Violência sexual na infância e adolescência: atendimento médico inicial pode evitar danos à saúde
Robinson Dias, presidente da Sogorn – Foto: Divulgação

Nesta quinta-feira (18), é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Sobre o assunto, o ginecologista Robinson Dias, presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do RN (Sogorn), esclarece o papel do profissional ginecologista na atenção à saúde da criança e adolescente vítima de violência sexual, bem como os tratamentos e intercorrências comuns da infância e adolescência.

De acordo com levantamento inédito realizado pelo Unicef em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado em 2021, a cada hora, cinco crianças ou adolescentes, entre 0 e 19 anos, são vítimas de violência sexual no Brasil. O estudo revela ainda que a maioria das vítimas (quase 80%) são meninas. O levantamento foi realizado através de uma análise dos boletins de ocorrência registrados em todos os 27 estados do País entre 2016 e 2020, solicitados por meio da Lei de Acesso à Informação.

Os sinais e consequências geradas pela violência sexual são visíveis no contexto psicológico da criança, como também no corpo. Há riscos para a saúde, caso não haja um tratamento adequado e de imediato. “Existem alguns detalhes que não são habituais no exame físico da menina, como, por exemplo, o corrimento vaginal decorrente de uma relação sexual, a presença de lesão na vulva, ou até sinais e infecções próprias do HPV, doença transmitida exclusivamente por uma relação sexual”, aponta Dias.

Nessas situações, em consultório, o especialista explica que o profissional deve focar na redução dos agravos na saúde de ordem genital e psicológica que possam existir. “O papel do ginecologista é identificar a violência, tratar a menina objetivando a redução dos agravos na saúde e prevenção de doenças, e conduzir a um atendimento na esfera multiprofissional, com auxílio dos profissionais de psicologia”, explica o presidente da Sogorn.

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Infelizmente, ainda existem barreiras para que crianças e adolescentes, vítimas de violência, enfrentam para obter assistência à saúde. Segundo Dias, muitas delas atreladas à complexidade que diz respeito à questão da violência sexual. “Nos casos que envolvem vulneráveis, temos desde a falta de autonomia e dependência de outras pessoas para obter ajuda e assistência até a completa falta de informação e despreparo das equipes profissionais para prover atendimento integral e reduzir danos”, relata.

O ginecologista afirma que é essencial ao profissional da saúde priorizar o acolhimento da vítima e sua família, procurando tratar os agravos à saúde decorrentes da agressão sexual, incluindo a profilaxia e tratamento das doenças sexualmente transmissíveis e infecção pelo HIV, a prevenção da gravidez indesejada decorrente do estupro. Em seguida, é necessário promover as informações sobre direitos, prover o seguimento ambulatorial e o suporte psicológico necessário, bem como a comunicação ao Conselho Tutelar e a notificação compulsória.

Robinson Dias alerta ainda que é necessário o profissional ter o conhecimento sobre as instituições participantes da rede de proteção e apoio às crianças e adolescentes. “Se é uma vítima abaixo de 14 anos, é indicado ao médico fazer a notificação do caso ao conselho tutelar, caso a família não tenha feito isto, para um adequado acolhimento e proteção da criança e família também”, realça.