Uma das coisas mais importantes que o desenvolvimento da tecnologia favoreceu foi a descentralização da informação de poucos oligopólios de comunicação. A mudança na forma de disseminação da informação possibilitou o exercício mais fidedigno do jornalismo enquanto ferramenta à serviço da sociedade e não do empregador, devido à amplificação da participação  de uma pluralidade de vozes no debate público. 

Porém, como tudo na vida, há ônus e bônus. Com tantas vozes falando ao mesmo tempo, é cada vez mais desafiador para o leitor fazer uma seleção criteriosa da informação que consome, tendo em vista que essas vozes atuam para conquistar as mentes e os corações daqueles que os ouvem, como explica Clóvis Rossi no livro “O que é jornalismo”, da Editora Brasiliense.

A respeito da batalha pela conquista de leitores, telespectadores e ouvintes, Rossi destaca que opinião não é jornalismo. Enquanto a opinião é, segundo ele, puramente um comentário, geralmente baseado nas fontes da cabeça de quem fala, o exercício jornalístico é o de mediação entre o fato e a versão, a partir  da “coleta de informações precisas, acuradas e, dentro do possível, aprofundadas”. 

O autor destaca que “a função de um jornal ou de qualquer publicação não é apresentar textos de grande originalidade, mas simplesmente apresentar bons textos, com muita informação e rigorosa exatidão.” A partir daí, fica mais fácil para o leitor definir o caminho a seguir para separar uma coisa da outra. 

Ao ler informações sem indicação de fonte, falas repetitivas, sem profundidade e que demonstram ser nada mais do reprodução de declarações muitas vezes questionáveis, o leitor saberá que está diante de um conteúdo que distorce o trabalho jornalístico. A norma básica, central, enfatiza Clóvis Rossi, diz que toda reportagem deve responder a seis perguntas fundamentais: quem, quando, onde, como,  por que e o quê. 

Além disso, ele ainda observa que, apesar de parecer inacreditável, não são raros os casos de estudantes e profissionais “que não conseguem escrever corretamente uma única frase, por mais curta que seja”. Exemplos não nos faltam. O combate ao despreparo, destaca Rossi, depende do interesse do jornalista que tem como principal arma “ler o que for possível a respeito da matéria que irá tratar ( …) e evitar, assim, uma excessiva superficialidade”, tema já tratado por aqui.

Vale destacar que ao diferenciar o comentário puro do jornalismo, Rossi não defende a pretensa objetividade do jornalismo. Ao contrário. Ele reconhece que a subjetividade orienta as escolhas daquele que produz o conteúdo, mas ressalta que isso não exime o jornalista de ser o mais objetivo possível. “Para retratar os fatos com fidelidade, reproduzindo a forma em que ocorreram, bem como suas circunstâncias e repercussões, o jornalista deve procurar vê-los com distanciamento e frieza, o que não significa apatia e desinteresse”, afirma.

E, neste ponto, voltamos aos aspectos éticos sobre a postura de quem não deve desprezar nenhuma versão e não ter preconceitos, se quiser acertar ou, ao menos, errar menos. O resto, fica a cargo do leitor.