Um estudo analisou 20 anos de alterações na região e constatou que a área ocupada pela planta aumentou mais de seis vezes entre 2004 e 2024, saltando de 70 para 435 hectares
A expansão acelerada da algaroba (Neltuma juliflora), uma espécie vegetal exótica invasora, tem afetado a paisagem da Área de Proteção Ambiental das Dunas do Rosado (APADR), entre os municípios de Areia Branca e Porto do Mangue, no litoral Norte do Rio Grande do Norte. Um estudo científico analisou 20 anos de alterações na região e constatou que a área ocupada pela planta aumentou mais de seis vezes entre 2004 e 2024, saltando de 70 para 435 hectares.
O estudo, conduzido por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), alerta para perdas ambientais significativas. A invasão tem reduzido áreas de vegetação nativa, como caatinga e restinga, e alterado a dinâmica dos sedimentos das dunas.

Os pesquisadores apontam, ainda, que a algaroba libera toxinas que matam outras plantas nativas e consome grandes quantidades de água subterrânea. O estudo projeta que, se a tendência continuar, a algaroba poderá ocupar entre 700 e 800 hectares em dez anos.
Os autores do estudo defendem a necessidade urgente de estratégias de gestão integrada entre autoridades públicas e institutos de pesquisa. As propostas incluem manejo sustentável, controle mecânico e o envolvimento da comunidade local para mitigar os impactos da invasão e preservar o ecossistema frágil da Costa Branca.

Origem da espécie e processo de invasão
A algaroba é originária de regiões áridas das Américas e foi introduzida no Nordeste como alternativa de sombra e forragem. Adaptada ao clima semiárido, tornou-se uma espécie com alta capacidade de dispersão.
O estudo indica que, nas Dunas do Rosado, a expansão começou a partir de áreas ocupadas por moradores das comunidades próximas. De lá, sementes passaram a ser transportadas por animais e pelo vento, alcançando setores de restinga e dunas móveis.

Riscos futuros e projeções
Com base no ritmo de avanço observado entre 2004 e 2024 — cerca de 18 hectares ao ano — os pesquisadores estimam que, mantidas as condições atuais, a espécie poderá ocupar entre 525 e 615 hectares até 2029 e chegar a 700–800 hectares até 2034. As projeções consideram pressões ambientais como secas prolongadas, mudanças climáticas e presença de animais de pastoreio.
O avanço sobre zonas de interesse ecológico representa risco para a estabilidade do geossistema das dunas e para a conectividade entre o sertão e a zona costeira, característica marcante da APADR.
O estudo, publicado na editora acadêmica suíça MDPI, é assinado pelos pesquisadores Marcelo Alves de Souza, Vanderli Alves dos Santos, Marco Túlio Mendonça Diniz, Daví do Vale Lopes, José Yure Gomes dos Santos e Paulo Victor do Nascimento Araújo.
Gestão e alternativas de controle
A erradicação completa da espécie é considerada inviável, mas o estudo aponta que o manejo integrado pode reduzir a pressão da algaroba sobre a vegetação nativa. Entre as ações indicadas estão: corte seletivo em áreas prioritárias, coleta de vagens, isolamento de setores invadidos, restauração com espécies nativas e uso da madeira e das vagens como recursos econômicos.
Receba notícias em primeira mão pelo Whatsapp
Assine nosso canal no Telegram
Siga o NOVO no Instagram
Siga o NOVO no Twitter
Acompanhe o NOVO no Facebook
Acompanhe o NOVO Notícias no Google Notícias