Parque eólico em Jandaíra (RN) - Foto: Carlos Azevedo/NOVO Notícias
Os atrasos nos leilões para a construção de linhas de transmissão de energia têm preocupado o setor de energias renováveis no Rio Grande do Norte. A falta de infraestrutura já afeta a produção elétrica e pode comprometer a implantação de novos projetos eólicos e solares.
Atualmente, o Brasil conta com 179,3 mil quilômetros de linhas de transmissão, que integram o sistema nacional. No entanto, a capacidade de escoamento da energia gerada não acompanha o crescimento da produção, sobretudo nas fontes renováveis. Isso tem provocado cortes na geração, chamados tecnicamente de curtailment, quando há mais energia disponível do que o sistema consegue absorver.
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão ligado ao Ministério das Minas e Energia, o país precisará construir pelo menos 15 mil quilômetros de novas linhas e instalar 16 subestações até 2032. O investimento estimado é de R$ 50 bilhões para atender à expansão da geração renovável nas regiões Norte e Nordeste.
Levantamento da EPE apontou sobrecarga nas Linhas de Transmissão Lagoa Nova II, Paraíso e Paraíso e Campina Grande II, que interligam Paraíba e o Rio Grande do Norte.
O Rio Grande do Norte tem 309 empreendimentos de energia eólica em operação, que geram 10,1 GW de energia. Além disso, há outros 18 parques em construção e 54 projetos aguardando início das obras. Estes projetos devem ampliar em 2,9 GW a capacidade de produção do estado.
As reduções na geração são determinadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A limitação no escoamento tem motivado pedidos de ressarcimento à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Procurado pelo NOVO, o ONS não respondeu aos questionamentos sobre os cortes até o fechamento desta edição.
Em estudo publicado em fevereiro, o Itaú BBA apontou que o Ceará liderou os cortes na geração eólica em 2024, com 15%, seguido pelo Rio Grande do Norte, com 14%. Já na solar fotovoltaica, Minas Gerais (21%) e Bahia (20%) concentraram os principais impactos.
Para o ex-senador e ex-presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, o contingenciamento na transmissão é reflexo de uma estratégia que prioriza segurança, mas compromete o desempenho do setor. Segundo ele, mais de 1,4 mil usinas solares e eólicas operam hoje com cortes que chegam a 70% da capacidade.
“Há soluções de curto, médio e longo prazo para o curtailment, mas nenhuma delas parece ser prioridade do Ministério de Minas e Energia”, afirmou.
De acordo com a Aneel, o Nordeste possui mais de 71 mil megawatts (MW) de projetos autorizados para construção, sendo 19 mil MW de origem eólica e 52,2 mil MW solar.
No entanto, a demora na ampliação da rede de transmissão gera um estrangulamento que freia o avanço do setor, aponta a Associação Potiguar de Energias Renováveis (APER). A entidade informou que parques eólicos têm sido desligados nos fins de semana por falta de capacidade para escoar a energia gerada.
“Reforçamos a necessidade de ações urgentes para viabilizar a expansão da infraestrutura elétrica, garantindo que o potencial eólico do estado continue sendo aproveitado de forma eficiente e sustentável”, afirmou Williman Oliveira, presidente da APER.
O Ministério de Minas e Energia informou que os leilões de transmissão têm ocorrido regularmente. O leilão mais recente, realizado este ano, destinou R$ 18 bilhões à ampliação da rede no norte da região Nordeste. Para 2025, está previsto um novo leilão em outubro, com aporte de R$ 7 bilhões.
Em 2026, diz o Ministério, devem ser realizados dois leilões adicionais, com instalações ainda em fase de definição.
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