A COP30 acabou com pouco avanço real e sem consenso sobre combustíveis fósseis, apesar de novos anúncios de financiamento climático. | Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
A COP30, realizada em Belém, no Pará, terminou com um acordo mínimo e longe das expectativas criadas para a conferência climática sediada na Amazônia. O encontro deixou de fora pontos essenciais para conter o aquecimento global, mas confirmou o compromisso de países ricos em ampliar o financiamento para nações vulneráveis.
A seguir, os principais pontos do que ficou decidido — e do que acabou ficando pelo caminho.
O Brasil abriu a conferência pressionando por um plano claro para avançar na promessa feita na COP28: iniciar a transição global para abandonar os combustíveis fósseis.
Mas a iniciativa não prosperou. Países produtores de petróleo e nações dependentes de carvão e gás bloquearam qualquer menção ao tema no documento final.
Sem consenso, a presidência brasileira lançou apenas um plano voluntário, sem obrigação de adesão. O resultado repetiu o cenário das COPs anteriores: mais verbas prometidas, mas nenhum avanço sobre a principal fonte das emissões — carvão, petróleo e gás, responsáveis por quase três quartos dos gases de efeito estufa desde 2020.
Relatório divulgado pela Agência Internacional de Energia durante a conferência apontou ainda que a demanda por combustíveis fósseis deve continuar crescendo até 2050, frustrando expectativas de uma rápida transição para energias limpas.
Houve consenso apenas em um ponto: a necessidade de cooperação global e de maior responsabilidade dos países ricos, historicamente os maiores poluidores.
Mesmo assim, para chegar a um acordo final, quase todas as metas mais ambiciosas foram retiradas. Propostas de redução obrigatória de emissões ficaram de fora.
A ausência dos Estados Unidos nas negociações também pesou. Sem a maior economia do mundo — e maior emissor histórico — países alinhados ao petróleo se sentiram fortalecidos para barrar avanços.
O modelo atual de consenso, que permite a poucos vetarem decisões globais, voltou ao centro das críticas e aumentou o apelo por reformas no processo de negociação climática.
Sem a presença física do presidente Xi Jinping, a China atuou nos bastidores, mas de forma vigorosa. A delegação chinesa reforçou a mensagem de que o país está pronto para liderar a oferta de tecnologias limpas, como painéis solares, baterias e veículos elétricos.
No pavilhão chinês, empresas do setor foram destaque logo na entrada do evento, sinalizando a estratégia do país para dominar a cadeia da transição energética.
Índia e África do Sul também tiveram atuação mais robusta este ano, com agendas próprias vinculadas ao clima e ao desenvolvimento.
Sediada no coração da Amazônia, a COP30 deu visibilidade ao papel das florestas e dos povos indígenas na proteção das áreas naturais.
Apesar disso, muita insatisfação marcou os debates. Representantes indígenas e de comunidades tradicionais protestaram por falta de voz nas decisões e chegaram a entrar em confronto com a segurança do evento.
No campo financeiro, países anunciaram cerca de US$ 9,5 bilhões para a proteção florestal — incluindo US$ 7 bilhões destinados ao fundo brasileiro para florestas tropicais e outros US$ 2,5 bilhões para iniciativas no Congo.
Mesmo assim, a conferência terminou com frustração: não houve avanço no plano global para zerar o desmatamento até 2030, e questões sobre proteção territorial ficaram fora do acordo final.
Outro ponto crítico foi a fragilização do consenso científico. Mesmo com discursos contra a desinformação, o texto final evitou reconhecer o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) como referência central.
A COP30 equiparou relatórios regionais e nacionais ao trabalho do IPCC, o que foi visto por especialistas como um recuo preocupante.
Ao ignorar medidas sobre combustíveis fósseis e metas obrigatórias, o acordo também deixou de responder aos alertas feitos pela comunidade científica sobre a urgência da ação global.
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