Larissa Góis amamentou a primeira filha até 1 ano e 11 meses. Agora, amamenta o filho de um mês
Larissa Góis amamentou a primeira filha até 1 ano e 11 meses. Agora, amamenta o filho de um mês – Foto: Gab Campello

Sacia a fome, contribui para a melhora nutricional, reduz as chances de obesidade, hipertensão e diabetes, diminui os riscos de infecções e alergias, além de provocar um efeito positivo na inteligência e no vínculo entre a mãe e o bebê. Esses são os benefícios do leite materno, considerado o alimento mais completo para os recém-nascidos.

Mesmo com os inúmeros benefícios, apenas 39% dos bebês brasileiros são amamentados com exclusividade até os cinco meses de vida, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

De acordo com especialistas, é fundamental que a criança receba o leite materno como única fonte de alimento até os seis meses, pois é repleto de anticorpos, fundamentais para a saúde e a resistência a doenças. No entanto, a sugestão é que a prática da amamentação continue até os dois anos ou mais pois, mesmo com a introdução da alimentação complementar após o sexto mês, a amamentação continua a oferecer vantagens para a criança e para a família.

Para a criança, o aleitamento materno promove menor prevalência de doenças infecciosas como otite, pneumonia e gastroenterite. A médio e longo prazo, os efeitos para a saúde da criança amamentada são: menor prevalência de obesidade, dislipidemias e doenças alérgicas. Para a família, a amamentação é mais prática e tem menor custo, além de promover o contato mais íntimo entre mãe e filho.

Larissa Gois é médica, mãe de uma menina de 2 anos e 9 meses e de um recém-nascido de quase 1 mês. Ela conta que, mesmo em meio a dificuldades, conseguiu amamentar a mais velha por 1 ano e 11 meses. “Por ser médica e saber os benefícios da amamentação, sempre quis amamentar os 6 meses exclusivos. Após isso, não sabia como seria e o quanto conseguiria. Quando minha filha completou 4 meses, descobrimos APLV (uma reação do sistema imunológico às proteínas do leite de vaca). Aí precisei tirar leite e até soja da minha dieta para ela melhorar. Fiz dieta restrita por cerca de 4 meses e ela melhorou”, contou a médica neurologista de 35 anos.

A amamentação foi suspensa após quase dois anos pois, de acordo com a mãe, o sono da filha estava desregulado. “Ela ainda acordava pelo menos 4 vezes à noite para mamar. E eu já trabalhava e estava muito desgastante. Afinal, já estava há quase 2 anos despertando diversas vezes à noite. Aí fui retirando aos poucos”, explicou.

Com o filho mais novo, Larissa pretende amamentar por, pelo menos, 1 ano. “Por causa da pandemia, eu só voltei a trabalhar quando minha filha completou 7 meses. Mas com ele, voltarei a trabalhar mais cedo. Farei de tudo para amamentá-lo por, pelo menos, 1 ano”, disse.

A mãe, que também é médica, deu um conselho às atuais e futuras lactantes: “Sei que nem sempre é possível para todas as mães, mas penso que se deve manter a amamentação até quando for bom e possível para mãe e filho. Não tenho dúvidas de que essa prática fortalece o vínculo materno e traz segurança para a criança”, afirmou.

Mitos e verdades

Um dos passos fundamentais para ter sucesso na amamentação é as mães estarem bem informadas, mas é importante ficar atentas às informações adquiridas, pois há muitos mitos sobre esse processo. Como por exemplo: ‘quem teve parto normal produz mais leite’. Ou: ‘tem mulher que produz leite mais fraco’. E até mesmo: ‘leite materno e fórmulas são iguais’. Todas essas informações são falsas.

“Existem vários conceitos distorcidos a respeito da amamentação. A questão do ‘leite fraco’, é porque o bebê que mama em livre demanda pode querer mamar a cada duas, três, quatro horas, mas também pode ser a cada hora. Depende do momento. E isso pode dar a sensação de que esse leite não ‘sustenta’ por muito tempo a criança, diferente do que poderia acontecer com a fórmula. Mas, por mais que hoje a produção dessas fórmulas esteja avançada, não se equipara ao leite materno”, explicou a pediatra Carla Lima.

De acordo com a médica, o leite materno não é apenas sobre nutrição, mas também sobre imunidade. “A amamentação tem um papel importantíssimo na formação orofacial da criança, que vai interferir mais para frente na alimentação futura”, disse.

Sobre o tipo de parto e a produção do leite, a especialista explicou que não há relação entre os dois fatores. “O que faz a mulher produzir leite é o bebê sugando o peito. Acontece que, em um parto onde não há um trabalho de parto prévio, como em algumas cesáreas eletivas, pode acontecer o que chamamos de ‘atraso na apojadura’ – um retardo de até 48 horas na descida do leite. Mas é algo rápido, que não afeta a qualidade do leite e não justifica uma intervenção com fórmula”, detalhou Dra. Carla.

Agosto Dourado

O Agosto Dourado simboliza a luta pelo incentivo à amamentação – a cor dourada está relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno. Em apoio ao Agosto Dourado e à Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM), o Hospital Infantil Varela Santiago promove, durante todo o mês, uma série de atividades que visam educar as pessoas, de todos os níveis, para torná-las suporte para a mãe que amamenta.

Com o tema “Fortalecer Amamentação: Educando e Apoiando”, serão oferecidas diversas atividades para colaboradores e o público da área de saúde. “Vamos realizar atividades de educação dentro da instituição, incluindo os profissionais, colaboradores, pacientes e acompanhantes. O objetivo é trazer esse assunto para a pauta, dar oportunidade de desfazer mitos e aperfeiçoar o trabalho do profissional da saúde nessa área do conhecimento”, explicou a pediatra Carla Lima.

Doações

O Brasil tem 222 bancos de leite humano e 219 postos de coleta. Um desses bancos, localizado em Natal, fica na Maternidade Escola Januário Cicco. Lá a situação está crítica, pois as doações reduziram e muitos bebês precisam do alimento para sobreviver, principalmente aqueles que nasceram prematuros.

Para estimular o aumento de doações, a Maternidade também está promovendo uma série de ações durante o Agosto Dourado. “É uma ação voltada tanto para o ensino de alunos quanto para grupos de apoio à amamentação. Pedimos que as mães que tiverem leite em excesso doem, para que a gente possa atender às necessidades dos bebês que estão impossibilitados de sugar, ou das mães que estão impossibilitadas de amamentar”, pediu a coordenadora do banco de leite, Ana Zélia Pristo.

Para doar, basta entrar em contato com a Maternidade Januário Cicco através do número (84) 3342-5800.