Lagoa de captação do Santarém transbordou e água invadiu casas localizadas no entorno – Foto: Dayvissom Melo/NOVO Notícias
Cama, guarda-roupas, fogão, geladeira… Nada restou na casa de Larissa da Silva após as chuvas intensas que caíram em Natal nos últimos dias. A costureira de 25 anos morava em frente à lagoa de captação do Santarém, localizada no bairro Nossa Senhora da Apresentação, na Zona Norte, junto com o seu filho de 1 ano e seu esposo. A lagoa foi uma das 12 que transbordaram apenas na capital potiguar.
“A gente não imaginou que ia chegar à proporção que chegou. A minha casa tem uma paredinha que sempre evitava que a água passasse quando a lagoa transbordava. Mas no domingo (26), voltou a chover e o volume de água aumentou absurdamente. Aí não teve jeito. A água passou por cima da minha paredinha e entrou em casa”, contou.
No momento do desespero, Larissa conta que só conseguiu salvar algumas roupas. “A gente saiu catando o que tinha no chão. Mas a água subiu tanto que chegou um momento em que a cama começou a boiar. Pra você ter uma noção, eu em pé com meu filho no colo, a água batia nos pés dele”, lembrou a costureira, que contou ainda que criava dois gatos e um cachorro. “O cachorro tá com a gente, mas os gatos sumiram. Espero que eles tenham conseguido fugir”, disse emocionada.
A mãe de Larissa, que morava na casa vizinha à dela com mais dois filhos, um de 17 e outro de 19 anos, também passou sufoco. “Minha mãe estava dormindo e não percebeu que a casa estava alagada. Quem acordou ela foi minha irmã. E o pior: ela tava com o celular carregando em cima da cama. Mais um pouco e tinha acontecido uma tragédia”, relatou a filha.
A família de Larissa perdeu móveis, eletrodomésticos e só conseguiu “salvar” algumas roupas. A mãe dela, que é sua vizinha, também passou sufoco – Foto: Dayvissom Melo/NOVO Notícias
Os minutos de sufoco, que mais pareceram horas, fizeram Larissa pensar no pior. “Eu só pensava em Pernambuco. Em toda a tragédia que aconteceu lá. E em como eu ia me salvar com o meu filho, porque eu não ia morrer com ele nos meus braços. Ia subir em algum canto, sei lá, mas ali eu não ficava”, contou.
Larissa, o filho, o esposo, a mãe e os irmãos foram resgatados pelo Corpo de Bombeiros Militar. Eles foram para a casa de uma parente, mas na manhã seguinte foram para um dos abrigos montados pela Prefeitura do Natal na Escola Municipal de Nossa Senhora da Apresentação. Lá, a família recebeu doações de roupas, produtos de higiene e alimentos.
“Eu já passei mal duas vezes pensando em como vai ser. Vamos receber auxílio-moradia, mas como vou morar de aluguel se eu não tenho nada para levar? Vou cozinhar como? Vou dormir aonde? Onde vou colocar minhas roupas?”, disse Larissa. “O pessoal diz: ‘quem quiser, já pode ir pra casa’. Mas eu vou pra onde?”, completou.
A casa da costureira foi interditada pela Defesa Civil. Ela diz que não volta mais para lá, e pretende morar bem longe de qualquer lagoa. “Eu morava em outra casa, de aluguel, na mesma Travessa. só que lá não enche [de água]. Aí eu comprei essa ao lado da minha mãe e aconteceu isso. Agora eu quero morar bem distante de qualquer lagoa”, afirmou.
Outra família que precisou ir para o abrigo foi a de Donis Silva, de 34 anos. Ele contou que a casa, localizada no bairro Potengi, onde mora com o filho de 4 anos e a esposa, já ficou alagada duas vezes somente este ano.
“Minha esposa é de Marcelino Vieira e eu sou da Bahia. Aí a gente morava em São Paulo e veio para Natal há 8 meses. Essa foi a segunda enchente que nós pegamos em um intervalo de 4 meses aqui. A primeira foi em maio”, explicou Donis.
O azulejista conta que não chegou a perder tudo que tinha em casa, mas poucas coisas sobraram. “A gente já vinha abalado da outra enchente, aí dessa vez perdemos roupas, calçados, ferramentas de trabalho”, contou.
A família também foi retirada da casa pelos Bombeiros. “A água já tava em 1 metro dentro de casa. Aí o Corpo de Bombeiros foi e tirou a gente de lá”, relatou. Donis e a família também estão abrigados na Escola Municipal Nossa Senhora da Apresentação. “A gente é bem tratado aqui, mas ficamos com aquela vontade de voltar pra casa. Pro nosso canto. Como não temos família perto, o único lugar que temos pra voltar é lá”, disse.
A Prefeitura do Natal abriu 100 vagas em abrigos organizados em escolas do município para acolher e dar assistência a população que teve seus imóveis atingidos pelas fortes chuvas. Atualmente, 19 pessoas estão sendo acolhidas – 15 adultos e 4 crianças.
A Secretaria Municipal do Trabalho e Assistência Social (Semtas) está coordenando o recebimento de doações, que podem ser feitas no Palácio dos Esportes (Petrópolis), no Ginásio Nélio Dias (Gramoré) e na sede da Semtas, na avenida Nevaldo Rocha.
Podem ser doados alimentos não perecíveis, itens de higiene pessoal, roupas, fraldas geriátricas e infantis, material de limpeza e roupas de cama e banho, que deverão ser entregues no período entre 8h às 18h.
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