Luiz Filippe Muniz é CEO da Travus Capital e consultor em alavancagem patrimonial e gestão financeira estratégica. Foto: Cedida

Luiz Filippe Muniz é CEO da Travus Capital e consultor em alavancagem patrimonial e gestão financeira estratégica. Foto: Cedida

Opinião

Artigo Liquidação do Banco Master: o que realmente acontece com o dinheiro dos investidores

A resposta exige clareza, responsabilidade e visão realista sobre o Sistema Financeiro Nacional e é exatamente isso que este artigo pretende entregar

por: Luiz Filippe Muniz, CEO da Travus Capital

Publicado 2 de dezembro de 2025 às 15:37

A liquidação extrajudicial do Banco Master pegou muitos investidores de surpresa e, como sempre acontece nesses momentos, as dúvidas se espalham mais rápido do que as respostas. A pergunta
que mais tenho recebido nas últimas horas é simples e direta: “vou receber meu dinheiro?”

A resposta exige clareza, responsabilidade e visão realista sobre o Sistema Financeiro Nacional e é
exatamente isso que este artigo pretende entregar.

Primeiro ponto: o FGC não é dinheiro sem fim!

Muita gente associa automaticamente a sigla FGC (Fundo Garantidor de Créditos) à ideia de “garantia total”. Mas essa interpretação é equivocada. Entenda abaixo:

O FGC tem regras, limites e, sobretudo, um orçamento finito.
As regras são:

  • Garantia máxima de R$ 250 mil por CPF ou CNPJ e por instituição;
  • Limite global de até R$ 1 milhão a cada 4 anos;
  • Cobertura para: conta corrente, poupança, CDB, RDB, LCI, LCA, LC, LH

Agora, o dado mais importante:

  • A dívida estimada do Banco Master passa de R$ 62,2 bilhões.
  • O FGC, no último balanço, tinha R$ 122 bilhões em caixa.

Ou seja: um único banco pequeno consome metade da capacidade do Fundo. Isso revela algo que poucos têm coragem de dizer: O FGC não foi feito para cobrir uma sequência de grandes quebras, e não tem caixa ilimitado.

Se uma segunda instituição quebrar dentro dos próximos quatro anos, o impacto pode ser significativo, e a capacidade de pagamento, comprometida.

Segundo ponto: risco sempre existiu (e estava no papel). É comum ouvir agora: “Mas eu não sabia que tinha risco. Era renda fixa!”

Aqui está a verdade:

  • Todas as emissões do Banco Master sempre tiveram rating de crédito (nota de crédito),
    classificado como “alto risco”.
  • Toda vez que você investe, você preenche seu perfil de investidor, que formaliza que você compreende o risco.
  • Corretoras, plataformas e assessores deixam claro por escrito se o ativo é de baixo, médio ou alto risco.

Portanto, não é honesto culpar o mercado. O risco estava lá. O aviso estava lá. A classificação estava lá. Renda fixa não é sinônimo de “risco zero”. Ela só significa “previsibilidade de fluxo”, desde que o emissor exista e consiga liquidar o pagamento para o investidor.

O que aprender com a quebra do Banco Master? Crises bancárias são dolorosas, mas também são professoras eficientes.

Aqui estão as lições mais valiosas, vamos aprender:

  1. Acompanhe o Índice de Basiléia dos bancos, é o principal indicador de solvência. Mostra o quanto o banco tem de capital próprio em relação ao que ele empresta.
    – Quanto maior o índice, mais saudável o banco.
    – Quanto menor, maior o risco de liquidez e quebra.
    O Master já apresentava deterioração há anos.

2. Consulte sempre o rating de crédito.
Não importe o nome da instituição, o tamanho da marca ou a taxa oferecida.
Rating ruim = risco elevado.
E taxa alta não é “oportunidade”, é compensação por risco.

3. Diversifique — sempre.
Nenhuma pessoa deve ter uma fatia relevante do patrimônio em um único banco, especialmente
em bancos médios.
Diversificar é a primeira linha de defesa do patrimônio.

4. Entenda antes de investir
Investir é um dos caminhos mais libertadores da vida.
Mas libertação exige consciência.

A regra é simples: Se você não entende o risco, você não está investindo, está apostando.

Conclusão: a confiança no sistema não pode ser ingênua. O Sistema Financeiro Nacional é robusto, mas não é infalível. O FGC é importante, mas não é infinito.

E a segurança dos seus investimentos depende muito mais de conhecimento, análise e prudência
do que de promessas de garantia.

Investir continua sendo uma das ferramentas mais poderosas para construir patrimônio.
Mas, como tudo que gera liberdade, exige:

  • estudo
  • consciência
  • diversificação
  • e clareza sobre risco x retorno

No fim das contas, o investidor que entende é o investidor que sobrevive a esses ciclos.

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