Quase um terço dos vereadores de Natal deve se candidatar em 2026

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Eleições Quase um terço dos vereadores de Natal deve se candidatar em 2026

Movimento antecipa disputas, abre caminho para suplentes e acende debate sobre uso do mandato como “trampolim” político

por: NOVO Notícias

Publicado 17 de novembro de 2025 às 14:00

A Câmara Municipal de Natal pode viver, em 2026, o maior processo de rotatividade de cadeiras de sua história recente. Pelo menos sete dos 29 vereadores já aparece cotados para disputar vagas na Assembleia Legislativa (ALRN) ou na Câmara Federal, inaugurando uma movimentação que tende a redesenhar o Legislativo natalense antes mesmo do fim da atual legislatura.

Entre os nomes mais citados estão figuras de perfis distintos: desde veteranos, como o presidente da Casa, Eriko Jácome (PP), até parlamentares de primeiro mandato, caso de Anne Lagartixa (Solidariedade) e Thabatta Pimenta (PSOL). Também são apontados (ou se postam) como pré-candidatos Irapoã (Republicanos), Matheus Faustino (União Brasil), Camila Araújo (União), Léo Souza (Republicanos) e Samanda Alves (PT).

O movimento não é inédito: em 2022, dois vereadores conseguiram converter mandatos municipais em projeção estadual e federal — Paulinho Freire, eleito deputado federal, e Divaneide Basílio, eleita deputada estadual. Mas a quantidade de nomes colocados neste ciclo chama a atenção.

Os parlamentares que ocupam cargos no Poder Legislativo como vereadores não possuem a necessidade de desincompatibilização; eles podem concorrer a outros cargos sem precisar se afastar do mandato, desde que continuem exercendo suas funções normalmente.

Anne Lagartixa: “Como deputada, posso fugir das limitações do mandato municipal”

Em seu primeiro mandato, Anne Lagartixa admite que avalia disputar a Assembleia Legislativa. Ela afirma que a decisão “ainda não está tomada”, mas reconhece que a ampliação de espaço político pode potencializar o alcance de seu trabalho.

“Nosso mandato tem feito muito, mesmo com limitações. Acreditamos que como deputada temos mais possibilidades de ajudar nossa cidade e nosso Estado.”

Questionada sobre críticas ao uso do Legislativo municipal como trampolim, a vereadora diz desconhecer esse tipo de apontamento em relação ao seu nome.

“Meu mandato está nas ruas, 24 horas, fiscalizando e cobrando. O povo tem pedido nossa candidatura.”
Caso confirme a disputa, Anne afirma que suas bandeiras serão “justiça e igualdade”, mas admite frustração com entraves estruturais da Câmara, especialmente no primeiro ano sem acesso a emendas.

Eriko Jácome: “Será um sonho levar nossos projetos a todo o RN”

Presidente da Câmara, Eriko Jácome é apontado como um dos nomes mais competitivos da futura eleição. Ele confirma: “A intenção está confirmada. Meu nome tem aparecido bem nas pesquisas, e isso é fruto de uma atuação próxima da população.”

Sobre críticas de que vereadores buscam saltar para outras esferas antes de completar os mandatos, ele rebate: “Não compartilho dessa visão. Muitos querem ampliar suas bandeiras e fazer mais, e não abandonar a missão local.”

Eriko também minimiza riscos de instabilidade interna com possíveis licenças: “A Câmara está preparada para todos os cenários. Os suplentes têm respaldo popular e muita disposição para contribuir.”
Caso eleito, ele pretende defender prioritariamente a saúde, área em que atua desde antes da política por razões pessoais: “Perdi minha mãe para o câncer. Essa luta é de vida.”

Irapoã: “Quem concorrer em 2026 vai precisar se virar nos 30”
O vereador Irapoã (Republicanos) enxerga o movimento como natural: “É democrático. Os vereadores desejam representar além da cidade.”

Ele pondera, porém, que a Câmara já vive um ciclo de renovação significativo desde 2020, quando metade das cadeiras mudou de mãos.

“Não devemos ter uma renovação muito maior do que essa, porque muitos suplentes são ex-vereadores.” Sondado para disputar em 2026, ele diz que “foi ventilada uma possibilidade”, mas afirma que o foco atual segue no mandato.

“Os parlamentares têm muitas demandas. Quem decidir concorrer terá que se virar nos 30.”

Léo Souza: “A política vive uma mudança geracional, não há freio nesse processo”
Também em primeiro mandato, Léo Souza (Republicanos) adota postura mais cautelosa. Ele respeita a movimentação dos colegas, mas alerta que ainda é cedo: “É a primeira eleição dentro do meu mandato, então qualquer previsão seria ansiosa.”

Léo tem apostado em uma agenda legislativa rígida para evitar dispersão: “Sem agenda, o mandato fica batendo em vários temas sem resolver nada.”

Ele também avalia que a “dança das cadeiras” reflete uma transformação maior no eleitorado: “Vejo uma renovação de comportamento eleitoral, de buscar quem realmente entrega.”

Sobre seu futuro, evita cravar: “Até aqui, estamos focados na nossa agenda e nas prioridades do mandato.”

Matheus Faustino evita antecipar debate eleitoral
O vereador do União Brasil foi o único que preferiu não comentar cenários ou possibilidades para 2026, afirmando que não deseja “tirar o foco” das votações em curso, especialmente o processo de cassação da vereadora Brisa Bracchi.

Movimento não é isolado

O sociólogo e cientista político Homero Costa, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, avalia que o movimento precoce observado na Câmara de Natal não é isolado.

“Isso ocorre em capitais de todo o país, onde há maior relevância eleitoral que pode impulsionar candidatos a deputado estadual ou federal”, disse Costa.

Para ele, o ponto central é compreender como esses nomes constroem suas candidaturas: “Não basta propor projetos. É preciso construir redes de apoio. E no Brasil, a cultura do favor e do débito político ainda tem enorme peso.”

Segundo o cientista político, a maior parte da população não acompanha a atividade legislativa com profundidade — como número de projetos apresentados, discutidos ou aprovados —, o que reforça práticas de troca de favores como critério de decisão eleitoral.

Homero, porém, esclarece que o movimento não indica crise do Legislativo municipal: “Não creio que haja desgaste específico da política local. Os parlamentos têm baixa credibilidade em geral.”

Sobre riscos à governabilidade, o professor minimiza: “Mesmo que vários saiam, os suplentes assumem. Não vejo mudança substancial na correlação de forças ou no andamento legislativo.”Quanto ao uso do mandato municipal como trampolim, Homero pondera: “É uma possibilidade para alguns. Mas o pulo do trampolim nem sempre dá certo.”

Ele também destaca que é cedo para projetar cenários eleitorais: “Eleições têm imprevisibilidade. Não dá para antecipar cenários faltando quase um ano. O tempo é o senhor da razão.”

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