Outro dia,  um dos palestrantes de um evento realizado por aí e que era desconhecido por mim até aquele momento, foi o protagonista de dois lançamentos: de um livro (escrito por um ghostwriter 🤦🏻‍♀️) e de um aplicativo, acredite você, de resumo de livros, uma nova versão do chamado verniz cultural. Afinal, todos querem falar sobre tudo, sem se aprofundar em nada. Se é possível dizer que conhece a obra por ter ouvido alguém que fez um resumo, pra que ler, né? Gente… 

O resultado desse tipo de subterfúgio é que os envolvidos nunca compreenderão o conteúdo nem o que é vivenciar uma experiência como, por exemplo,  de uma maratona para a qual é preciso planejamento, tempo de preparação, erros e acertos, até que o dia da prova chegue e o resultado almejado seja alcançado ou não. E se você acredita que o mundo é dos espertos, lamento informar, mas o mundo é liderado pelas pessoas que pensam e criam, ou seja, as que fazem os resumos, não as que os consomem. 

Ao ficar preso ao que os outros dizem, por preguiça de encarar o trabalho que dá pensar, delegamos a terceiros o poder de definir e delinear estratégias, fazer escolhas, enfim, exercer a autonomia que é individual e intransferível, para virar fantoche.

A construção de informação e conhecimento nunca seguirá a lógica da comida instantânea. Quem vende essa ideia está ganhando, mas quem a compra perde tempo, dinheiro e, sobretudo, autonomia de descobrir, desenvolver e ser quem é. 

Informação é um produto caro e refinado. Não por acaso é o maior ativo em circulação no mundo contemporâneo. Mas não se engane. Não é qualquer tipo de informação, mas sim aquela que demanda inferências e tratamento especializado, por ter diferencial. 

Por isso, a informação de qualidade não pode ser tratada como commodity que, no ambiente jornalístico, por exemplo, pode ser identificada nos releases. Não, eles não são descartáveis, ao contrário disso, mas são resultado do desejo de divulgação de quem os envia, portanto, um instrumento de marketing, e, ouso dizer, que quase nunca estão focados no interesse público, razão de ser do jornalismo.

Por isso, volto à intertextualidade, que nada mais é do que uma conversa entre textos, sejam eles verbais ou não-verbais. Se quiser formar suas próprias opiniões, ao invés de adotar aquelas que chegam prontas como um sanduíche de sabor questionável, vá às fontes primárias, que são aquelas que  refinam os dados coletados pela primeira vez. 

Se um texto é baseado em um artigo, por que se restringir à interpretação de terceiros sobre um texto que nem sabemos se foi lido? O texto é de quem lê! Portanto, se você não leu, não assistiu, não experimentou, como pode ter uma opinião própria? Não tem. Simples assim. E isso vale para tudo. 

Por isso, se ler um texto ou livro que apresenta uma série de referências, não fique nas interpretações do autor, vá atrás do que dizem as fontes mencionadas, caso o tema seja do seu interesse. Assistiu a um filme ou a uma série que apresenta referências que você não conhece, vá atrás de conhecê-las. E não se espante se descobrir que nem sempre, ou quase nunca, a história original está de acordo com o relatado no resumo com o qual você teve contato.

Neste momento você deve estar se perguntando o por quê de ter esse trabalho todo de ler e pesquisar se já tem alguém que fez isso no seu lugar. Ora, se informação é poder, por que delegar a terceiros a formação do seu pensamento crítico? Mas a escolha é sua. Livre arbítrio, sempre.