Entre janeiro de 2019 e agosto de 2021, aumento no preço da carne no Brasil foi de 69,9% – Foto: Carlos Azevedo/NOVO Notícias

A alta do preço da carne bovina tem obrigado à população brasileira a procurar alternativas para manter uma proteína em sua dieta. Só entre os meses de janeiro de 2019 e agosto de 2021, por exemplo, o aumento acumulado no preço no Brasil foi de 69,9%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Isso fez com que o país alcançasse o menor nível de consumo de carne bovina nos últimos 26 anos, aponta a série histórica da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com início em 1996.

Essas estatísticas apontam para uma mudança no comportamento do natalense. Apesar de não ter números específicos acerca do aumento pela procura de carnes suína, de frango e enlatados, a Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte (Assurn) confirma que essa mudança é sentida no dia a dia, em conversas com clientes e donos de supermercados.

É o que confirma Mário Teixeira, que trabalha com venda de carnes em feiras livres de Natal há mais de 25 anos. “Como o preço da carne aumentou muito os clientes têm procurado alternativas, como o osso. E apesar de a gente se adaptar trazendo produtos mais em conta, estamos sofrendo com a queda na venda desses produtos também.”

Comercializando carne em feiras livres há 25 anos, Mário Teixeira confirma procura por ossos – Foto: Carlos Azevedo/NOVO Notícias

Cliente de Mário há muitos anos, Vânia esteve na banca durante a feira do Nova Natal, neste domingo (28), mas acabou desistindo de comprar quando viu os preços. “Infelizmente hoje a gente não tem mais condições de comprar 1kg de carne. A gente vem hoje é um preço, quando vem amanhã está custando duas vezes mais. Corremos pra o peixe, pra o frango, mas está tudo muito caro. A gente só pode comer ovo, e muito mal”, desabafa a dona de casa.

Mas alguns indícios apontam uma discreta mudança na situação, porém pouco sentida no bolso do consumidor. Segundo um levantamento feito pelo Instituto Municipal de Proteção e Defesa do Consumidor de Natal (Procon Natal), na capital potiguar as carnes sofreram uma alta de 0,60% no mês de outubro. Contudo, o preço da carne de primeira caiu 1,17% e o da carne de segunda 6,20%.

Adaptações do mercado para atender os clientes

Na tentativa de atender o cliente de alguma forma, produtores e empresas têm buscado saídas para, também, sobreviverem à crise econômica que assola o país neste momento.

Maísa Silva, diretora comercial da Alimenti, empresa responsável pelo abastecimento de mais de 1.200 comércios em Natal e Região Metropolitana, explica que a empresa criou dois produtos quando percebeu a necessidades do cliente final.

Ela explica que além das carnes suína, de frango, ovos e ossos, a procura por produtos embutidos à base de proteínas e miúdos também cresceu consideravelmente. Com isso, a pedido de seus clientes, a empresa começou a vender carne de charque à base de osso e osso para sopa, que não faziam parte do catálogo.

Bandeja de carne com sensor e alarme em algumas cidades

No entendimento geral, a carne acabou se tornando artigo de luxo, inclusive alguns supermercados Brasil afora resolveram reforçar a segurança dos produtos colocando sensores, alarmes e até embalagens vazias na tentativa de evitar furtos.

Para o Procon do estado de São Paulo, onde viralizaram alguns desses casos, a prática não é ilegal, mas pode ser interpretada como discriminatória.

Já em Fortaleza (CE), açougues já vendem osso de primeira e de segunda, sendo o primeiro um pouco mais carnudo, e o de segunda mais raspado. De acordo com os comerciantes, o valor varia de R$5 a R$ 12.

Já em Natal, apesar de todo o contexto atual, o Procon afirma não ter recebido reclamações de práticas abusivas acerca da venda de carnes, e que não existe uma legislação específica para isso.