Opinião

Postura The New York Times elogia Lula: “Ninguém desafia Trump como o presidente do Brasil”

Um dos principais e mais tradicionais meios de comunicação estadunidense elogia postura adotada por Lula diante das sanções políticas impostas pelo presidente americano para defender Bolsonaro

por: Foto do autor Daniela Freire

Publicado 1 de agosto de 2025 às 17:52

Um dos principais jornais tradicionais dos EUA ,o The New York Times, elogiou a postura adotada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva frente à chantagem política feita por Donald Trump para tentar livrar o ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentar acabar com a democracia brasileira, da prisão.

A reportagem, publicada nesta quarta-feira, às vésperas da entrada em vigor de tarifas de 50% impostas por Donald Trump contra produtos brasileiros, foi intitulada “Ninguém desafia Trump como o presidente do Brasil”. Nela, Lula reafirmou que o Brasil negociará como país soberano e que não aceitará participar de uma Guerra Fria contra a China.

Ele também garantiu que o governo brasileiro tentou negociar, designando ministros para contatos com os EUA, mas “ninguém quis conversar”.

O período deixou claro que enquanto muitos líderes mundiais evitam confrontos diretos com Trump, Lula adota uma postura diferente: está enfrentando o ex-presidente dos EUA de frente. “Talvez ele não saiba que, no Brasil, o Judiciário é independente”, disse Lula ao NYT, em sua primeira ao jornal em 13 anos.

Ele destacou ainda que os consumidores americanos arcarão com os custos da taxação, já que produtos como café e carne ficarão mais caros, e reforçou: “Não negociaremos como um país pequeno diante de um grande”.

Veja um compilado da entrevista 👇

Questionado pelo jornalista Jack Nicas se não teme que as críticas abertas que têm feito ao presidente Donald Trump atrapalhem as negociações, Lula disse que não há motivo para medo, apesar de estar preocupado com o tarifaço devido aos interesses econômicos, políticos e tecnológicos do Brasil.

“Mas em nenhum momento o Brasil negociará como se fosse um país pequeno contra um país grande. O Brasil negociará como um país soberano. Na política entre dois Estados, a vontade de nenhum deve prevalecer. Precisamos sempre encontrar um meio-termo. Isso não se consegue estufando o peito e gritando sobre coisas que não se pode realizar, nem abaixando a cabeça e simplesmente dizendo ‘amém’ a tudo o que os EUA desejam”, afirmou Lula.

O presidente brasileiro disse ainda que, caso as tarifas de 50% tenham sido aplicadas por causa do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, então os consumidores brasileiros e norte-americanos vão acabar pagando mais caro por alguns produtos.

“Acho que a causa não merece isso. O Brasil tem uma Constituição, e o ex-presidente está sendo julgado com pleno direito de defesa”, afirmou.

O ex-presidente Jair Bolsonaro é acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado após perder as eleições de 2022. Segundo a denúncia, ele pressionou os comandantes militares para suspender o resultado do pleito. Bolsonaro nega as acusações.

Lula disse que não é possível misturar questões políticas com comerciais, como fez Trump.

“Se ele quer ter uma briga política, então vamos tratá-la como uma briga política. Se ele quer falar de comércio, vamos sentar e discutir comércio. Mas não se pode misturar tudo”, argumentou.

O presidente brasileiro justificou que não pode exigir, por exemplo, que os Estados Unidos suspendam o bloqueio econômico à Cuba para negociar alguma outra exigência comercial.

“Não posso fazer isso, por respeito aos Estados Unidos, à diplomacia e à soberania de cada nação”, completou.

Sem diálogo

O jornalista do New York Times perguntou por que Lula não ligou para Trump para explicar a situação do julgamento de Bolsonaro. Segundo Lula, ninguém em Washington quer conversar.

“Designei meu vice-presidente, meu ministro da Agricultura, meu ministro da Economia, para que cada um possa conversar com seu homólogo e entender qual seria a possibilidade de diálogo. Até agora, não foi possível”, explicou.

Lula relatou que o governo teve 10 reuniões sobre comércio com o Departamento de Comércio americano e que, em 16 de maio, enviou uma carta pedindo uma resposta.

“A resposta que recebemos foi por meio do site do presidente Trump, anunciando as tarifas sobre o Brasil. Espero, portanto, que a civilidade retorne à relação Brasil-EUA. O tom da carta dele é definitivamente o de alguém que não quer conversar”, disse.

Guerra Fria

Questionado pelo New York Times sobre o que o Brasil vai fazer se as tarifas entrarem em vigor, Lula disse que “não vai chorar o leite derramado” e que o país vai procurar quem queira comprar os produtos brasileiros. Também destacou que não aceita entrar em uma Guerra Fria contra a China.

“Temos uma relação comercial extraordinária com a China. Se os Estados Unidos e a China quiserem uma Guerra Fria, não aceitaremos. Não tenho preferência. Tenho interesse em vender para quem quiser comprar de mim, para quem pagar mais”, afirmou.

Na segunda-feira (28), a China informou que “está pronta” para trabalhar com o Brasil para defender um sistema multilateral de comércio centrado na Organização Mundial do Comércio (OMC) e com equidade e justiça. O país asiático criticou as tarifas de 50% impostas pelos EUA ao Brasil.