Alan Lacerda, Cientista político e professor da UFRN - Foto: Arquivo Pessoal
Aprovação da gestão Fátima Bezerra será fator-chave para a eleição, e a única via competitiva para a situação é o vice-governador Walter Alves, avalia Alan Lacerda, professor do Departamento de Políticas Públicas da UFRN
Publicado 22 de setembro de 2025 às 15:30
A pouco mais de um ano e meio das eleições de 2026, o cenário político do Rio Grande do Norte se desenha com uma aparente contradição: de um lado, a base governista se alinha em torno de uma candidatura única, a do secretário da Fazenda, Carlos Eduardo Xavier (PT); do outro, um campo oposicionista congestionado, com pelo menos cinco pré-candidatos, incluindo os senadores Rogério Marinho (PL) e Styvenson Valentim (PSDB), o prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra (União Brasil), e os ex-prefeitos de Natal Álvaro Dias (Republicanos) e Carlos Eduardo Alves (PDT). A pulverização, que historicamente favoreceria a situação, pode não ser o fator determinante para o resultado, segundo o cientista político Alan Lacerda, professor do Departamento de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Para Lacerda, a força da oposição no momento atual não reside na sua capacidade de convergência, mas sim na fragilidade da avaliação do governo Fátima Bezerra. Com a aprovação da governadora girando em torno de um terço do eleitorado, abre-se uma janela de oportunidade para que um nome da oposição vença, mesmo que o campo situacionista permaneça unido.
Em sua análise, a insistência em Carlos Eduardo Xavier pode ser prejudicial, e o caminho mais viável seria a candidatura do hoje vice-governador Walter Alves (MDB), que assumirá o comando do Executivo quando Fátima se desincompatibilizar para disputar o Senado.
Nesta entrevista, o professor Alan Lacerda aprofunda sua análise sobre a dinâmica entre os blocos, as chances reais dos candidatos e a baixa influência das eleições municipais no pleito estadual.
Entrevista | Alan Lacerda, cientista político e professor da UFRN
Novo Notícias: Como o senhor analisa o atual quadro, com um campo oposicionista fragmentado em contraponto a uma candidatura governista aparentemente unificada em torno de Carlos Eduardo Xavier?
Alan Lacerda: Eu não vejo como algo necessário para a vitória que a oposição tenha apenas um candidato. Como a avaliação do governo está baixa, com a aprovação da governadora Fátima girando em torno de um terço, com 34% ou 36% nas últimas pesquisas, a eleição se torna difícil para o campo governista, mesmo que ele se unifique. É uma eleição muito difícil para Carlos Eduardo Xavier, que é um técnico que, creio eu, nunca disputou uma eleição. Para ser sincero, não vejo Carlos Eduardo Xavier sendo eleito governador. Com esse cenário, a oposição pode ter dois candidatos. Um deles vai ao segundo turno e, dependendo do desempenho, pode até acontecer de os dois nomes da oposição irem para o segundo turno, deixando o candidato governista em terceiro lugar.
Novo: A pulverização de nomes na oposição beneficia automaticamente o candidato do governo? Quais os riscos e vantagens dessa estratégia para ambos os lados?
AL: O fato de a oposição estar fragmentada não quer dizer muita coisa. A questão central é se o governo está bem avaliado ou não, e o governo Fátima não está bem avaliado neste momento. O que está dando força à oposição é simplesmente o fato de o governo estar mal avaliado. Então, naturalmente, alguém da oposição tende a ganhar, exceto na hipótese de o vice-governador Walter Alves ser o candidato da situação.
Novo: Diante dos projetos de poder individuais e dos apelos por união, qual a probabilidade real de um consenso na oposição? O que seria necessário para que esses nomes convergissem?
AL: A convergência dos nomes da oposição depende de um afastamento entre a senadora Zenaide Maia e o prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra, que deve se candidatar a governador enquanto ela tentará a reeleição ao Senado. Esse afastamento, no entanto, também é improvável. Se isso ocorresse, sim, poderia haver uma unidade. Mas, de novo, não é estritamente necessário para a vitória da oposição que ela se unifique em torno de um único candidato. O fato de se unificar não quer dizer que você vai ser mais forte.
Novo: Como interpretar a insistência do ex-prefeito Álvaro Dias em sua pré-candidatura ao governo? Seria uma tática para “elevar o passe” e negociar outro espaço, como a vaga ao Senado ou uma vice?
AL: Eu não sei nem se é tão claro o caminho dele, mas creio que, na hipótese majoritária, o caminho seria acompanhar Styvenson na chapa para senador, com a compreensão de que Styvenson é o candidato prioritário por já estar no cargo. Esse é o problema: como Styvenson seria prioritário e não dando para eleger dois, Álvaro poderia ser derrotado. Outro caminho é ele ser o vice, tanto de Allyson como de Rogério Marinho. Esses são os caminhos abertos no lado majoritário. Não sei se ele está insistindo em ser o titular. Acho que ele coloca o nome nas pesquisas, e outras pessoas fazem isso por ele também, como forma de manter essa hipótese. No frigir dos ovos, acho bem difícil Álvaro Dias ser candidato a governador. Vejo um caminho de vice, senador ou, de repente, na proporcional, para deputado federal.
Novo: No lado governista, Carlos Eduardo Xavier parece um nome unânime. Contudo, em março o senhor fez uma análise conosco em que disse achar que o candidato da situação seria o vice-governador Walter Alves. O senhor ainda acredita nessa hipótese?
AL: Sim, eu mantenho meu juízo de que, no fim das contas, o candidato da situação vai ser o já governador Walter Alves, que hoje é vice. É evidente que, nessas tratativas, pode ser que sua intenção manifesta de não se candidatar ocorra e ele apenas conclua o mandato. Porém, acho pouco crível que os Alves, de volta à titularidade do governo estadual, simplesmente entreguem isso de volta sem tentar se manter. Acho pouco crível isso em termos dos Alves e do próprio MDB potiguar. Acredito que Walter será o governador em abril de 2026 e, logo em seguida, se candidatará à reeleição. E digo mais: como o governador no cargo tem certas vantagens, aparece muito e ganha saliência, eu diria que a única chance de o situacionismo estadual vencer a eleição é com ele mesmo, e aí Carlos Eduardo Xavier seria o vice dele. Esse é o acerto que eles já têm. Se Walter não for candidato e o nome for de fato o secretário Carlos Eduardo Xavier, antevejo que ele seria derrotado no primeiro ou no segundo turno.
Novo: Além das movimentações dos pré-candidatos, que outros fatores (como o resultado das eleições municipais de 2024 e as alianças nacionais) serão decisivos para definir o cenário de 2026?
AL: O resultado de 2024, os resultados municipais, não têm influência em 2026 no que toca à disputa majoritária. Existe uma relação, comprovada em trabalhos científicos, entre as eleições de prefeito e de deputado federal, mas das eleições de prefeito para governador não há. Você pode ver que o PT é sistematicamente fraco aqui na eleição de prefeito, mas elegeu и reelegeu Fátima, que teve percentuais elevados. O PT é fraco municipalmente, mas é forte no estado. Então, não há essa relação. Existe, sim, a questão nacional, de se colar em Lula. Agora, isso não quer dizer que o eleitor vai topar. O presidente Lula está bem avaliado no estado, com aprovação acima de 60%, e deve ganhar a eleição aqui. Mas o eleitor sabe separar as coisas, tanto é que a aprovação de Fátima é menor. Na campanha, pode-se tentar fazer essa vinculação, e certamente Fátima fará como candidata ao Senado, e Carlos Eduardo Xavier, se for o caso, também tentará. Mas o eleitor não é bobo, isso tem que ser algo bem trabalhado em termos de mensagem para dar certo.
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