Em se tratando de pioneirismo, o Rio Grande do Norte já tem certo histórico em algumas áreas. Seja na política, com o primeiro voto feminino (Celina Guimarães) ou a primeira prefeita eleita (Alzira Soriano), seja com movimentos sociais, mais especificamente o feminismo com Nísia Floresta, seja no esporte, com o futebol feminino. E é exatamente na categoria esportiva que o Estado possui a única mulher que possui licença emitida pela CBF. Carioca de nascimento, Denise Fernandes (37) vive em Natal há 14 anos e confessa que nunca sequer passou pela cabeça a trabalhar com futebol.
“A ideia inicial não era trabalhar com o futebol em si, mas sim com a formação de professores na educação física de maneira geral. Ainda relutei bastante em trabalhar com o futebol feminino por saber das dificuldades que ainda encontramos. Mas aí acabei me permitindo.”.
Desde que terminou a sua graduação em Educação Física, as primeiras experiências de Denise surgiram com o futebol masculino, mesmo que ela tenha sido atleta e depois auxiliar no Futsal Feminino da Unisuam de Bonsucesso, no Rio de Janeiro. Foi quando ela, de fato, começou a trabalhar a ideia de entrar de cabeça na modalidade.
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“A partir do momento que abracei a ideia, decidi investir na minha formação. Não adianta ser somente ex-atleta ou ter a graduação, isso não bastava. O mercado exige que tenhamos as licenças para que nosso trabalho seja em alto nível. Então comecei nesse processo.”
O primeiro passo de Denise foi tirar a Licença C, a qual habilita trabalhar com atletas até o sub15 e em ambientes de escolas de futebol ou similares. A partir daí, ela também fez o curso de Analista de Desempenho – por mais que não seja a área de interesse, confessa – e por fim, no ano passado, conseguiu a Licença B que permite a treinadora a trabalhar com a categoria de base em clubes.
Hoje com o seu projeto de desenvolvimento da categoria (DF Futebol Feminino), em parceria com a PSG Academy, Denise conta que a região nordeste e o próprio estado do Rio Grande do Norte contêm várias atletas em potencial e que, para ter um trabalho consolidado, é necessário que os clubes também sejam abertos e passem a olhar com outros olhos.
“O cenário é muito favorável no Nordeste. Temos a Antônia que começou nos Jogos Escolares. Dentro do PSG temos atletas que já estão fora do país. Apesar de que já é sabido que é um processo muito enraizado, mas é preciso que os clubes abracem a ideia. As grandes marcas estão investindo e já perceberam que é um mercado do qual precisa ser explorado. O que dificulta muito no RN é que os dois clubes não estão na Série A e isso é um fator de não levar a modalidade a serio. Não é apenas colocar a marca no campeonato, ceder bolas e não fazer mais nada. O trabalho tem que ser a longo prazo.”.
Assim como as grandes potencias da categoria, Denise também fala que o processo também se deve fazer presente nas escolas, onde sempre tem que estar alinhado com o esporte.
“Se as escolas valorizassem o esporte no geral, como deve ser com os profissionais dentro das escolas, conseguiríamos evoluir. Quanto mais qualificados os profissionais, mais falaríamos a mesma língua.”.
Apesar de seguir com o seu trabalho na categoria de base, Denise não para. Sua pretensão ainda este ano é possuir a sua Licença A. Caso não consiga, tentará para o ano que vem.
