Um estudo analisou 20 anos de alterações na região e constatou que a área ocupada pela planta aumentou mais de seis vezes entre 2004 e 2024, saltando de 70 para 435 hectares

Cotidiano

Ambiente Expansão das algarobas ameaça biodiversidade nas Dunas do Rosado, aponta estudo

Pesquisa aponta aumento de 70 para 435 hectares da espécie invasora em 20 anos, causando redução da vegetação nativa e alterando a dinâmica das dunas

por: NOVO Notícias

Publicado 6 de dezembro de 2025 às 14:38

A expansão acelerada da algaroba (Neltuma juliflora), uma espécie vegetal exótica invasora, tem afetado a paisagem da Área de Proteção Ambiental das Dunas do Rosado (APADR), entre os municípios de Areia Branca e Porto do Mangue, no litoral Norte do Rio Grande do Norte. Um estudo científico analisou 20 anos de alterações na região e constatou que a área ocupada pela planta aumentou mais de seis vezes entre 2004 e 2024, saltando de 70 para 435 hectares.

O estudo, conduzido por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), alerta para perdas ambientais significativas. A invasão tem reduzido áreas de vegetação nativa, como caatinga e restinga, e alterado a dinâmica dos sedimentos das dunas.

Área de Proteção Ambiental das Dunas do Rosado (APADR), entre os municípios de Areia Branca e Porto do Mangue – Foto: Reprodução/

Os pesquisadores apontam, ainda, que a algaroba libera toxinas que matam outras plantas nativas e consome grandes quantidades de água subterrânea. O estudo projeta que, se a tendência continuar, a algaroba poderá ocupar entre 700 e 800 hectares em dez anos.

Os autores do estudo defendem a necessidade urgente de estratégias de gestão integrada entre autoridades públicas e institutos de pesquisa. As propostas incluem manejo sustentável, controle mecânico e o envolvimento da comunidade local para mitigar os impactos da invasão e preservar o ecossistema frágil da Costa Branca.

Áreas de concentração da algaroba ao longo das Dunas do Rosário – Fonte: Google Earth.

Origem da espécie e processo de invasão

A algaroba é originária de regiões áridas das Américas e foi introduzida no Nordeste como alternativa de sombra e forragem. Adaptada ao clima semiárido, tornou-se uma espécie com alta capacidade de dispersão.

O estudo indica que, nas Dunas do Rosado, a expansão começou a partir de áreas ocupadas por moradores das comunidades próximas. De lá, sementes passaram a ser transportadas por animais e pelo vento, alcançando setores de restinga e dunas móveis.

Algaroba (Neltuma juliflora)

Riscos futuros e projeções

Com base no ritmo de avanço observado entre 2004 e 2024 — cerca de 18 hectares ao ano — os pesquisadores estimam que, mantidas as condições atuais, a espécie poderá ocupar entre 525 e 615 hectares até 2029 e chegar a 700–800 hectares até 2034. As projeções consideram pressões ambientais como secas prolongadas, mudanças climáticas e presença de animais de pastoreio.

O avanço sobre zonas de interesse ecológico representa risco para a estabilidade do geossistema das dunas e para a conectividade entre o sertão e a zona costeira, característica marcante da APADR.

O estudo, publicado na editora acadêmica suíça MDPI, é assinado pelos pesquisadores Marcelo Alves de Souza, Vanderli Alves dos Santos, Marco Túlio Mendonça Diniz, Daví do Vale Lopes, José Yure Gomes dos Santos e Paulo Victor do Nascimento Araújo.

Gestão e alternativas de controle

A erradicação completa da espécie é considerada inviável, mas o estudo aponta que o manejo integrado pode reduzir a pressão da algaroba sobre a vegetação nativa. Entre as ações indicadas estão: corte seletivo em áreas prioritárias, coleta de vagens, isolamento de setores invadidos, restauração com espécies nativas e uso da madeira e das vagens como recursos econômicos.

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