Há alguns meses uma pessoa muito especial disse, após tomar conhecimento de um episódio específico, que aquele era um marco determinante do começo de uma nova fase da minha vida.

Essas palavras ecoaram (e ainda ecoam) fortemente na memória porque a nova vida neste novo mundo em construção em meio a um apocalipse, que ainda não acabou, é resultado da quebra de todos os paradigmas e referências que carregávamos até então. Portanto, é impossível não sentir medo diante do desconhecido que virá.

Lembro dessas palavras ouvidas especialmente agora, ao ver os registros que eternizaram o meu reencontro com os meus, para celebrar o início do meu novo ciclo de vida, pois, como um verdadeiro final de ciclo, ao estilo de mandatos eletivos, Copa do Mundo e Olimpíadas, há quatro anos não festejava. O ano de 2018  foi  o último no qual promovi aglomeração, dadas as circunstâncias da vida que me levaram a reuniões mais intimistas, nos três anos passados. 

Entendo que a celebração da vida é um exercício diário que faço ao acordar e ter a chance de, mais uma vez, contribuir para a construção de uma mundo melhor, a partir do burilamento de mim mesma, consciente de que o meu caminhar é influenciado pelo outro, ao mesmo tempo em que também influencio o caminhar daqueles com os quais cruzo pelo caminho. 

Agradecer e fazer o melhor que posso nas condições que tenho, sempre, ciente de não estar aqui a passeio, significa dizer que a entrega é com intensidade. Inteira. Sempre. Como é dito pelo profeta João no livro bíblico do Apocalipse, na vida não há espaço para o que é morno, metade.

“Conheço tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, porque és morno, nem frio nem quente, estou para vomitar-te da minha boca.” (Apocalipse 3:16)

No capítulo terceiro do livro escrito por João e os aprendizes dele – não há certeza de que este é o mesmo João evangelista, há quem diga que sim, há quem diga que não -, é ressaltado que cada um de nós é conhecido pelas próprias obras e que a orientação divina é a de que sejamos fervorosos, quentes ou frios. Morno, nunca, pois o morno será vomitado. 

E assim sigo na vida, intensa no riso, no choro, na mão que seguro e/ou naquela que largo. Na correção de rotas. Nos caminhos trilhados. No acolhimento de pessoas, projetos, da vida. Não há espaço para o que não é inteiro. Se eu for, estarei presente. Se eu sair, nem olho para trás.

Foto: Adriana Sá

O medo de, entre outras coisas, aglomerar para celebrar este novo começo é presente e real? Sim, com certeza. Mas, como bem disse a amiga que ainda está longe, sigo carente de ter os meus por perto. Carente de sentir a presença física e o abraço onde tudo cabe. Assumi o risco, fui inteira, me joguei, abracei e fui feliz.

Agora, com a energia recarregada porque o que alimenta a minha bateria é ter o meu grupo seleto perto de mim, sou só gratidão aos que seguem sendo a causa do sorriso que se faz em meu rosto ao lembrar dos encontros e reencontros que nos trouxeram até aqui com a promessa de que, também neste ciclo, agora em construção, a inteireza e a intensidade seguirão norteadoras da jornada. 

E, como dizem por aí, se der medo, vai com medo mesmo, porque na vida só deve haver espaço para o que e quem faz nossos olhos brilharem, o que não acontece diante do que é insípido, monótono e morno. Jamais.