Estudo aponta custos, desafios e impactos da Tarifa Zero em Natal. | Foto: STTU
Levantamento nacional coloca Natal entre as capitais com menor custo para adotar transporte gratuito, mas especialistas alertam para desafios financeiros e operacionais
Publicado 7 de dezembro de 2025 às 10:35
A implantação da Tarifa Zero no transporte público de Natal custaria cerca de R$ 230 milhões por ano, segundo o estudo “Caminhos para Tarifa Zero”, feito por pesquisadores de várias instituições brasileiras. Entre as capitais analisadas, Natal aparece com um dos menores custos operacionais. O valor sobe para R$ 336 milhões anuais quando incluída toda a Região Metropolitana e viagens entre municípios. As estimativas consideram custos por quilômetro rodado e por passageiro transportado.
A Tarifa Zero prevê gratuidade total para todos os usuários. Letícia Birchal, professora da Universidade de Brasília (UnB) e uma das autoras do estudo, explica que o custo em Natal é menor por causa do porte da cidade. Segundo ela, municípios que já adotaram o modelo registraram aumento no comércio e mais empregos formais, graças ao dinheiro economizado pelos usuários.
Birchal afirma que Natal tem condições de ser a primeira capital brasileira a implantar a política em larga escala, segundo informações da Tribuna do Norte. Hoje, a Tarifa Zero está presente principalmente em cidades pequenas, como Maricá (RJ) e Caucaia (CE).
O estudo sugere substituir o vale-transporte por uma contribuição fixa das empresas de cidades com mais de 50 mil habitantes. Negócios com até nove funcionários ficariam isentos — o que representa 83% dos CNPJs. O cálculo considera ainda um acréscimo de 20% no custo para ampliar a frota diante do aumento da demanda.
Mas especialistas locais são cautelosos. O engenheiro Carlos Batinga, ex-superintendente de Transportes Urbanos de Natal, afirma que nenhuma cidade consegue bancar sozinha o modelo. Ele defende a participação dos governos federal, estadual e municipal, como já ocorre no financiamento do SUS.
Para Batinga, implantar a Tarifa Zero sem reformar o sistema pode gerar superlotação, dificuldade para expandir linhas e risco de piora na qualidade do serviço.
A secretária de Mobilidade Urbana, Jódia Melo, diz que o valor estimado pelo estudo, embora pareça pequeno frente ao orçamento total, ocupa uma parte relevante das contas após descontadas as despesas obrigatórias. Ela afirma que a Tarifa Zero é possível, mas exige planejamento para não comprometer o orçamento municipal.
Segundo Melo, a frota atual já precisa de ampliação e modernização, prevista na nova licitação. Se a demanda aumentar rapidamente com a gratuidade, a cidade pode enfrentar redução de viagens, maior espera e descumprimento do direito ao transporte.
Birchal explica que R$ 40 milhões dos R$ 230 milhões estimados seriam destinados à ampliação da frota. Mas lembra que alguns municípios com Tarifa Zero não precisaram aumentar o número de ônibus.
Já o professor da UFRN Rubens Ramos calcula que o custo da Tarifa Zero representaria 4% a 5% do orçamento anual de Natal, hoje em torno de R$ 5 bilhões. Ele defende financiar o modelo com tributos já existentes, sem criar novos impostos, e considera possível reorganizar gastos para alcançar esse percentual.
O pesquisador Rubens Ramos destaca possíveis benefícios da Tarifa Zero, como queda nos acidentes de moto, mais acesso ao emprego e aumento no movimento do comércio. No entanto, o cotidiano dos usuários mostra desafios atuais do sistema.
Moradora da Zona Norte, Francisca Pereira afirma que seu filho gasta muito com passagens para tratamento médico. A estudante Flávia dos Santos, que depende do ônibus para a faculdade, diz que o valor pesa no fim do mês. Já a vendedora Luciana Silva reclama da demora e da qualidade dos veículos.
Lenilda Nobrega, também da Zona Norte, relata esperar por mais de um ônibus para conseguir chegar ao destino: “o preço é alto demais para a qualidade que a gente recebe”.
Receba notícias em primeira mão pelo Whatsapp
Assine nosso canal no Telegram
Siga o NOVO no Instagram
Siga o NOVO no Twitter
Acompanhe o NOVO no Facebook
Acompanhe o NOVO Notícias no Google Notícias