No interior do Rio Grande do Norte, o barulho das máquinas de costura se mistura aos sonhos de mulheres que, entre tecidos e moldes, estão redesenhando suas vidas e comunidades. Com nomes como Maria, Joselma, Tânia ou Rita, elas fazem parte de uma silenciosa revolução econômica e social que vem ganhando força: o empreendedorismo feminino de base local e solidária.
Impulsionadas por programas como o Costura + RN, iniciativa do Governo do Estado em parceria com o SENAI, centenas de mulheres têm acesso à formação técnica, maquinário e orientação empreendedora. O foco vai além do simples aprendizado de corte e costura: trata-se de formar lideranças femininas, estimular a autonomia financeira e promover a dignidade por meio do trabalho.
“Antes, eu costurava só pra vizinha. Hoje tenho minha marca, minhas encomendas e ajudo outras mulheres do bairro a fazer o mesmo”, conta emocionada Francisca Dantas, 42, de São Gonçalo do Amarante, que viu sua vida mudar após participar do projeto. A história de Francisca é apenas uma entre tantas que revelam o impacto transformador do apoio à mulher empreendedora.
Dados do Sebrae apontam que 48% dos pequenos negócios no Brasil são liderados por mulheres, sendo que a maioria delas atua na informalidade, com baixa margem de lucro e grande sobrecarga de tarefas domésticas. Em estados como o Rio Grande do Norte, onde a desigualdade social atinge sobretudo as mulheres negras e periféricas, investir nelas é mais do que uma política de desenvolvimento: é uma estratégia de reparação histórica.
O modelo adotado por programas como o Costura + RN segue uma lógica de empreendedorismo social, que vai além do lucro. As formandas são incentivadas a criar redes colaborativas, participar de feiras solidárias, e até acessar crédito orientado para equipar seus pequenos ateliês. Algumas delas atuam de forma cooperada, fornecendo uniformes escolares e peças para pequenas confecções locais.
“Não se trata apenas de abrir um negócio. Trata-se de construir um futuro possível com base na solidariedade, no cuidado coletivo e na valorização do saber feminino”, explica a coordenadora do programa, Silvia Oliveira.
Além da capacitação, o programa articula com políticas públicas transversais: apoio do CRAS para identificação de famílias em situação de vulnerabilidade, parcerias com o Procon para educação financeira e até com a Secretaria de Políticas para as Mulheres.
Em tempos de crise econômica e alta informalidade, as mulheres empreendedoras da base da pirâmide se tornam pilares invisíveis da economia popular. Elas cuidam dos filhos, gerenciam suas casas, criam produtos e, muitas vezes, sustentam famílias inteiras com renda gerada por atividades que o mercado tradicional não valoriza.
O empreendedorismo feminino, especialmente o social, precisa deixar de ser apenas pauta de campanhas pontuais e entrar de vez na agenda de desenvolvimento nacional. “É preciso olhar para essas mulheres como agentes econômicas legítimas, com direito a crédito, proteção previdenciária, mercado garantido e visibilidade”, defende a socióloga e pesquisadora da UFRN, Mariana Lima.
Em 2025, o Costura + RN deve chegar a 30 municípios, priorizando comunidades quilombolas, indígenas e assentamentos rurais. A meta é formar mais de 1.000 mulheres até o fim do ano. Para muitas delas, o diploma de costureira é mais do que um certificado: é o passaporte para um novo lugar no mundo.
Enquanto a máquina de costura segue seu ritmo no interior potiguar, a esperança também se entrelaça com cada ponto. No silêncio da madrugada ou no calor das oficinas comunitárias, mulheres seguem tecendo um futuro mais justo – com agulha, linha e coragem.
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