O Projeto de Integração de Águas do Rio São Francisco (PISF) é a maior obra de infraestrutura hídrica do Brasil - Foto: Joana Lima/Assecom
As águas da transposição do projeto São Francisco chegaram na quarta-feira (13) ao território potiguar e seguiram caminho em direção a Jardim de Piranhas; serão beneficiados 22 municípios do Seridó e da região da Serra de Santana
Publicado 18 de agosto de 2025 às 14:30
Pela primeira vez desde que os açudes Itans e Gargalheiras foram construídos, há mais de 60 anos, uma série de ações governamentais avança para garantir o abastecimento de água de 22 municípios do Rio Grande do Norte, localizados no Seridó e na região da Serra de Santana.
Em dia histórico para a segurança hídrica das duas regiões, as águas da transposição do projeto São Francisco chegaram na quarta-feira (13) ao território potiguar e seguiram caminho em direção a Jardim de Piranhas. Daqui elas seguem pelo leito do Rio Piranhas/Açu para as barragens Oiticica e Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves.
O Projeto de Integração de Águas do Rio São Francisco (PISF) é a maior obra de infraestrutura hídrica do Brasil. São 477 quilômetros em dois eixos (Leste e Norte), e beneficiará 12 milhões de pessoas em 390 municípios dos estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba e Ceará. O Eixo Norte, que atende a região Seridó, traz água de Cabrobó (PE), passando por PB e CE até chegar ao RN. O volume do fluxo inicial das águas é de 2,95 m³/s com prioridade para abastecimento humano e agricultura familiar.
A água que começou a chegar ao RN vem das barragens Caiçara, Engenheiro Ávidos e São Gonçalo, na Paraíba. O destino final é a barragem Oiticica, no município de Jucurutu, que tem capacidade para 742 milhões de metros cúbicos e Armando Ribeiro, localizada entre os municípios de Assu, Itajá e São Rafael, com capacidade para 2,4 bilhões de metros cúbicos.

No primeiro momento, a água será usada para reforçar o abastecimento das cidades servidas pela adutora Manoel Torres: Caicó, Timbaúba dos Batistas, São Fernando e Jardim de Piranhas. Mais adiante vai ser distribuída para Currais Novos, Florânia, Cruzeta, Acari e São Vicente. Quando todas as adutoras do Projeto Seridó estiverem operando, a cobertura vai atingir todos os municípios da região.
“Mais do que segurança hídrica, que é fundamental para a saúde e para o desenvolvimento sustentável, as águas da transposição são sinônimo de esperança, trazem dignidade e sentimento de justiça social para nós, filhos do Nordeste, geram oportunidades no campo e na cidade”, observou a governadora Fátima Bezerra, que recebe o Ministro de Estado da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, na próxima terça-feira (19) em Jardim de Piranhas.

A governadora e o ministro vão ao ponto de captação de água usado pela Caern — trecho no rio Piranhas/Açu conhecido como “Sacaria” —, e onde a Companhia mantém uma estação de bombeamento que leva água para vários municípios da região através da adutora Manoel Torres.
Oficialmente, as águas da transposição chegaram ao Rio Grande do Norte às 23h53 do dia 13 de agosto de 2025, segundo registro do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, que monitora o trajeto, quilômetro a quilômetro, desde a abertura das comportas do açude São Gonçalo, em Sousa/PB.
Agricultor, 77 anos, proprietário do Sítio Riacho dos Couros, Sebastião Raimundo Maia, considera a chegada das águas do São Francisco como “a melhor notícia dos últimos tempos. No passado, sofremos muito sem água no rio. Agora, não! Isso pode atrair novos investimentos para nossa cidade”, destaca ele.
“Este marco representa o culminar de anos de trabalho, engenharia de grande escala e esforço conjunto entre governos e comunidades. A chegada da água simboliza segurança hídrica, fortalecimento da agricultura, geração de empregos e a concretização de um sonho antigo do povo nordestino”, reforça o engenheiro agrônomo e presidente do Instituto de Águas do Estado do Rio Grande do Norte (IGARN), Procópio Lucena.
ENTREVISTA: PAULO VARELLA – Secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do RN
Qual o significado desta água da Transposição para o estado?
São décadas de luta, de planejamento, de construção. Essa água, para chegar aqui, percorreu cerca de 412 quilômetros. Mas, essa é uma ação que foi planejada. Desde o ano passado, já tínhamos mandado o nosso plano operativo para que o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. A gestão de recursos hídricos é justamente você planejar e estar pronto para ter água, efetivamente.
Qual o efeito prático para o futuro?
O que nós estamos fazendo no Rio Grande do Norte é marchando na direção da nossa maioridade no que diz respeito à nossa segurança hídrica. Estamos passando, na verdade, a largos passos de uma gestão reativa para uma gestão preventiva e planejada. Para que a gente acabe com essa história de enfrentar a seca e a compreenda como um fenômeno natural; e possamos conviver com esse clima de maneira que nós tenhamos água mesmo nas épocas de estiagem que são naturais, que são normais. Então, a partir de agora, é a primeira água que chega de forma sistemática, planejada, já com a Transposição no seu efetivo funcionamento. São as primeiras águas que chegam dentro dessa perspectiva. O que se somará, a partir de abril do ano que vem, com a outra ponta da Transposição que chegará lá em Major Sales (RN).
E qual a situação dessa outra frente de obra da Transposição?
O túnel de Major Sales, dos 6.500 metros que precisam ser perfurados montanha adentro, já perfuramos 5.500 metros. A obra está se fazendo e teremos água no Rio Grande do Norte também no ano que vem. Então, estaremos preparados, mesmo que o ano que vem seja um ano difícil.

E o que está planejado para uso desta água?
Não basta trazer essa água do São Francisco para cá. Seria insano trazer água dessa distância para deixá-la parada dentro dos açudes. O que vai ser feito dessa água? Esse é o grande desafio que temos nos preparado para poder responder. Água por quê? Água para quê? Água para quem? Então, temos a conclusão da Barragem Oiticica, e agora as obras da adutora do Seridó, que mostram um planejamento de um governo que está preocupado não somente em trazer água, mas fazer com que ela chegue aqui e chegue à casa das pessoas. Essa água virá para abastecimento humano, em primeiro lugar, por óbvio. A partir do primeiro semestre do ano que vem, essa parte da adutora Seridó, que sai lá da Armando Ribeiro Gonçalves e, portanto, está ligada com a Barragem Oiticica, que por sua vez está ligada com à Transposição. Do ponto de vista de abastecimento, no semiárido, temos 100% de garantia no que diz respeito à fonte de água. Então, saindo lá da Armando Ribeiro Gonçalves, passando por Jucurutu, Florânia, São Vicente, Cruzeta, Corrais Novos e Acari, as gerações que se seguem vão saber que havia desabastecimento apenas por livros de História.
E há outras obras que se somam à Transposição?
O planejamento não para por aí. O projeto quanto à parte que vai para a serra já está pronto, assim como o Seridó Sul, cujo projeto também está pronto. A governadora Fátima está lutando para conseguir colocar no PAC também, para que tenhamos todo o Seridó com 100% de garantia.
E tem custo essa água?
Evidentemente que tem custos para você trazer uma gota d’água lá do São Francisco para cá. Conseguimos também uma negociação fantástica aqui pelo Rio Grande do Norte. Esse foi o prestígio, evidentemente, da governadora Fátima. Teremos três anos onde não vai precisar pagar essa água. Então, a população fique tranquila aqui para enfrentar essa sequência, nesse momento difícil, inclusive.
Essa água vai chegar, mas não vai ter custos financeiros aqui para o estado, ainda. Teremos três anos aí para que a gente se planeje, se prepare para quando chegar a época, então, a gente iniciar efetivamente o que está planejado do ponto de vista de sustentabilidade financeira para essa obra. A água vai chegar no momento ímpar. No momento, efetivamente, que a gente precisa dela.
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