As pessoas que se permitem encarar verdadeiramente as experiências de perda e luto que a vida impõe tendem a perceber o tempo e as oportunidades de maneira muito mais intensa do que aquelas que reprimem, ou seja, recalcam os sentimentos que daí surgem.

Isso se dá porque a falsa sensação de que teremos todo o tempo do mundo para fazer, ser e estar se desfaz na mesma medida em que aquilo ou aquele que se tinha à disposição deixa de existir, ao menos de forma tangível. É preciso ressignificar não só o objeto da perda, mas a nós mesmos.

As certezas absolutas desaparecem e, no lugar delas, questionamentos como o feito pelo escritor e palestrante norte-americano Tony Robbins passam a se repetir de maneira insistente na memória: “Quando é que agora vai ser um bom momento para fazer o que você precisa?”

Aos que recalcam os sentimentos que brotam em decorrência do luto, muitas vezes, fica a percepção de desespero por parte daqueles assumem a postura de urgência diante dos fatos e atos cotidianos. E, sim, essa noção está correta, pois há um desespero que move essas pessoas a viver intensamente cada momento e cada encontro que a vida ainda proporciona. Não há tempo a perder!

Mesmo que soe como clichê, é fato que não sabemos quanto tempo temos e aqueles que encararam as perdas de frente têm a consciência de que aquele encontro pode não se repetir. Então, por que viver sempre entre quem somos e quem sabemos que podemos ser?

Hal Elrod diz, em “O milagre da manhã”, que “muitas vezes, sabemos o que é preciso fazer, apenas não fazemos de modo consistente.” Encontramos desculpas para absolutamente tudo, sempre acreditando que o amanhã vai chegar, mesmo que a pandemia da Covid-19, por exemplo, tenha escancarado a impossibilidade de controle sobre coisas mínimas.

Fazer o melhor que podemos nas condições existentes é o pensamento norteador de todos os dias, em todos os aspectos das nossas vidas. Todos. O lazer não pode ficar para depois, assim como o investimento no desenvolvimento pessoal e profissional deve acontecer de maneira concomitante ao tempo dedicado ao prazer. 

Resolver demandas da vida adulta não deve ser sinônimo de austeridade em todos os momentos. Não! Mesmo com pouco tempo, entre um compromisso e outro no Rio de Janeiro, visitei exposições, museus, prédios e lugares históricos, pontos turísticos e do cotidiano da cidade, apreciei a culinária local e, principalmente, reencontrei amigos. Conheci mais coisas sobre a cidade, sobre as pessoas, mas, principalmente, sobre mim mesma.

Igreja de Nossa Senhora da Candelária, palco da chacina da Candelária (1993), vista do Centro Cultural do Banco do Brasil, no centro do Rio de Janeiro

As conexões estabelecidas ao longo da vida que são reais viabilizam os reencontros como se nenhum intervalo tivesse existido. Somos seres sociais e precisamos do outro, sempre. Afinal, os intervalos que valem ser vividos são aqueles que, entre um compromisso e outro, resultam em passeios que desbravam caminhos, reforçam laços e constroem novas memórias. 

O tempo que temos é o agora.