“O jornalismo é uma das profissões mais perigosas do mundo.” Essa é a uma das afirmações feitas pelo jornalista e professor Rogério Christofoletti, no livro “Ética no Jornalismo”, com base nos dados divulgador por organizações internacionais, como a “Repórteres Sem Fronteiras” que divulga, em tempo real, os ataques contra jornalistas e colaboradores de meios. 

De acordo com o barômetro da violência, desde 1˚ de janeiro de 2022, no mundo, 29 jornalistas e dois colaboradores de meios foram assassinados; 483 jornalistas e 18 colaboradores de meios estão atualmente presos. Esses dados não incluem, por exemplo, o caso do jornalista inglês, colaborador do The Guardian que percorre a Amazônia para a produção de um livro, Dom Philips, que está desaparecido desde o dia 5 de junho.

O desaparecimento de Dom Philips e do indigenista Bruno Pereira aconteceu na mesma semana em que o Brasil celebra o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa, 7 de junho, e é uma oportunidade para, como sugere Christofoletti, utilizarmos o jornalismo para refletir sobre a conduta humana, o que significa avaliar limites de ação. 

No livro, Christofoletti leva o leitor a refletir sobre a ética como algo muito mais complexo do que um manual de conduta, tendo em vista o fato de que cada atividade é orientada por valores que a guiam ao fim a que se destina. Esse propósito, observa o autor, se entrelaça aos valores do profissional em atividade que deve, em um constante processo de reflexão, tomar decisões que fazem do jornalismo um “exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter”. 

Christofoletti destaca que o fato de o jornalismo ser uma atividade que contrapõe diversos interesses da sociedade, auxiliando na compreensão do mundo na medida em que revela dados da realidade e interliga fatos desconexos, significa dizer que a mentira e a ilusão são o contrário do que ele deve ser. Mais do que isso, o professor enfatiza que ao se impor no pensamento social, o jornalismo tem um poder que inevitavelmente implica responsabilidade.

“Um ato não se encerra nele mesmo. Há consequências. (…). O Jornalismo é um campo que dissemina afirmações, reforça preconceitos, forma opiniões e organiza (ou tenta organizar) o cotidiano das pessoas. Por isso, a responsabilidade cresce no exercício dessa profissão, já que há muita coisa em jogo.”

As buscas por Dom Philips e Bruno Pereira são acompanhadas por todo o mundo, na esperança de que o caso não incremente o barômetro da violência contra jornalistas e colaboradores de meios e, ao mesmo tempo, reforce a importância dos questionamentos que nos levam a refletir sobre a necessidades de regras que impõem limites, mas também garantem direitos.

Entenda o caso

O jornalista inglês Dom Philips e o indigenista Bruno Pereira foram vistos pela última vez no Vale do Javari, considerada a segunda maior Terra Indígena do país, localizada no oeste do Amazonas, em 5 de junho de 2022, quando, segundo O Estado de S. Paulo, o indigenista levava à Polícia Federal um novo conjunto de diários, fotos, vídeos e informações georreferenciadas feitos pela equipe de vigilância organizada por ele. Envolvido em todas as mais recentes operações contra o crime ambiental nessa região do Alto Solimões, Bruno Pereira era o responsável por ensinar integrantes de tribos indígenas a usar tecnologia que auxilia o trabalho de vigilância feito na Amazônia e que, subsidiando a fiscalização oficial, tem imposto derrotas aos crimes cometidos na floresta, pelo uso de uma pedagogia que segue a técnica de trabalho utilizada pelos Médicos sem Fronteiras, na África. Polícia Federal, Marinha, Força Nacional e Funai integram operação de buscas pelos desaparecidos.