Luto não se supera, se atravessa: especialistas orientam como lidar com a saudade no Dia de Finados

Cotidiano

Cuidados Finados: “Luto não se supera, se atravessa”, diz especialista

Luto não se supera, se atravessa: especialistas orientam como lidar com a saudade no Dia de Finados

por: NOVO Notícias

Publicado 29 de outubro de 2025 às 11:27

O Dia de Finados, celebrado neste domingo (2), costuma ser um momento de pausas e memórias. Para muitas famílias, a data é um convite ao recolhimento e reflexão; para outras, representa a intensificação da saudade pela ausência de alguém que partiu. Especialistas alertam que o luto é um processo natural, legítimo e necessário — mas ainda é pouco compreendido pela sociedade.

“Acreditar que o luto é uma fraqueza é um grande equívoco. Ele é um testemunho do vínculo e do amor. Só sente quem ama”, lembra a psicóloga Millena Câmara, referência em perdas e luto no Brasil e fundadora do Núcleo Apego e Perdas. Millena integrou equipes de apoio psicológico aos familiares de vítimas dos acidentes da Gol (2006) e TAM (2007), duas das maiores tragédias aéreas do país.

Segundo ela, ainda existe pressão social para “seguir em frente rapidamente” após uma perda, o que pode ser destrutivo emocionalmente. “Quando o luto é silenciado ou reprimido, pode gerar adoecimento, como depressão, ansiedade, fobias e transtornos emocionais duradouros. Elaborar a dor, com acolhimento e respeito, é muito mais saudável do que esconder o que se sente”, explica.

As psicólogas Millena Câmara, Kátia Bezerra e Marianna Mendes integram a equipe do Núcleo Apego e Perdas

As psicólogas Kátia Bezerra e Marianna Mendes, que também integram a equipe do Núcleo, reforçam que não existe um tempo ideal para viver o luto. Cada pessoa reage de forma única diante de uma perda. “É preciso validar sentimentos. Chorar, sentir saudade, ter dias de tristeza — tudo isso é parte de um processo emocional que merece cuidado, não julgamento”, afirma Kátia.

Já para Marianna Mendes, datas como o Dia de Finados costumam intensificar as emoções, pois reavivam memórias. “É natural sentir a falta, desejar ter aquela pessoa por perto mais uma vez. O importante é transformar a dor em afeto e ressignificar a ausência”, diz.

Sinais de alerta no luto prolongado

Embora a dor seja natural, as especialistas indicam que é necessário ficar atento a alguns comportamentos que de forma prolongada que podem indicar sofrimento psicológico significativo: isolamento social extremo, culpa excessiva ou pensamentos autodestrutivos, irritabilidade intensa ou explosões emocionais, insônia prolongada ou perda de apetite, dificuldade para realizar atividades simples do cotidiano, Nesses casos, as profissionais sugerem que buscar apoio psicológico é fundamental.

Como acolher a si e aos outros no luto

No período de Finados — quando memórias e emoções se intensificam — gestos de acolhimento fazem diferença. Especialistas do Núcleo Apego e Perdas indicam caminhos possíveis:
-Fale sobre quem partiu: manter lembranças vivas ajuda no processo de elaboração.
-Respeite seu tempo: não existe prazo para a saudade diminuir.
-Evite frases prontas: “seja forte” ou “é hora de superar” não ajudam.
-Permita-se viver rituais: visitar um cemitério, fazer uma oração ou acender uma vela pode trazer conforto.
-Peça ajuda: quando a dor pesa demais, conversar com alguém de confiança ou um profissional é essencial.

“Não se trata de esquecer quem partiu. Isso jamais vai acontecer. Trata-se de aprender a caminhar com uma nova forma de presença: a presença da memória e do afeto”, finaliza Millena Câmara.

Com 14 anos de atuação, o Núcleo Apego e Perdas é referência no Rio Grande do Norte e no Brasil no acompanhamento emocional de pessoas e famílias enlutadas. A instituição oferece atendimento psicológico individual, grupos terapêuticos e formações especializadas para profissionais e organizações.

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