A Olimpíada Nacional GLOBE Brasil promoverá, entre os dias 28 de novembro e 1º de dezembro, uma imersão científica no Rio Grande do Norte com estudantes de diferentes regiões do país
A programação incluirá atividades de campo em Macau, Assu, Caicó e Natal, integrando protocolos científicos internacionais, observações territoriais, diálogo com comunidades tradicionais e análises ambientais
Publicado 27 de novembro de 2025 às 10:20
A Olimpíada Nacional GLOBE Brasil promoverá, entre os dias 28 de novembro e 1º de dezembro, uma imersão científica no Rio Grande do Norte com estudantes de diferentes regiões do país. A programação incluirá atividades de campo em Macau, Assu, Caicó e Natal, integrando protocolos científicos internacionais, observações territoriais, diálogo com comunidades tradicionais e análises ambientais em múltiplos ecossistemas. A ação seguirá as diretrizes do Programa GLOBE, iniciativa global apoiada pela NASA, que incentiva o protagonismo estudantil na investigação ambiental.
A Olimpíada Nacional GLOBE Brasil é uma iniciativa de educação científica realizada pelo Programa GLOBE Brasil, em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB), a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a Secretaria de Estado da Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer do Rio Grande do Norte (SEEC/RN), a FAPERN, com apoio do CNPq e da Mútua/RN. Integrando um movimento internacional coordenado pela NASA, a Olimpíada conecta estudantes e professores de diferentes regiões do país ao universo da ciência cidadã, aproximando a prática pedagógica de metodologias científicas aplicadas aos desafios ambientais do presente e do futuro.
A proposta da ONGB é formar jovens protagonistas da investigação ambiental. Ao participar da Olimpíada, estudantes são incentivados a observar seus territórios, identificar problemas reais que impactam suas comunidades e desenvolver pesquisas baseadas em dados coletados por eles mesmos, a partir dos protocolos oficiais do Programa GLOBE. Mais do que competir, a iniciativa valoriza o desenvolvimento de competências científicas, pensamento crítico, responsabilidade socioambiental e engajamento coletivo. Equipes são formadas por até quatro estudantes do 8º ou 9º ano do Ensino Fundamental II ou do Ensino Médio, acompanhados por um professor orientador. Escolas públicas e privadas de todo o Brasil podem participar, e todas as equipes passam por um processo de inscrição e homologação antes de ingressar na trilha formativa.
A Olimpíada foi estruturada em seis fases que combinam atividades online e presenciais. As duas primeiras fases tiveram caráter eliminatório com um vídeo de apresentação, contextualizando o problema ambiental escolhido, e início da coleta de dados ambientais. As etapas seguintes são classificatórias e aprofundam o processo investigativo: relatório parcial, relatório final, apresentação oral e, por fim, o encontro nacional que reúne os melhores projetos do país. Ao longo das fases, os estudantes realizam medições de solo, água, atmosfera e cobertura da terra, analisam impactos ambientais e constroem recomendações que conectam ciência e cidadania.
Para a professora Mariana Almeida, coordenadora da Olimpíada, a ONGB cumpre um papel fundamental na formação de uma nova geração cientificamente engajada e socialmente consciente. “A Olimpíada forma um novo perfil de estudante: alguém que observa, registra, analisa e age. Quando os jovens se apropriam do território com olhar científico, eles se tornam protagonistas das soluções que o mundo precisa. A ONGB não prepara apenas para uma competição, ela prepara para uma cidadania ambiental ativa e transformadora”, afirma.
A etapa da Olimpíada Nacional GLOBE Brasil realizada na Estação Salineira de Macau marcará o início das atividades de campo no Rio Grande do Norte, aproximando estudantes do funcionamento de um dos ecossistemas produtivos mais emblemáticos do estado. Durante a visita, as equipes realizarão uma série de medições ambientais seguindo os protocolos internacionais do Programa GLOBE, incluindo temperatura do ar, umidade relativa, velocidade dos ventos e observação de nuvens pelo aplicativo GLOBE Observer. No solo, os estudantes analisarão densidade e pH, enquanto na água realizaram medições de salinidade e pH, compondo um panorama completo das condições ambientais da região.
Além das análises científicas, os estudantes serão orientados a registrar observações sobre os aspectos sociais do território, incluindo o impacto econômico das salinas, a relação da comunidade local com a atividade salineira e a importância histórica desta cadeia produtiva. As equipes também serão avaliadas quanto à participação, à colaboração e à capacidade crítica, refletindo sobre como as atividades humanas transformam a paisagem e influenciam o equilíbrio ambiental.
Para a professora Mariana Almeida, coordenadora da ONGB, esse primeiro contato dos estudantes com um ambiente produtivo é fundamental para o processo investigativo. “A salina é um lugar onde a ciência aparece de forma muito concreta. A água evapora, o sal cristaliza e o território se revela em mudanças que podem ser medidas. Quando os estudantes observam isso com instrumentos na mão, eles percebem que a ciência está diante deles e não apenas nos livros”, afirma.
Em Macau os estudantes vão conhecer a comunidade das marisqueiras, onde poderão compreender de perto a dinâmica social, produtiva e ambiental do território. As equipes conversarão com trabalhadoras da mariscagem, observarão formas de coleta e conheceão as relações econômicas que sustentam a atividade tradicional. Seguindo os protocolos científicos do Programa GLOBE, os estudantes realizarão medições da qualidade da água em pontos próximos à área de extração, avaliando pH, temperatura, cor da água, presença de matéria orgânica e salinidade. Também registrarão observações de nuvens, ventos e fatores climáticos que influenciam diretamente a disponibilidade dos recursos naturais utilizados pela comunidade. A visita destacará ainda o impacto das mudanças climáticas sobre populações pesqueiras, o avanço do mar e a vulnerabilidade das mulheres que dependem do marisco como fonte de sustento. “Quando uma equipe conversa com as marisqueiras, ela entende que a ciência não está separada da vida real. Cada medida da água ali tem um impacto direto no trabalho, e essa percepção transforma o olhar dos estudantes”, explica Mariana Almeida.
Esta etapa a ser realizada no município de Assu reunirá elementos de hidrologia, ecologia, urbanismo e análise da paisagem. Os estudantes investigarão áreas próximas ao rio Açu, comparando trechos mais preservados com espaços afetados pela ocupação urbana. As equipes realizarão medições de pH, turbidez, temperatura e transparência da água, além de registrarem indicadores de uso e cobertura do solo. Também observarão espécies vegetais nativas, como áreas de mangue e trechos restaurados, relacionando a saúde dos ecossistemas à dinâmica social do entorno. Parte importante da atividade será dedicada ao estudo das nascentes urbanas, frequentemente ameaçadas por entupimento, lixo, esgoto ou canalização inadequada. Os estudantes analisarão as pressões ambientais e discutirão possíveis soluções de baixo custo, como cercamento, educação ambiental e monitoramento contínuo. “Assu mostra que nem sempre o problema é a falta de natureza, mas sim como nos relacionamos com ela. Quando os estudantes percebem que uma nascente inteira pode ser salva com pequenas ações, eles entendem o poder da participação social”, destaca a coordenadora.
No Seridó, os estudantes da ONGB vivenciarão uma das etapas mais ricas do ponto de vista geológico e social. Em Caicó, as equipes analisarão o solo sertanejo seguindo os protocolos GLOBE de textura, coloração, densidade e pH, caracterizando o ambiente semiárido típico da região. Também serão observados indicadores de cobertura vegetal, infiltração e erosão, relacionando ciência e manejo do território. Os participantes registrarão dados atmosféricos, como observação de nuvens, velocidade do vento e umidade relativa, elementos fundamentais para entender o regime climático do sertão. Além das medições, haverá um forte componente social, com diálogos sobre convivência com a seca, economia local, agricultura familiar e resiliência comunitária. Para Mariana Almeida, Caicó oferece ao estudante uma compreensão profunda de como ciência e sociedade caminham juntas. “O sertão é um laboratório vivo. Quando o estudante analisa o solo e conversa com uma família agricultora no mesmo dia, ele entende que todo dado científico tem uma história por trás”, afirma.
No dia 29, a expedição seguirá para a comunidade de Diogo Lopes e para a Reserva da Ponta do Tubarão, onde os estudantes farão uma investigação aprofundada sobre um dos ecossistemas mais importantes do litoral brasileiro: os manguezais. O mangue será compreendido não apenas como um ambiente natural, mas como um sistema vivo de raízes, nutrientes, biodiversidade e relações ecológicas que sustentam toda a cadeia produtiva costeira.
Os participantes realizarão medições completas envolvendo clima, solo, vegetação e água. Serão aplicados protocolos de temperatura e pH do solo, densidade do solo, transparência da água, salinidade, oxigênio dissolvido, nitrato e temperatura da água, além de observações sistemáticas de macroinvertebrados e de aves. Usando o GLOBE Observer, registrarão também cobertura do solo e estrutura das árvores, o que permitirá uma leitura mais ampla sobre o estado de conservação do ecossistema.
Essa etapa destacará o papel dos manguezais como berçários naturais da vida marinha, como espaços essenciais para a mitigação das mudanças climáticas e como território profundamente conectado às comunidades pesqueiras da região. Os estudantes serão convidados a refletir não apenas sobre os dados coletados, mas também sobre processos de uso e ocupação do solo, impactos ambientais e estratégias de preservação.
Para a professora Mariana Almeida, essa vivência é decisiva. “Quando um jovem coloca os pés no mangue, ele está entrando no coração de um ecossistema que pulsa vida. É impossível sair de lá sem compreender que ciência, sociedade e ambiente são inseparáveis”, ressalta.
No domingo, os estudantes chegarão ao Estuário das Ostras, em Tibau do Sul, um ambiente sensível e dinâmico onde águas doces e salgadas se encontram, formando um dos sistemas ecológicos mais complexos da região. A atividade permitirá analisar mudanças na salinidade, nos nutrientes e na biodiversidade, além de compreender como pequenos desequilíbrios ambientais podem afetar toda a vida do estuário.
Durante a visita, os jovens aplicarão protocolos de clima, solo e água, medindo temperatura, pH, densidade do solo, salinidade, oxigênio dissolvido, nitrato e transparência da água. Também farão monitoramento das árvores e da cobertura do solo com o GLOBE Observer, aprofundando a compreensão da estrutura ecológica do local.
Essa etapa é fundamental para discutir o papel dos estuários na reprodução de espécies, na purificação natural das águas e na proteção da linha costeira. Os estudantes também serão estimulados a refletir sobre os impactos de atividades humanas, como turismo desordenado, esgoto e ocupação irregular, que podem comprometer a saúde desses ambientes.
A expedição se encerrará na Baía dos Golfinhos, em Pipa, um dos cenários mais emblemáticos do Rio Grande do Norte. Nesta etapa, os estudantes observarão processos costeiros, erosão, dinâmica das marés e interações entre solo, fauna marinha e qualidade da água.
Serão realizadas análises semelhantes às etapas anteriores, permitindo a comparação entre ambientes e o entendimento de como fatores como salinidade, nutrientes, temperatura e transparência da água variam dentro do mesmo litoral. Os jovens também analisarão macroinvertebrados para compreender o estado ecológico da região, afinal, esses organismos funcionam como indicadores biológicos da saúde marinha.
Além da dimensão científica, a Baía dos Golfinhos proporcionará reflexões sobre a presença de cetáceos, a importância do turismo responsável e os desafios de conservação em áreas de grande fluxo humano.
O encerramento oficial das atividades da Olimpíada Nacional GLOBE Brasil no Rio Grande do Norte reunirá as equipes em Natal para a socialização dos resultados e avaliação final. Cada grupo apresentará seus dados coletados ao longo dos três dias de expedição, interpretando gráficos, tabelas, fotografias e narrativas territoriais. A banca avaliadora, composta por cientistas, professores e tutores do Programa GLOBE, analisará critérios como rigor dos protocolos, clareza das explicações, criatividade na apresentação e capacidade de relacionar ciência, sociedade e território. O encontro também celebrará a participação das escolas, valorizando o protagonismo estudantil e a construção coletiva do conhecimento. Segundo Mariana Almeida, o encerramento marca mais do que o fim de uma etapa: representa a formação de uma nova geração de jovens pesquisadores. “Quando eles mostram seus resultados, percebemos que não vieram apenas coletar dados. Eles aprenderam a interpretar o mundo, e isso é um ganho que nenhum prêmio substitui”, conclui.
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