo de preservação e de implementação.

“Um valor mesmo que pequeno diante do orçamento poderá proporcionar novas ações que jamais foram feitas no local. Dessa forma, é notório que o fruto de um trabalho de conclusão de uma graduação, de um curso de arquitetura e urbanismo, numa pequena cidade no alto oeste do estado, pode reverberar de maneira admirável e gerar impactos pertinentes na vida de muita gente, como o caso da ruína que possui tanto valor patrimonial e representa a história de tanta gente”, comemora o arquiteto Ramon Fernandes.

Arquitetura, uma paixão que surgiu na infância

A paixão de Ramon Fernandes pela arquitetura começou ainda criança, quando auxiliava o pai dele nas atividades de pedreiro. “Ele, o meu pai, possui muito fascínio pelas atividades de construção e sempre estava “arrumando” uma reforma em casa”, conta. Ao crescer nesse convívio, Ramon foi obtendo a curiosidade de querer ajudar, dar ideias de como fazer coisas novas ou como deixar as coisas mais bonitas e funcionais.

Já no ensino médio, o jovem não possuía outra opção de curso, a não ser Arquitetura e Urbanismo. Como morador da cidade de Extremoz, sonhava em estudar numa universidade federal. Antes, ingressou no IFRN para o curso do subsequente em edificações, onde pôde aprimorar as habilidades na área, tendo sido aluno destaque.

“Até que no meio do curso recebi a notícia que havia passado para a Ufersa, numa cidade a cerca de 400 km, chamada Pau dos Ferros. Ai, enfrentei essa distância, deixando família para trás para realizar o sonho de ser arquiteto”, afirmou.

Para Ramon, a experiência de estudar na Ufersa Pau dos Ferros foi muito válida. “Uma experiência indescritível, numa cidade que me acolheu tão bem e pude formar uma nova família de amigos e professores que até hoje são grandes parceiros. Onde tenho muito orgulho de dizer que sou filho de um dos únicos cursos de arquitetura de todo o semiárido em uma Universidade Federal, com o qual cresci e auxiliei no crescimento do curso”, considerou.

Segundo ele, o curso proporcionou diversas experiências de pesquisa, extensão e monitoria, com destaque para os conhecimentos adquiridos na temática da preservação patrimonial. “Sempre tive em mente que gostaria de fazer algo pela minha cidade de origem e que tinha muito apreço pela história de Extremoz”, revelou.

Até que no final do curso, Ramon conheceu a professora Monique Lessa, com quem traçou um novo caminho de muita parceria. “Acredito que o papel de um orientador pode ser limitado, pelas circunstâncias que o docente se encontra ou pelas demandas que ele possui, mas Monique foi além de uma orientadora. Tive muita sorte de ter ao meu lado uma docente que possui tanta paixão pelo o que faz, fui guiado de modo tão singular, que o produto dessa troca foi notável, desde toda carga teórica até o projeto final”, revelou.

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