Indústria potiguar - Foto: Arquivo/Assecom

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Economia Programas de incentivo industrial completam 40 anos no RN

Número de indústrias saltou de 851 para 5.644 em quatro décadas, com presença de unidades em 161 dos 167 municípios. Natal e Mossoró concentram 41% da atividade industrial potiguar

por: NOVO Notícias

Publicado 29 de setembro de 2025 às 15:00

Os programas de incentivo à produção industrial do Rio Grande do Norte completam quatro décadas, um período marcado por profundas transformações no perfil econômico do estado. Entre os sucessos e os percalços do setor, o número total de indústrias saltou de 851 estabelecimentos em 1985 para 5.644 em 2024 — descontando os dados da construção civil —, um avanço superior a 560%, segundo dados da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN).

Apesar do crescimento ao longo de 40 anos, a trajetória industrial potiguar não foi linear. Entre 2015 e 2020, o estado enfrentou uma retração de 5% no número de empreendimentos, que caíram de 4.328 para 4.078. O recuo foi influenciado por um cenário de crises econômicas, pelos impactos da pandemia da Covid-19 e pela estagnação no principal mecanismo de incentivo ao setor: o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial (PROADI).

Criado em 11 de outubro de 1985, o PROADI operava com um sistema de financiamento com juros de 3% ao ano. Os beneficiários eram empresas novas, em expansão (com aumento mínimo de 20% na capacidade produtiva) ou em recuperação (com atividades paralisadas ou alta ociosidade).
Em 2013, o programa passou por uma reformulação que não agradou ao setor industrial da época. A proposta era a mudança no valor do financiamento de parte do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) devido pelas empresas no programa. A definição foi por permitir até 75% do valor, o que desagradou ao empresariado.

PROEDI favorece a ampliação de mais uma indústria no RN. Foto: Carmem Felix/AssecomRN
Indústria – Foto: Carmem Felix/AssecomRN

Em 2019, o PROEDI (Programa de Estímulo ao Desenvolvimento Industrial) substituiu o PROADI como a principal política de incentivo industrial potiguar. O atual programa concede um crédito presumido do ICMS, que funciona como um redutor direto do imposto devido, podendo chegar a 95%.

Com isso, a lei que instituiu o PROEDI consolidou um novo modelo de incentivo à industrialização. A gestão dos recursos também mudou: enquanto no PROADI o dinheiro era depositado em uma conta especial e gerido pelo Estado, no PROEDI as empresas beneficiadas contribuem com um percentual do crédito presumido para fundos de desenvolvimento científico e comercial, fomentando outros setores da economia.

A retomada do setor começou a se consolidar justamente após a alteração no programa de incentivo. Nos últimos cinco anos, o número de empresas ligadas à indústria voltou a crescer de forma consistente. Dados da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (SEDEC) mostram que o número de empresas beneficiadas cresceu 164%, passando de 122 em 2019 para 322 atualmente.
No mesmo período, o programa viabilizou mais de 57 mil empregos diretos e terceirizados em todo o estado.

Para o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Alan Silveira, a evolução entre 2019 e 2024 comprova o papel estratégico do programa para o desenvolvimento econômico e a interiorização da indústria. “O programa fortalece o nosso parque industrial, amplia os postos de trabalho e garante a interiorização do desenvolvimento”, afirmou.

Ele destacou que houve um crescimento de 9,11% no número de empregos fora dos grandes polos, como Natal, Mossoró, Macaíba, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante. Em 2024, o setor salineiro também foi incorporado ao programa, reforçando uma atividade considerada estratégica para o estado.

Silveira afirmou ainda que o PROEDI coloca o Rio Grande do Norte em posição estratégica na disputa por investimentos no Nordeste. “O nosso programa é competitivo porque consegue reunir três fatores: interiorização, diversificação setorial e segurança jurídica”, disse.

Modernização

O titular da SEDEC ressalta que o programa garante previsibilidade e estabilidade normativa, pontos que diferenciam o modelo potiguar de iniciativas semelhantes em estados vizinhos, como o PRODEPE, de Pernambuco, ou o PROADE, da Paraíba.

Além disso, ele afirma que o governo estadual acompanha de perto os pleitos do setor industrial e já realizou atualizações recentes, como a inclusão da indústria salineira no rol de beneficiários.

Além dos incentivos fiscais, a gestão estadual aposta em ações complementares, como investimentos em infraestrutura, qualificação de mão de obra – a exemplo do programa Costura + RN, desenvolvido em parceria com o SENAI e empresas têxteis – e abertura de novos mercados internacionais. De janeiro a agosto de 2024, o estado exportou para 75 países, incluindo oito novos destinos.

“A nossa meta é ampliar o alcance do PROEDI como ferramenta central de atração de indústrias nos próximos anos. Queremos aproveitar o crescimento econômico nacional, a abertura de rotas comerciais e o avanço de novos distritos industriais nos municípios para consolidar o Rio Grande do Norte como destino atrativo para investimentos produtivos”, destacou o secretário.

Alan Silveira assume a pasta do Desenvolvimento Econômico – Foto: Carmem Felix

O impacto do PROEDI também aparece nos postos de trabalho. O número de empregos diretos cresceu de 21,8 mil em 2019 para 33,2 mil em junho de 2024. Incluindo os terceirizados, o programa responde por 57 mil empregos, o equivalente a 65% da força de trabalho industrial do estado, segundo a SEDEC.

Além da capital, o programa tem ampliado sua presença no interior. Em agosto de 2024, Natal liderava com 46 empresas e 12,7 mil empregos, seguida por Mossoró (56 empresas e 6,9 mil empregos) e pelo eixo Macaíba, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante (92 empresas e 14,1 mil empregos). Os demais municípios concentravam 108 empresas e 22 mil empregos, evidenciando o papel do PROEDI na descentralização econômica.

Na divisão por mesorregiões, o Leste Potiguar concentra a maioria dos empreendimentos (167 empresas), seguido pelo Oeste (76), Central (43) e Agreste (14). Em termos de empregos, o Leste responde por 68% dos postos, e o Oeste por 17%, totalizando 85% das vagas geradas pelo programa.

Segundo a Secretaria Estadual de Fazenda (SEFAZ), com dados de 2020 a 2024, a renúncia fiscal do PROEDI já soma R$ 3,1 bilhões. Somente em 2024, o valor foi de R$ 758 milhões. A empresa com o maior valor de renúncia é a Guararapes Confecções, que já R$ 452 milhões no período.

Segundo a SEFAZ, o PROEDI tem sido aprimorado para atender às demandas do setor produtivo. Recentemente, para mitigar os impactos do “tarifaço de Trump”, o programa foi ajustado para ampliar o incentivo às empresas potiguares que exportam para os Estados Unidos.

PROEDI é decisivo para a indústria do RN, afirma presidente da FIERN

O presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN), Roberto Serquiz, defendeu o PROEDI como uma política pública decisiva para a economia potiguar. Segundo ele, o mecanismo é fundamental para a manutenção de empresas e a geração de empregos.

Serquiz afirmou que, sem o PROEDI, muitas empresas teriam dificuldades para manter suas portas abertas e preservar empregos. “A indústria é um dos setores que mais gera postos de trabalho formais no Estado e, graças também ao PROEDI, o RN conseguiu atrair investimentos, segurar empreendimentos em atividade e ampliar a produção em segmentos estratégicos como alimentos, bebidas, cerâmica e têxtil”, disse.

De acordo com Roberto Serquiz, presidente da Fiern, o Atlas da Indústria Potiguar permite monitorar as tendências do setor. Foto: Fiern
Roberto Serquiz, presidente da Fiern Foto: Fiern

Roberto Serquiz finalizou sua avaliação reforçando que o PROEDI deve ser visto como investimento, e não apenas como uma renúncia fiscal. Ele argumentou que cada real de incentivo concedido retorna para a sociedade em forma de geração de empregos, impostos indiretos e dinamismo econômico. “Os benefícios do programa se refletem em aumento da arrecadação do ICMS na cadeia produtiva e no fortalecimento do mercado. O PROEDI é um instrumento de política industrial e de desenvolvimento regional”, concluiu.

Um dos reflexos mais notáveis da expansão industrial potiguar foi a interiorização da atividade econômica. Em 1985, apenas 69 municípios potiguares possuíam pelo menos uma indústria. Em 2024, esse número subiu para 161, o que significa que o setor industrial agora está presente em mais de 96% dos 167 municípios do Rio Grande do Norte.

Apesar da ampla capilaridade, a maior parte da atividade industrial ainda se concentra nos dois principais centros urbanos do estado. Juntas, as cidades de Natal e Mossoró somam 2.325 indústrias, o que corresponde a 41,19% de todos os estabelecimentos registrados em 2024.

Natal sempre foi o principal polo industrial potiguar, mas sua participação proporcional no total de indústrias vem diminuindo. Em 1985, a capital concentrava 45% de toda a indústria do estado. Em 2024, essa proporção caiu para 27,41%. A queda percentual não significa um encolhimento do setor na cidade, que cresceu de 383 para 1.547 indústrias no período.

Mossoró, por sua vez, está consolidada como o segundo maior polo industrial do estado. A cidade saltou de 132 indústrias em 1985 para 778 em 2024. Já Parnamirim viu seu número de indústrias saltar de 55 para 531, tornando-se o terceiro maior polo do estado. Macaíba, com polo industrial às margens da BR-304, passou de 17 para 232 indústrias.

LINHA DO TEMPO DO PROGRAMA DE INCENTIVO INDUSTRIAL

11 de outubro de 1985 – Criação do PROADI: A Lei n.º 5.397 instituiu o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial do Rio Grande do Norte.

26 de abril de 1995 – Consolidação do PROADI: A Lei n.º 6.768 alterou e consolidou a legislação do PROADI, revogando as leis anteriores (n.º 5.397/85, 5.411/85, 5.957/89 e 6.307/92).

18 de setembro de 1997 – Criação do PROGÁS: A Lei n.º 7.059 criou o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial das Atividades do Polo Gás-Sal.

17 de novembro de 1997 – Novo PROADI: A Lei n.º 7.075 estabeleceu nova versão do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial do Estado do RN.

27 de setembro de 2005 – Prorrogação do PROADI: A Lei nº 8.698 alterou a Lei nº 7.075/97, permitindo que empresas solicitassem prorrogação do benefício por até 10 anos, mediante compromisso de ampliar a capacidade de produção em pelo menos 25%.

12 de novembro de 2015 – Extensão do Prazo: A Lei nº 9.995 facultou às empresas beneficiárias solicitar a prorrogação da data limite de fruição dos incentivos até 31 de dezembro de 2040.

20 de julho de 2017 – RN GÁS MAIS: A Lei nº 10.222 alterou a Lei nº 7.059/97 (PROGÁS), renomeando-o para Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial pelo Incentivo do Gás Natural.

26 de dezembro de 2019 – PROEDI substitui PROADI: A Lei nº 10.640 instituiu o Programa de Estímulo ao Desenvolvimento Industrial do Rio Grande do Norte, concedendo crédito presumido de ICMS de até 95%. A lei revogou expressamente a Lei nº 7.075/97 que tratava do PROADI.

27 de dezembro de 2019 – Regulamentação do PROEDI: O Decreto nº 29.420 regulamentou a Lei nº 10.640/2019 e revogou os regulamentos anteriores do PROADI (Decretos de 1997 e 2000).

21 de setembro de 2020 – Ampliação de Segmentos: O Decreto nº 29.991 alterou o Decreto nº 29.420/2019, incluindo a indústria têxtil, confecções de vestuários, acessórios e calçados como segmento industrial relevante para fins de incentivo.

8 de outubro de 2021 – Revisão de Critérios: O Decreto nº 30.960 alterou o cálculo de empregos no PROEDI, passando de 0,5% para cada 250 empregos para 0,1% para cada 50 empregos, além de adicionar regras específicas para atividades industriais associadas à mineração.

5 de maio de 2022 – Criação do CIPRO: A Portaria nº 30/2022-GS da SEDEC estabeleceu o Comitê Interno do PROEDI para analisar pedidos de concessão e revisão dos benefícios do programa.

27 de dezembro de 2024 – Inclusão da Indústria Salineira: O Decreto nº 34.264/2024 incluiu a indústria salineira no Programa de Estímulo ao Desenvolvimento Industrial (PROEDI).