Conclave para escolha do papa acontece tradicionalmente na Capela Sistina, no Vaticano
“Annuntio vobis gaudium magnum: habemus Papam!”. A frase que tradicionalmente abre o anúncio do papa voltará a ecoar pela Praça de São Pedro, no Vaticano, nos próximos dias. Em seguida, o sucessor do Papa Francisco, morto no último dia 21 de abril, irromperá a sacada da Basílica de São Pedro para saudar o público. Ao todo, 133 cardeais — representando 71 países diferentes — participam do processo de escolha do líder máximo da Igreja Católica. A eleição começa nesta quarta-feira (07) de maio. São os cardeais que têm poder de voto e de serem votados. Dentre eles, sete são brasileiros.
Para o arcebispo metropolitano de Natal, Dom João Santos Cardoso, o Conclave para eleger o 267º Pontífice poderá surpreender, a exemplo do que ocorreu na eleição do próprio Papa Francisco. Na eleição de 2013, o cardeal argentino Jorge Bergoglio não constava entre os favoritos para suceder o então papa Bento XVI, que renunciara ao cargo.
“Embora existam listas divulgadas pela mídia, expectativas e torcidas de diversos grupos, tanto dentro quanto fora da Igreja, a eleição do Papa nasce de um discernimento coletivo realizado no Colégio Cardinalício, em clima de oração, escuta do Espírito Santo e reflexão sobre os desafios enfrentados pela Igreja no tempo presente”, pontuou o arcebispo.
Após o sepultamento do Papa Francisco, no sábado (26), a Igreja Católica iniciou um período de luto de nove dias, conhecido como “novemdiales”, e este rito antecede o Conclave. Nesta segunda-feira (28), a Congregação Geral do Vaticano definiu a abertura do processo eleitoral para 7 de maio.
Ao todo, 252 membros do Colégio dos Cardeais foram convocados para Roma. Destes, apenas 135 estão aptos a votar, pois têm menos de 80 anos. No entanto, dois possíveis eleitores papais já cancelaram presença por motivos de saúde, reduzindo o número para 133.
Conclave seguirá normas tradicionais
Dom João Santos Cardoso ressaltou que o Conclave, embora envolto em recolhimento, não é um evento secreto. Seus princípios e procedimentos estão estabelecidos em documentos públicos da Santa Sé, como a Constituição Apostólica “Universi Dominici Gregis”, promulgada por São João Paulo II em 1996 e atualizada posteriormente por Bento XVI.
Durante a escolha do próximo Sumo Pontífice, os cardeais eleitores permanecem isolados na chamada “zona de Conclave” no Vaticano, sob juramento de segredo absoluto. As votações ocorrem na Capela Sistina e são limitadas a quatro por dia: duas pela manhã e duas à tarde.
Para a eleição, é necessário que o candidato alcance dois terços dos votos. Se forem confirmados 133 eleitores, serão exigidos ao menos 88 votos para a escolha do novo Papa.
Caso não haja consenso após três dias, é realizada uma pausa de 24 horas para oração. Novas pausas podem ocorrer a cada sete votações sem definição. Se, após 34 votações, não houver vencedor, os dois cardeais mais votados disputarão uma rodada final, ainda sob a exigência dos dois terços dos votos.
Os últimos dois Conclaves – que elegeram Bento XVI e Francisco – duraram apenas dois dias. Historicamente, no entanto, algumas eleições já se estenderam por semanas. Um dos episódios mais longos foi no século XIII, quando o Conclave demorou mais de dois anos para eleger o Papa Gregório X.
Cronograma das Votações e a Fumaça da Decisão
O Colégio Cardinalício e a Participação Brasileira
Ao todo, 133 cardeais, vindos de diversas partes do mundo, participarão da eleição. O Brasil conta com sete cardeais aptos a votar neste conclave:
ENTREVISTA – Dom João Santos Cardoso, Arcebispo metropolitano de Natal
Como analisa o processo de escolha do próximo Sumo Pontífice?
“A escolha do novo Papa é, acima de tudo, um processo espiritual e eclesial, profundamente marcado pela oração, pelo discernimento comunitário e pela escuta atenta do Espírito Santo. O Conclave não é um ritual secreto; seus princípios, ritos e procedimentos são públicos e estão amplamente disponíveis nos documentos oficiais da Santa Sé. As normas que regem o Conclave foram estabelecidas pela Constituição Apostólica ‘Romano Pontifici Eligendo’, promulgada pelo Papa Paulo VI em 1975. Posteriormente, foram atualizadas por São João Paulo II na Constituição Apostólica ‘Universi Dominici Gregis’, de 1996, com modificações introduzidas pelo Motu Proprio ‘Normas Nonnullas’ do Papa Bento XVI (2013). Mais do que um mero protocolo, trata-se de um momento de gravíssima responsabilidade diante de Deus e da Igreja. Os cardeais eleitores, reunidos em oração e recolhimento, buscam, à luz dos desafios do tempo presente, eleger aquele que possa conduzir a Igreja com sabedoria evangélica, fidelidade à Tradição e sensibilidade aos sinais dos tempos. Por isso, o resultado do Conclave pode muitas vezes surpreender, como aconteceu com a eleição do Papa Francisco – um gesto do Espírito que rompeu expectativas humanas e ofereceu à Igreja um pastor segundo o coração de Cristo.”
Temos chance de ter um Papa brasileiro?
“Teoricamente, sim. O Brasil, com sete cardeais eleitores, está entre os países com maior representação no Colégio Cardinalício. Contudo, o Conclave não se pauta por nacionalidades, campanhas ou estratégias humanas. Embora existam listas divulgadas pela mídia, expectativas e torcidas de diversos grupos, tanto dentro quanto fora da Igreja, a eleição do Papa nasce de um discernimento coletivo realizado no Colégio Cardinalício, em clima de oração, escuta do Espírito Santo e reflexão sobre os desafios enfrentados pela Igreja no tempo presente. O que realmente importa é que o eleito, seja de qual nação for, possa servir à Igreja com humildade, fidelidade ao Evangelho e à Tradição, firmeza de espírito e profunda comunhão eclesial.”
Acredita que será um nome alinhado com o Papa Francisco ou a tendência é de se escolher um nome diferente, mais tradicional e conservador?
“As classificações entre ‘conservador’, ‘progressista’ ou ‘tradicional’ não capturam adequadamente a complexidade do momento e da pessoa que será escolhida. O perfil do próximo Papa dependerá não apenas de sua trajetória pessoal, mas também do contexto espiritual e pastoral em que a Igreja se encontra. Os tempos atuais exigem uma liderança fiel ao Evangelho e à Tradição, capaz de garantir a unidade da Igreja e, ao mesmo tempo, sensível aos apelos do Espírito Santo, e que responda com criatividade e coragem aos novos desafios pastorais. O Espírito sopra onde quer, e os cardeais eleitores, atentos às necessidades do mundo contemporâneo e guiados pela oração e pelo sensus Ecclesiae, certamente buscarão eleger aquele que possa conduzir a Igreja com fidelidade, com renovado ardor missionário, espírito de comunhão e audácia evangélica. Como sempre, o clima espiritual, o sensus Ecclesiae e o espírito do tempo (zeitgeist) exercerão influência relevante nesse discernimento.”
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